São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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SUCESSÃO
Programa de governo de frente de oposição vai propor a criação de 5 milhões de empregos em quatro anos
Lula lança na 2ª sua "carta-compromisso"

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Lula, candidato petista, participa do programa de José Roberto Generoso, na rádio Atual, em São Paulo


PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

O programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva terá como um dos motes a defesa de um desenvolvimento equilibrado em três "esses": "solidário, sustentado e soberano".
Em fase final de elaboração, a versão mais enxuta do programa de governo será apresentada na segunda-feira e dará ênfase a questões como emprego, saúde e educação. Uma série de medidas para combater o desemprego será sugerida no texto, apelidado pelos partidos de "carta-compromisso".
A idéia é criar cerca de cinco milhões de postos de trabalho durante os quatro anos de um eventual governo Lula.
Entre as propostas estão o assentamento de 1 milhão de famílias para gerar empregos no campo, a implantação de um programa com objetivo de criar postos de trabalho para os jovens em áreas do setor público, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas e o incentivo à instalação de agroindústrias.
Os partidos querem também dobrar o valor real do salário mínimo, que hoje é de R$ 130, em dois anos. Os formuladores do programa, entretanto, ainda não definiram se o aumento se daria em dois anos ou em quatro.
"Nós queremos crescer com distribuição de renda", defende o coordenador do programa de governo, Marco Aurélio Garcia. "Mas vamos fazer isso com controle", completa.
Segundo ele, o aumento do mínimo não traria de volta a inflação. "O salário mínimo faz pressão sobre a indústria e sobre a oferta de alimentos. A indústria está trabalhando com capacidade ociosa. Além disso, haveria tempo para se aumentar a oferta de alimentos antes de ser colocado em prática esse reajuste", entende Garcia.

Organização
O documento está dividido em quatro partes e sua redação ficará pronta somente depois que Lula e seu vice, Leonel Brizola, derem os toques finais.
A introdução, intitulada de "A união fez a força", ressaltará o fato de que pela primeira vez a esquerda brasileira estará unida em torno de uma candidatura presidencial. Nas eleições de 89 e 94, o PDT lançou candidatura própria e, só no segundo turno, Brizola apoiou Lula.
A segunda parte é uma espécie de análise sobre a situação brasileira que vai trazer fortes críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso. O documento sustentará que o país perdeu a autonomia para definir as políticas econômicas e financeiras e ficou mais dependente do capital externo.
Os partidos defenderão que é preciso romper com esse modelo "conservador" substituindo "a política que estimula o desemprego pela política que cria empregos". O texto também vai dizer que a economia brasileira precisa voltar a ter um crescimento de, pelo menos, 6% ao ano.
Uma terceira parte da "carta-compromisso" vai apresentar medidas emergenciais que seriam tomadas nos primeiros seis meses de governo. Em seguida, virão os compromissos programáticos.
Na área da educação, a frente de esquerda quer a implantação progressiva das escolas de tempo integral inspiradas nos Cieps, modelo educacional idealizado por Darci Ribeiro e colocado em prática quando Brizola governou o Estado do Rio.
Outra medida é erradicar o analfabetismo em uma campanha nacional que contaria com a participação de estudantes secundaristas e universitários. O programa Bolsa Escola, implantado pela administração do governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), também constará do documento.
Na saúde, uma das propostas é fortalecer o SUS (Sistema Único de Saúde), investindo R$ 250 por habitante/ano. O texto também vai defender que se concentrem esforços na área da prevenção, por meio de um programa de médicos de família e agentes de saúde.



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