São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Estatal de energia elétrica deveria ser leiloada em novembro ou dezembro, segundo o governo federal
Governo adia a venda de Furnas para 99

CRISTIANA NEPOMUCENO
da Sucursal de Brasília

O governo só vai vender Furnas Centrais Elétricas S/A, responsável pelo fornecimento de 35% da energia consumida no país, no primeiro semestre de 99, informou ontem o ministro Raimundo Brito (Minas e Energia).
A venda da empresa vinha sendo anunciada pelo governo como uma das principais privatizações do setor elétrico este ano.
Segundo o cronograma do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), gestor do PND (Programa Nacional de Desestatização), Furnas deveria ser vendida entre outubro e dezembro deste ano.
Além de Furnas, constam do PND para serem vendidos em 98 o Sistema Isolado de Manaus, a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), a Eletronorte e a Gerasul (originária da Eletrosul), todas geradoras de energia. Até agora, nenhuma foi privatizada.
Em dezembro do ano passado, a previsão do Ministério do Planejamento era que a União arrecadaria US$ 32 bilhões este ano com as privatizações das empresas estatais, incluindo a venda da Telebrás e de empresas do setor elétrico.
O presidente do BNDES, André Lara Resende, admitiu recentemente que as privatizações do setor elétrico poderão atrasar.
Segundo ele, a venda de um grande número de ativos num curto período pode desvalorizar as empresas.
O diretor-executivo da Apine (Associação Brasileira das Empresas Produtoras Independente de Energia Elétrica), Cesar Roland, avalia que a compra de empresas de geração de energia exige gastos com desapropriação e com mecanismos de controle sobre o impacto ambiental, o que acaba desanimando os potenciais investidores.
Em maio passado, José Pio Borges, vice-presidente e diretor de Desestatização do BNDES, admitiu que o governo só deveria arrecadar entre US$ 20 bilhões e US$ 27 bilhões com a venda das estatais. Metade desses recursos seria obtida com a venda da participação da União na Telebrás.
'"Aquele número (US$ 32 bilhões) é muito otimista", disse Borges à época.
No mês passado, Lara Resende disse durante viagem à Europa que as privatizações renderiam até US$ 25 bilhões. Sem as privatizações do setor elétrico, pode ser que o governo não atinja esse valor.

"Lamento'
"Lamento não podermos privatizar Furnas este ano. Até pela complexidade da empresa, não queremos fazer nada com pressa", disse o ministro Brito.
Luiz Laércio Machado, presidente de Furnas, disse que a reestruturação societária da empresa será concluída até dezembro.
A estatal será dividida em duas empresas: uma de geração de energia e outra de transmissão. Depois, o governo terá de realizar uma assembléia de acionistas para oficializar a cisão da empresa.
Furnas tem hoje, segundo Machado, um patrimônio líquido de R$ 10 bilhões e gera uma receita líquida anual de R$ 3,8 bilhões.
Brito afirmou que o governo também irá atrasar a venda da Gerasul. No final de maio, Pio Borges, havia dito que o edital de privatização da empresa seria publicado no final do mês passado e que o leilão ocorreria este mês.
Brito disse ontem que a privatização da empresa só deve acontecer no final de agosto.
O governo quer vender a maior parte do Sistema Eletrobrás. Segundo Benedito Carraro, diretor de Planejamento da Eletrobrás, ficarão com a União a usina de Itaipu, uma das maiores empresas de geração de energia do mundo, as usinas de energia nuclear e 75% do sistema de transmissão.



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