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NO AR
À beira de um ataque
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Ciro Gomes e José Serra,
com xingamentos de parte
a parte, concentraram todo o
início do debate, deixando Boris
Casoy atônito, temeroso de que
os dois trocassem as afrontas por
coisa pior.
Isso, no começo -e depois,
perto do final. Mas havia algo de
grotesco em Ciro jogar "sórdido" seguidas vezes na cara de
Serra; e em este jogar "mentira"
sobre Ciro.
A agressão foi acima de tudo
ao telespectador. Daí o sorriso
insistente e vitorioso de Lula, o
grande favorecido no bate-boca,
a ponto de encenar uma bronca
em ambos.
Já de início, Lula levantou
uma questão inofensiva para
Garotinho, que depois fez uma
pergunta inofensiva para Lula
-deixando as ofensas soltas entre Ciro e Serra, ambos à beira
de um ataque.
O tempo cuidou, porém, de
dissolver o antagonismo entre
Ciro e Serra e deixar evidente o
conflito real: a oposição de Lula,
Ciro e Garotinho ao governo
que apóia Serra.
Do alto de sua experiência em
eleições, Alexandre Garcia observava, ontem cedo:
- O princípio básico desta
eleição é: fogo em quem se destacar. Foi assim que Garotinho
despencou. E que Roseana perdeu a candidatura.
E é assim que Ciro e Serra passam os dias. Presidente interino,
Marco Aurélio Mello, primo de
Fernando Collor, reagiu na mesma linha:
- Temos que reconhecer que
o nível caiu. A quem interessam
os ataques?
Interessam a Ciro e Serra, é
claro, mas não só para fazer o
adversário "despencar". Já interessam, ao que parece, até por
vingança irracional.
No fim de semana, Ciro chamou Serra de "covarde" e uma
coleção de adjetivos. Serra respondeu pela web que o outro é
que é covarde:
- Covarde é quem foi do partido da ditadura, quem bajulava Collor no palácio, quem beija
mão de poderoso.
Seria possível cogitar que ambos estavam a se xingar como
pugilistas que se encaram antes
da luta -o debate.
Mas a coisa atingiu "nível"
que já não permite vislumbrar
objetivos eleitorais. E olha que,
como diz Garcia:
- Ainda há um longo tempo
pela frente e certamente a munição mais pesada está reservada
para o fim.
Ele deve saber, já que cobre
eleições presidenciais desde 89.
O JN registrou na sexta, mas o
mesmo Alexandre Garcia foi o
único a comentar o assunto que
parece ser tabu para a emissora.
Foi ontem. Ele disse que Ciro
"digladia-se com suas próprias
palavras com a frase, talvez do
inconsciente, sobre o papel mais
importante de Patrícia".
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