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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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OPERAÇÃO EM XEQUE

45 consultores têm salários entre R$ 4.000 e R$ 10 mil; R$ 1 milhão é gasto com passagens e diárias

Fome Zero paga R$ 17 milhões em salários

MARTA SALOMON
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Consultores contratados com salário de R$ 10 mil -mais do que ganha o presidente da República- para cuidar da programação visual e mais de R$ 1 milhão em gastos com passagens e diárias são artigos de luxo da engrenagem do projeto Fome Zero, destinado a combater a pobreza.
Os detalhes aparecem nas 73 páginas do projeto de cooperação técnica com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) assinado pelo ministro José Graziano (Segurança Alimentar).
O documento alega que o recém-criado ministério de Graziano possui apenas 64 cargos em comissão (pessoas contratadas sem concurso público), "uma força de trabalho aquém do grande desafio que tem pela frente".
A parceria com a Unesco custará R$ 26,6 milhões (R$ 24 milhões já foram pagos). O valor representa mais de 40% do que foi transferido às famílias por meio do Cartão-Alimentação, de R$ 50 por mês (R$ 58,2 milhões até sexta).
O dinheiro sai do Orçamento da União. A contratação de pessoal (45 consultores) leva a maior parte: R$ 17,4 milhões. Os salários variam de R$ 4.000 a R$ 10 mil -esse último valor é pago a três consultores: dois especialistas em artes gráficas e um consultor que cuida do aperfeiçoamento da legislação de doação de alimentos.
Passagens e diárias consumirão R$ 1,1 milhão. O preço das passagens está tabelado em R$ 1.500, e das diárias, em R$ 200. Ou seja: para ficar um dia nas cidades mais pobres do país, o consultor ganha o mesmo que quatro famílias recebem por mês. O contrato também prevê compra de aparelhos.
Seminários e reuniões custarão mais R$ 1,5 milhão. Aí está incluída a contratação de empresa para organizar cinco eventos de divulgação de "experiências bem-sucedidas" (R$ 150 mil cada).
Um dos objetivos da parceria é acompanhar a criação de comitês gestores nas mil cidades onde o Fome Zero deverá ser implantado em 2003. Esses comitês escolherão as famílias e pelo controle social do programa. Também são tidos como agentes do desenvolvimento local. O processo deve treinar 30 mil pessoas, segundo o texto do projeto, e formular modelos de segurança alimentar e desenvolvimento local adaptado a cada região beneficiada.
A parceria acertada em março deste ano usa a experiência de um contrato anterior, assinado durante o governo FHC. No segundo mandato de FHC, a Unesco preparou projetos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável em 400 cidades entre as mais pobres do país. Cerca de 9.000 lideranças comunitárias foram treinadas no Programa Comunidade Ativa, abandonado por Lula.



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