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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES CRUZADAS
Petebista afirma que presidente sabia de suposta operação com Portugal Telecom para reduzir dívidas do PT e do PTB; empresa nega
Lula avalizou acerto com tele, diz Jefferson
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O deputado federal Roberto Jefferson desistiu de preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
disse à Folha que foi por orientação de Lula que o publicitário
Marcos Valério e o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, foram a Lisboa para negociar
operações que servissem para
quitar dívidas de campanha dos
candidatos petebistas.
Os contatos foram, segundo Jefferson, com o Banco Espírito Santo e com o ministro de Obras de
Portugal, Antonio Meixias, que
foi administrador de uma das
pontas da instituição, o Banco Espírito Santo Investimentos.
Valério e Palmieri viajaram no
dia 24 de janeiro na primeira classe do vôo 8706 da Varig, de São
Paulo para Lisboa, e voltaram no
dia 26, no vôo 7405, que decolou
às 9h55 para o Rio de Janeiro.
Eles foram obter informações
sobre a transferência de US$ 600
milhões do Instituto de Resseguros do Brasil que estavam depositados num banco do Reino Unido
para o banco português, um dos
principais acionistas da Portugal
Telecom. O "troco" da operação
seria de cerca de R$ 100 milhões
que, segundo Jefferson, seria distribuído entre o PT e o PTB.
Ontem, durante o depoimento
do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara, Jefferson disse que Dirceu
patrocinou "uma aproximação"
de Lula com o grupo Portugal Telecom, e depois emissários foram
despachados para Lisboa. Em nota, a empresa negou ter havido
reunião com representantes de
partidos políticos para buscar
uma solução para as dívidas do
PT e do PTB (leia texto ao lado).
Dirigindo-se a Dirceu, o deputado disse: "(...) para que nós negociássemos de lá, depois do encontro que V. Ex.ª patrocinou do
grupo da Portugal Telecom com o
presidente Lula, um acordo que
pusesse em dia as contas do PTB e
do PT". Acrescentou: "Tratei de
todos os assuntos com V. Ex.ª,
deputado José Dirceu, os republicanos e os não-republicanos. V.
Ex.ª nos deixava todos à vontade
para qualquer conversa na ante-sala do presidente da República".
Dirceu negou: "Não é verdade,
não é fato. Nunca tive relação com
a Portugal Telecom de nenhum tipo, nem administrativa nem funcional, nunca tratei com a Portugal Telecom nenhuma matéria."
Em seguida, disse: "Não tive nenhuma participação nesse episódio e o presidente Lula, tenho certeza absoluta, também não teve
nenhuma participação. (...) "[a
história] Ou é uma questão de total irresponsabilidade ou é um fato de extrema gravidade".
Cronologia
Na versão de Jefferson, reunindo o que ele contou à Folha em 19
de julho e ao Conselho de Ética
ontem, toda a operação começou
a ser armada em 2004.
Em 19 de outubro daquele ano,
Lula concedeu audiência ao presidente executivo da Portugal Telecom, Miguel Antonio Horta Costa, no Palácio do Planalto. Em dezembro, quando os candidatos
petebistas "estavam com a corda
no pescoço" -na versão de Jefferson à Folha- a empresa de telefonia portuguesa voltou à tona.
Jefferson teve um encontro com
o ministro Walfrido Mares Guia
(Turismo), do PTB, fazendo um
relato das dívidas de campanha
dos correligionários.
Mares Guia teria ido a Lula, pedindo socorro, e Lula disse que tomaria providências. Em novas
conversas, das quais o próprio Jefferson participou, foram discutidas explicitamente a operação da
Portugal Telecom e a ida de intermediários a Lisboa.
A Folha perguntou ao deputado, na conversa do dia 19: "O presidente, então, sabia de tudo?".
Ele ratificou: "Claro!". A conversa
foi em "off" (o deputado não assumia as declarações) e por isso
não foi publicada. Ontem, ele
orientou sua assessoria a telefonar para a Folha, durante o depoimento, assumindo o que dissera.
Segundo Jefferson, na conversa,
a operação com Portugal chegou
a ser armada, mas foi considerada
arriscada. Telefonou para o então
presidente do PT, José Genoino,
sugerindo que fosse abortada.
Os deputados Rodrigo Maia
(PFL-RJ) e Gustavo Fruet (PSDB-PR), da CPI dos Correios, já vinham trabalhando a informação
de que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ia com freqüência a
Portugal. Em alguns momentos,
praticamente todas as semanas.
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília
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