São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Delegado da PF que tomou depoimento é transferido do Paraná para São Paulo

Ex-assessora liga secretário do presidente a caixa dois

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O delegado-chefe da Polícia Federal em Londrina, Sandro Roberto Vianna dos Santos, disse ontem que, no depoimento que prestou anteontem, Soraya Garcia, 31, citou o chefe do gabinete pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, como contato do comitê financeiro da campanha do PT de Londrina para assuntos de dinheiro.
A ex-assessora financeira da campanha petista em 2004 depôs à PF para confirmar denúncia de um suposto caixa dois na reeleição do prefeito Nedson Micheleti (PT). À Folha, Soraya confirmou as declarações do delegado. Negou, porém, informações de que teria dito que Carvalho efetivamente enviou dinheiro a Londrina: "Quando teve problema [de caixa] eu ouvi o Augusto [Emérito Dias Júnior, atual diretor da prefeitura, chefe do comitê financeiro] dizer ao telefone: "Fala com o Gilberto Carvalho, que ele resolve". Eu nunca ouvi ele falar "dinheiro", mas, no comitê financeiro, a gente só tratava de compra e venda de mercadorias, pagamento de pessoal, essas coisas".
Numa entrevista ao Paraná TV, Soraya afirmou que o envolvimento de Carvalho com dinheiro da campanha de Londrina foi "nenhum". "Eu não posso dizer que vi o Gilberto Carvalho dar dinheiro porque não tinha essa dimensão da coisa. Achava que ele fazia parte da cúpula executiva do PT", disse à Folha. Ela cita o secretário de Lula outra vez quando diz que o bufê da família dele na cidade "nos serviu três ou quatro vezes", em jantares de adesão para arrecadar fundos. O bufê Carvalho é tradicional em Londrina. Gilberto Carvalho é da cidade. Foi secretário de Governo de Celso Daniel, prefeito de Santo André, assassinado em janeiro de 2002.
Hoje, um dia após a citação do nome de Carvalho no noticiário do caixa dois de Londrina, o "Diário Oficial" da União deve publicar a transferência do delegado Santos para Marília (SP). O superintendente da PF no Paraná, Jaber Makul Hanna Saadi, disse que a transferência é conhecida do delegado há dois meses e que a saída agora é uma "coincidência". "A saída dele não muda nada nesse inquérito, e quem está presidindo não é nem o Sandro, mas outro delegado [Kandy Takahashi]", disse Saadi. Santos não quis falar.
Soraya apontou 56 pessoas que teriam colaborado com o caixa dois. Elas emprestariam o CPF ou o RG para compras de combustível e material de logística em seus nomes. Segundo ela, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foi intermediário do dinheiro do Diretório Nacional do PT para a campanha: "Ele chegava num dia e o dinheiro aparecia no outro, às vezes no mesmo dia".


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