São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DISCURSO OFICIAL

Presidente diz que números positivos seriam ofuscados pelo depoimento de José Dirceu; fala tem sido recorrente em seus discursos

Lula acusa mídia de privilegiar "coisas ruins"

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais um ataque direto à atuação da imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou ontem o depoimento do "companheiro" José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética da Câmara como um exemplo de que a mídia nacional "privilegia" as notícias ruins diante das ações ditas como positivas do governo federal.
A declaração do presidente ocorreu em discurso de meia hora na cerimônia de instalação do Conselho Nacional de Juventude, no Planalto. Minutos antes, ao ser abordado por jornalistas, Lula sugeriu que a imprensa pode deslocar o foco das denúncias de corrupção para ele. "Depende de vocês", disse o petista, ao ser questionado por repórteres se a atual crise poderia atingi-lo diretamente no decorrer das investigações.
A seguir, tratou do tema afirmando que as "coisas ruins" sempre têm espaço no noticiário. A declaração, que se tornou uma rotina, ocorreu depois de ter listado números positivos do governo -créditos da agricultura familiar, prisões da Polícia Federal e programas de saúde e educação.
"Eu estou dizendo isso [ações do governo] porque, muitas vezes, num ato como esse possivelmente o destaque que este ato terá na imprensa será quase nenhum. Porque está acontecendo o processo do Conselho de Ética, o companheiro José Dirceu está lá e, certamente, como a minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem mais privilégio do que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não apenas no Brasil", disse. A cerimônia começou 45 minutos após o início do interrogatório do deputado petista.
A relação do governo com a imprensa possui um histórico de conflitos, que remonta às tentativas de criação de um conselho para "fiscalizar" os jornalistas e de expulsar do país um jornalista estrangeiro. Os ataques de Lula também ganharam destaque em falas recentes. Há uma semana, em Bagé (RS), o presidente já havia criticado o comportamento da mídia na cobertura da pior crise política do governo petista. Na ocasião, ele atacou setores da imprensa por somente "vender a desgraça" e afirmou que alguém terá de pedir "desculpas" aos que estão sendo "manchados".
Ontem, a entidades estudantis, Lula não citou diretamente a turbulência política, mas admitiu que, numa administração, é preciso "corrigir erros". E rotulou de "interessante" o atual momento político: "É por isso que nós estamos vivendo um momento, que eu diria, interessante na história política do país".


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