São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO MINEIRA

Tucano diz que assessor apoiou candidatos a deputado e, para tal, buscou recursos na SMPB

Azeredo admite à CPI caixa dois, mas culpa tesoureiro

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma atitude ensaiada, o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), compareceu ontem espontaneamente à CPI dos Correios e admitiu a existência de caixa dois em sua campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998, mas jogou a responsabilidade para o tesoureiro Cláudio Mourão da Silveira. As fontes dos recursos seriam empresas de Marcos Valério.
Azeredo negou ainda que seu governo tenha avalizado empréstimo tomado pela DNA no Banco Rural nesse mesmo ano e considerou uma "ilação" a afirmativa de que essa operação serviu para financiar candidatos a deputado de sua coligação.
Segundo o tucano, o tesoureiro de sua campanha à reeleição tomou, por iniciativa própria, "decisões estratégicas", como a de apoiar candidatos a deputado, com o objetivo de fortalecer a campanha majoritária. Por causa desses apoios, Mourão teria pedido ajuda à SMPB. "Entendendo que as referidas campanhas fossem fazer as respectivas prestações de conta, ele não as incluiu na prestação da campanha majoritária", disse Azeredo.
O senador levou à CPI uma correspondência de Mourão, escrita de próprio punho, em que ele faz esse relato. Azeredo garantiu que nada sabia. "Quero reafirmar também que não participei de nenhuma decisão de quem quer que fosse no sentido de listar nomes que deveriam receber doações."
O tucano não comentou declaração de seu ex-tesoureiro, em uma ação judicial, de que a campanha custou R$ 20 milhões, e não os R$ 8,5 milhões declarados ao Tribunal Regional Eleitoral.
Para o senador, há uma tentativa do governo de desviar o foco das investigações. "Não aceito que se cometa contra mim e o meu partido a tentativa proposital e calculada de confundir e misturar acusações sobre gastos de campanha com graves denúncias de corrupção sistêmica", disse ele, em referência ao "mensalão".
Azeredo apresentou à CPI cópia do contrato de empréstimo firmado entre a DNA e o Rural, no valor de R$ 9 milhões, para mostrar que sua administração não avalizou a operação. A garantia dada pela empresa, no entanto, é um contrato de publicidade com a Secretaria de Estado da Casa Civil e Comunicação Social.
"Só o fato de ele dizer que não é signatário não esclarece muito. O depoimento dele foi insuficiente e incompleto", disse o deputado Maurício Rands (PT-PE).

Convocação
A insistência dos petistas em convocar Azeredo mesmo depois de sua explicação paralisou os trabalhos da CPI durante cerca de quatro horas. A estratégia dos tucanos era evitar o desgaste de uma convocação com a apresentação espontânea do senador.
A sessão foi suspensa na tentativa de chegar a um acordo. Em retaliação, integrantes do PSDB ameaçavam convocar os presidentes dos diretórios estaduais do PT que teriam recebido dinheiro das empresas de Marcos Valério.
A presença de Azeredo havia sido combinada com o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), na semana passada. O tucano pediu a palavra imediatamente após a abertura da sessão.


Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: Em andamento
Próximo Texto: Alckmin pede investigação sobre Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.