São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Enquadrado, PT faz defesa de Sarney por "governabilidade"

Petistas agora dizem que senador não é responsável por "14 anos de atos secretos"

Após ter pedido a licença de Sarney, partido recua diante da ameaça de perder o apoio dos líderes do PMDB no Senado e na eleição de 2010

Lula Marques/Folha Imagem
O senador Aloizio Mercadante (SP), líder do partido na Casa, durante discussão no plenário

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de ter sido enquadrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os senadores do PT liderados por Aloizio Mercadante (SP) se revezaram por três horas e meia no plenário para defender que a aliança com o PMDB é fundamental para garantir a governabilidade, isentar o senador José Sarney (PMDB-AP) de ser o único responsável por "14 anos de atos secretos" e dizer que a crise política não pode se reduzir a uma única pessoa.
"Não há governabilidade sem aliança do PMDB. PSDB e DEM nunca nos deram espaço e é verdade que também nunca demos a eles, mas queremos ter aliança e queremos que ela continue", disse Mercadante.
Anteontem, o partido havia sugerido o afastamento de Sarney do cargo por 30 dias, mas recuou de formalizar o pedido como uma posição de bancada diante da ameaça do peemedebista de renunciar, o que, para o governo, representaria perder o apoio dos caciques do PMDB no Senado e na disputa de 2010.
Mercadante, líder do PT, usou no plenário a tática de jogar para outros senadores a responsabilidade pela crise.
"Disse publicamente e quero repetir da tribuna: não me parece uma boa atitude a que estamos assistindo, por exemplo, a atitude da bancada do DEM [de pedir afastamento de Sarney]. Estiveram na Primeira Secretaria durante todo o período em que estive nesta Casa. Como simplesmente se retirar neste momento e dizer que a responsabilidade da crise é exclusivamente do presidente? Isso não ajuda", disse.
Dez senadores apartearam Mercadante, a maioria do PT e no mesmo tom. O senador Delcídio Amaral (PT-MS), que empregou uma sobrinha de Sarney, foi um dos que o defendeu.
A bancada petista se reuniria com Lula ontem à noite. Desde o início da crise, Lula já defendeu Sarney cinco vezes. É a primeira vez que o presidente recebe a bancada para um jantar no Alvorada neste mandato.
Mercadante tentou em vários momentos explicar que a sugestão para que Sarney se afastasse não significava uma imposição e que o partido nunca defendeu a renúncia, mas uma licença. Ressaltou ainda que é preciso assegurar um clima político favorável a Sarney pela "importância histórica que ele tem na vida democrática do país e para esta Casa."
A instituição está mergulhada numa crise política e administrativa desde fevereiro, quando Sarney assumiu a presidência. Foram exonerados cinco diretores, entre eles Agaciel Maia, que era diretor-geral há 14 anos.
O presidente da Casa também passou por outros constrangimentos ao admitir que recebia auxílio-moradia irregularmente e que emprestou apartamento funcional a um ex-senador e a uma funcionária do gabinete, algo proibido.
Numa ação articulada, os caciques do PMDB não acompanharam o discurso. O líder do partido, Renan Calheiros (AL), passou pelo plenário, concedeu entrevistas e foi embora.
Coube ao senador Wellington Salgado (PMDB-MG) representar o partido. "Surge um movimento para tirar Sarney e quem vai assumir, o vice, do PSDB? Podemos reclamar, brigar e discutir, mas a partir desse momento temos de caminhar juntos", disse. Peemedebistas vêm tratando a defesa pela saída de Sarney como briga entre governo e oposição.
Considerado ao lado da senadora Marina Silva (PT-AC) a principal resistência no partido ao apoio a Sarney, o senador Tião Viana (AC) disse que "Lula terá que dividir com a bancada a responsabilidade" por essa decisão de manter Sarney no comando do Senado. "Não há dúvida de que existe esse risco para o governo [de prejudicar a governabilidade]. É esse o dilema que vive a bancada do PT."


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