São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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Sarney cobra, e PMDB tenta enquadrar seus dissidentes

Em nota, sigla pede saída de peemedebistas favoráveis à renúncia de presidente do Senado

Partido tenta demonstrar coesão na volta do recesso, após Sarney exigir ação em sua defesa; Jarbas e Simon reagem e dizem que ficam

Marcelo Justo/Folha Imagem
Seguido pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), o presidente do Senado, José Sarney, embarca em avião da FAB em Congonhas com destino a Brasília

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Atendendo à cobrança do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o comando do PMDB subiu o tom e exibiu, no site oficial do partido, nota em que recomenda a saída de seus "poucos" dissidentes.
Na nota, exposta no site com data de ontem, o PMDB afirma que os descontentes apostam "na fama efêmera oriunda de acusações vazias". Divulgada em resposta à penúltima edição da revista "Veja" e tirada do ar no início da noite de ontem, a manifestação sinaliza disposição de Sarney em tentar resistir à pressão para que renuncie.
Na quinta-feira, Sarney telefonou para integrantes da cúpula do partido -entre eles, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN)- para cobrar uma ação partidária em sua defesa.
Segundo peemedebistas, Sarney alegou que a decisão do PSDB de apresentar representações contra ele exigiria uma atuação formal do PMDB, inclusive contra o líder tucano Arthur Virgílio (AM), acusado de pagar salário a um servidor que estava no exterior e de ter recebido empréstimo de Agaciel Maia, ex-diretor do Senado.
Mais do que uma tentativa de mostrar coesão, a nota serve ainda de instrumento político para manter o Senado sob o controle do PMDB, qualquer que seja o desfecho da crise. Embora o comando do PMDB insista em descartar a renúncia de Sarney, a intenção é assumir a negociação com o governo ainda que ele se afaste -na nota, o partido exalta o tamanho de sua bancada, a maior da Casa, com 19 dos 81 senadores.
No Senado, Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) vêm engrossando o coro dos que cobram o afastamento de Sarney. "O PMDB acata com humildade o descontentamento de alguns poucos integrantes", diz o texto assinado por Temer e por Iris de Araújo, que exerce a presidência do PMDB.
"Podem deixar a legenda o quanto antes sem risco algum de perder o mandato. Ganharão eles, porque deixarão de pertencer ao partido do qual falam tão mal, e ganhará o PMDB, por tornar-se ainda mais coeso e musculoso."
Em resposta, Jarbas afirmou que "quem responde a processo e tem documento com corrupção declarada é que tem que sair". Simon disse só deixará o PMDB expulso. E voltou a defender a renúncia de Sarney: "Amanhã [hoje] é o dia D. Se não renunciar, eu vou pedir ao presidente Temer que converse com ele. Caso contrário, vamos cair em trevas profundas."
Ontem à noite, em Brasília, o presidente do Senado recebeu em sua casa o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Gim Argello (PTB-DF), o ministro Edson Lobão (Minas e Energia) e o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro. Segundo participantes da reunião, Sarney reafirmou sua decisão de continuar no cargo e lutar contra as acusações que lhe são feitas.
Governo, PT e PMDB discutem hoje o futuro de Sarney. Foi marcado um jantar do ministro José Múcio (Relações Institucionais) com líderes. Pela manhã, o assunto deverá ser pauta da reunião de coordenação com o presidente Lula. O objetivo é fechar posição diante da crise que cresceu nas duas semanas de recesso.
Na quarta, o Conselho de Ética se reúne pela primeira vez para discutir os 11 pedidos de investigação contra Sarney. Na quinta, ocorre a primeira reunião da CPI da Petrobras.
Não é certo que José Sarney esteja em Brasília nestes dias. Segundo interlocutores, ele afirmou que vai abrir a sessão pós-recesso do Senado e deixar a capital.


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