São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

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Senador é incluído em "lista suja" do trabalho escravo

Relação cita também Vitalmiro de Moura, acusado de mandar matar Dorothy Stang

Ministério do Trabalho lista acusados de explorar trabalhadores em condição análoga à de escravos, como senador João Ribeiro (PL-TO)

THIAGO REIS
FRANCISCO FIGUEIREDO

DA AGÊNCIA FOLHA

O senador João Ribeiro (PL-TO) e o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura -acusado de ser um dos mandantes do assassinato da freira Dorothy Stang- foram incluídos na "lista suja" do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).
No documento estão os empregadores flagrados explorando trabalhadores em condição análoga à de escravos e que já não têm direito a recurso no MTE. Há outras 23 pessoas físicas ou jurídicas incluídas nessa nova relação. A lista conta agora com 178 nomes -30 deles não foram divulgados porque obtiveram decisões liminares na Justiça.
De acordo com o senador João Ribeiro, a lista deve ser analisada com cautela, pois o MTE "é parte interessada em acusar". Segundo a lista, 35 trabalhadores foram libertados de sua fazenda em Piçarra, no Pará. Ele diz já ter vencido a acusação contra trabalho escravo na Justiça.
"Minha única pendência é uma multa [de R$ 76 mil], da qual recorri. Jamais imaginei que eles fossem incluir meu nome agora. Mas a Justiça vai mandar tirar, porque não estou condenado", disse.

Anapu
No caso de Vitalmiro Moura, o flagrante ocorreu antes da morte de Stang. A Delegacia Regional do Trabalho do Pará libertou, em julho de 2004, 20 pessoas em condição análoga à escravidão na fazenda dele em Anapu (PA).
O local fica próximo ao lote 55, da gleba Bacajá, que era reivindicado por ele e que a freira defendia que fosse incorporado ao PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança.
Vitalmiro está preso em Belém. "Isso [inclusão do nome do fazendeiro na lista] é mais uma manobra desse pessoal que está envolvido com o caso da Dorothy. O que puder botar no cara, eles põem", afirmou Américo Leal, seu advogado de defesa.
Apesar de não ter valor jurídico, a lista pode impedir o acesso dos empregadores a créditos de bancos públicos e de algumas instituições privadas que se comprometeram a não emprestar dinheiro aos membros da lista.
Os incluídos também podem perder clientes -mais de 80 empresas já se negam a adquirir mercadorias das fazendas, de acordo com informações do ministério.
A retirada definitiva dos nomes pode ocorrer se, no prazo de dois anos, os problemas encontrados pela fiscalização forem sanados. Desde a última divulgação, 12 foram excluídos por terem corrigido as irregularidades apontadas.
Entre as empresas recém-incluídas na lista está a Tobasa Bioindustrial de Babaçu, que é fornecedora de grandes indústrias da região Sudeste. Segundo o MTE, a empresa mantinha 174 trabalhadores em condições análogas à escravidão.
De acordo com o diretor-presidente da empresa, Edmond Baruque Filho, a fiscalização não considerou que a Tobasa é do ramo extrativista. "É contra a essência do processo extrativista a relação empregador-empregado. Não há como impor ao catador de babaçu hierarquia, dependência econômica ou habitualidade, que são as três bases do vínculo trabalhista", afirmou ele.
Outra empresa que passou a constar da lista é a Rezil, instalada em Iaras (a 282 quilômetros de São Paulo). Em 2002, a empresa foi autuada por permitir que seus funcionários trabalhassem sem equipamentos de proteção na extração de resina em árvores e por não remunerá-los conforme o que atestavam seus contracheques. A reportagem tentou entrar em contato com os proprietários, mas não conseguiu localizá-los.


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