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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/DISCURSO OFICIAL
Presidente diz que números positivos seriam ofuscados pelo depoimento de José Dirceu; fala tem sido recorrente em seus discursos
Lula acusa mídia de privilegiar "coisas ruins"
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais um ataque direto à
atuação da imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou
ontem o depoimento do "companheiro" José Dirceu (PT-SP) ao
Conselho de Ética da Câmara como um exemplo de que a mídia
nacional "privilegia" as notícias
ruins diante das ações ditas como
positivas do governo federal.
A declaração do presidente
ocorreu em discurso de meia hora
na cerimônia de instalação do
Conselho Nacional de Juventude,
no Planalto. Minutos antes, ao ser
abordado por jornalistas, Lula sugeriu que a imprensa pode deslocar o foco das denúncias de corrupção para ele. "Depende de vocês", disse o petista, ao ser questionado por repórteres se a atual
crise poderia atingi-lo diretamente no decorrer das investigações.
A seguir, tratou do tema afirmando que as "coisas ruins" sempre têm espaço no noticiário. A
declaração, que se tornou uma rotina, ocorreu depois de ter listado
números positivos do governo
-créditos da agricultura familiar, prisões da Polícia Federal e
programas de saúde e educação.
"Eu estou dizendo isso [ações
do governo] porque, muitas vezes, num ato como esse possivelmente o destaque que este ato terá
na imprensa será quase nenhum.
Porque está acontecendo o processo do Conselho de Ética, o
companheiro José Dirceu está lá
e, certamente, como a minha mãe
dizia, coisa ruim sempre tem mais
privilégio do que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não
apenas no Brasil", disse. A cerimônia começou 45 minutos após
o início do interrogatório do deputado petista.
A relação do governo com a imprensa possui um histórico de
conflitos, que remonta às tentativas de criação de um conselho para "fiscalizar" os jornalistas e de
expulsar do país um jornalista estrangeiro. Os ataques de Lula
também ganharam destaque em
falas recentes. Há uma semana,
em Bagé (RS), o presidente já havia criticado o comportamento da
mídia na cobertura da pior crise
política do governo petista. Na
ocasião, ele atacou setores da imprensa por somente "vender a
desgraça" e afirmou que alguém
terá de pedir "desculpas" aos que
estão sendo "manchados".
Ontem, a entidades estudantis,
Lula não citou diretamente a turbulência política, mas admitiu
que, numa administração, é preciso "corrigir erros". E rotulou de
"interessante" o atual momento
político: "É por isso que nós estamos vivendo um momento, que
eu diria, interessante na história
política do país".
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