São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2004

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Sem-terra furam bloqueio da PM e reúnem mais invasores em fazenda

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAIRAÇÁ

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) conseguiu furar o bloqueio da PM e aumentou o contingente de sem-terra na fazenda Santa Filomena, na divisa dos municípios de Guairaçá e Planaltina do Paraná (noroeste do PR). O aumento do número de sem-terra na fazenda coincidiu com a determinação de reintegração de posse ao fazendeiro pela Justiça de Terra Rica.
No sábado, Elias Gonçalves de Meura, 20, foi morto e outros seis sem-terra ficaram feridos na invasão da propriedade, de 1.197 hectares. A fazenda é considerada improdutiva pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
O proprietário, Francisco Carvalho Gomes Filho, contesta o laudo de improdutividade. O caso está no Tribunal Regional Federal de Porto Alegre.
Ontem, os sem-terra acusaram a PM do Paraná de estar do lado do fazendeiro. A tensão começou quando dois oficiais de Justiça foram até a fazenda e leram a determinação do juiz Luiz Henrique Trompezynski, de Terra Rica (noroeste do PR), para que os sem-terra deixassem a área.
Eles se recusaram a acatar a decisão judicial. Logo depois, a PM escoltou dois funcionários da fazenda até a propriedade, para que eles retirassem tratores e equipamentos do local. Os sem-terra apontaram os dois como autores dos disparos feitos no sábado.
A retirada dos equipamentos fazia parte de uma tentativa de acordo entre a PM e o MST para que as famílias que estavam em três caminhões na BR-376, distante seis quilômetros da fazenda, fossem liberadas. Desde o meio-dia de domingo as famílias tentavam chegar ao acampamento montado pelo MST na fazenda.
O MST se recusou a liberar tratores e equipamentos e exigiu a prisão dos dois funcionários, identificados como "Marcelão" e "Marquinhos Toco". O capitão César Kamakawa, que comandava o destacamento da PM, exigia uma acusação formal dos sem-terra contra os dois funcionários.
O impasse só foi resolvido após a advogada Maria Rita Reis, da organização Terra de Direitos, que defende o MST, comprometer-se a levar os sem-terra até a Delegacia de Polícia de Terra Rica para a acusação e a identificação formal dos acusados.
A advogada disse que foram recolhidas fotos na sede da fazenda, nas quais o administrador, Aparecido Mendes da Silva, 41, aparece fortemente armado.
"Ele foi solto sem justificativa. Tinham armas ilegais, existia um morto e ele foi liberado", afirmou. Silva foi detido no sábado e, depois de ouvido pela Polícia Civil de Paranavaí, foi liberado.
Kamakawa disse que a PM conseguiu apreender apenas duas armas que estavam com os seguranças -uma escopeta calibre 12 e uma carabina 44, deixadas na fazenda. "Foi um tiroteio muito grande e devia existir mais armas. Só de cartuchos de 44 recolhemos 112", afirmou.
Kamakawa resolveu liberar o bloqueio aos caminhões que levavam mulheres e crianças no final da tarde de ontem. Ele, no entanto, não tinha a garantia de que os sem-terra iriam devolver os equipamentos e tratores tomados.


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