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ORÇAMENTO
Ao contrário do anunciado, setores como educação e saúde são atingidos
Projeto corta gastos da área social do próximo governo
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os cortes de verbas da proposta
de Orçamento para o primeiro
ano do mandato do futuro presidente da República não poupam a
área social, como anunciou o governo. As despesas com saúde
crescem menos do que a inflação,
e os gastos com educação registram queda em relação ao Orçamento de 2002, assim como os programas nas áreas de organização agrária, saneamento e habitação.
Os gastos com saúde crescem
cerca de R$ 1 bilhão, um aumento
de pouco mais de 5% em relação a
este ano. Menos, portanto, que a
inflação considerada no próprio
projeto, de 9,48% para este ano.
Os cortes mais acentuados de
verbas têm como alvos as áreas de
organização agrária, saneamento
e habitação, em torno de 60%, segundo levantamento feito pelo
Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos). A mesma proposta prevê uma queda de mais de 30% nos investimentos públicos em 2003 -de R$ 11 bilhões
para R$ 7,2 bilhões.
Uma análise de detalhes do projeto de lei orçamentária não confirma a nota técnica divulgada pelo Ministério do Planejamento na
última quinta-feira. Ela diz: ""A
proposta de Orçamento para
2003 possibilita a manutenção
dos gastos públicos de caráter social, em especial aqueles que possuem maior impacto sobre o
bem-estar da população".
Para chegar a esse aumento dos
gastos sociais, o ministério incluiu as despesas com aposentadorias do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), cujo pagamento independe dos planos do
governo. Mesmo considerando
um aumento do salário mínimo
para R$ 211, os gastos da Previdência Social crescem R$ 3,7 bilhões, fazendo o déficit pular para
R$ 19,6 bilhões. Eis aí um dos
grandes dilemas que o sucessor
de FHC vai enfrentar. Se conceder
reajuste maior para o salário mínimo -além dos 5,5% previstos-, o rombo nas contas da Previdência será ainda maior, já que
14 milhões dos 21 milhões de benefícios são corrigidos pelo mesmo índice do salário mínimo.
Desafio maior para o futuro governo é a conta das aposentadorias do setor público. Para 2003, a
diferença entre o que é arrecadado e o gasto com aposentadorias
atinge R$ 27,8 bilhões. A conta é
objeto de uma das reformas que
FHC não conseguiu levar adiante.
Arrecadação
Ao deixar pouca margem para
cortes nos gastos públicos, a proposta de Orçamento para 2003
convida o futuro presidente a negociar com o Congresso um aumento de impostos logo depois
da eleição, antes mesmo da posse.
Há um convite subentendido à
prorrogação da alíquota de 27,5%
do Imposto de Renda para quem
ganha mais de R$ 2.115. A alíquota, que cai para 25% já em janeiro,
rende aos cofres públicos R$ 1,7
bilhão por ano. Os candidatos à
Presidência têm evitado falar no
assunto, claramente impopular.
O convite é confirmado pelos
seguintes números: a arrecadação
prevista cresce menos que a inflação. A arrecadação cresce apenas
4,3% entre 2002 e 2003, menos da
metade da inflação medida pelo
IGP-DI, usada no Orçamento.
Um raro item que cresce bem
acima da inflação é a conta de juros. O sucessor encontrará conta
mais de 20% maior. O pagamento
de juros previsto pula de R$ 54,6
bilhões para R$ 67,5 bilhões.
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