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JANIO DE FREITAS
O paiol
É uma situação exótica, esta
em que proliferam notícias
com acusações ou suspeições
lançadas sobre altas figuras governamentais. Em suspense, o
governo Lula está sem condições
de assumir algum controle sobre
o manancial, e nem noção tem
do que essa jazida ainda seria
capaz de lhe aprontar.
A convicção mais ampla e coerente situa na documentação da
CPI do Banestado, de vida mais
longa que qualquer outra, os
dados básicos do noticiário que,
entre outros alvos, atingiu duplamente o Banco Central e,
agora, o Banco do Brasil. A CPI
é presidida por um peessedebista, senador Antero Paes de Barros, ex-jornalista, que não se
poupa quando há ocasião de investir contra adversários reais
ou possíveis. À posição de presidente, Antero Paes e Barros junta a condição de integrante
mais ativo da CPI, o que lhe dá
a posse simultânea e vasta de
documentação e informações
colhidas nos depoimentos. Daí
que colunistas e notícias o apontem, com freqüência, como fonte de "denúncias" originárias da
CPI do Banestado. Afirmá-lo
envolve certo risco. Negá-lo,
também.
Mas, se é o PSDB, com toda a
evidência, o maior beneficiário
e utilizador das notícias que
complicam o governo, disso decorre, também, uma contradição que tem exigido malabarismos das lideranças peessedebistas. Desgastar o governo, acossá-lo com a ameaça de CPI e de
recurso ao Ministério Público é
o papel de quem precisa ser oposição. Como, porém, as "denúncias" recaem sobre o setor econômico do governo, os peessedebistas estão divididos entre explorá-las, como oposição, e não
as fortalecer, para não criar riscos à política e às pessoas de Antonio Palocci e Henrique Meirelles, apoiados pelo PSDB.
O governo está refém da utilização de explosivos provenientes de uma CPI que é um paiol.
O PSDB, que dispõe do estoque
de explosivos, é refém da inconveniência de seu uso. Se de uma
parte os libera, de outra os esvazia, nisso produzindo espetáculos patéticos até, como o do judoca verbal Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, dando
golpes contra si mesmo para logo desdizer a força que dera a
alguma das "denúncias".
Subjacente ao exotismo político, há um problema bastante sério. Remessa de dinheiro ao exterior não é necessariamente ilegal. Compra de dólares em casa
de câmbio, idem. E as remessas
feitas por intermédio do Banestado e do processo chamado
CC5 não são todas ilegais. O
mesmo se pode dizer de contas
no exterior. Tais ressalvas, no
entanto, não parecem prevalecer em parte das notícias emanadas da CPI desde sua criação.
Disso resulta perigosa confusão
de conceitos pessoais, cujo risco,
muito acima da imprecisão informativa, é o de injustiças,
quem sabe, irreparáveis.
O Congresso está voltando à
ativa, ainda que a meia pressão.
Já é tempo de uma definição sobre a CPI do Banestado, que
não se encerra, nem se acelera
para chegar de uma vez às esperadas provas e conclusões.
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