São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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NO AR

À beira de um ataque

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Ciro Gomes e José Serra, com xingamentos de parte a parte, concentraram todo o início do debate, deixando Boris Casoy atônito, temeroso de que os dois trocassem as afrontas por coisa pior.
Isso, no começo -e depois, perto do final. Mas havia algo de grotesco em Ciro jogar "sórdido" seguidas vezes na cara de Serra; e em este jogar "mentira" sobre Ciro.
A agressão foi acima de tudo ao telespectador. Daí o sorriso insistente e vitorioso de Lula, o grande favorecido no bate-boca, a ponto de encenar uma bronca em ambos.
Já de início, Lula levantou uma questão inofensiva para Garotinho, que depois fez uma pergunta inofensiva para Lula -deixando as ofensas soltas entre Ciro e Serra, ambos à beira de um ataque.
O tempo cuidou, porém, de dissolver o antagonismo entre Ciro e Serra e deixar evidente o conflito real: a oposição de Lula, Ciro e Garotinho ao governo que apóia Serra.
 
Do alto de sua experiência em eleições, Alexandre Garcia observava, ontem cedo:
- O princípio básico desta eleição é: fogo em quem se destacar. Foi assim que Garotinho despencou. E que Roseana perdeu a candidatura.
E é assim que Ciro e Serra passam os dias. Presidente interino, Marco Aurélio Mello, primo de Fernando Collor, reagiu na mesma linha:
- Temos que reconhecer que o nível caiu. A quem interessam os ataques?
Interessam a Ciro e Serra, é claro, mas não só para fazer o adversário "despencar". Já interessam, ao que parece, até por vingança irracional.
No fim de semana, Ciro chamou Serra de "covarde" e uma coleção de adjetivos. Serra respondeu pela web que o outro é que é covarde:
- Covarde é quem foi do partido da ditadura, quem bajulava Collor no palácio, quem beija mão de poderoso.
Seria possível cogitar que ambos estavam a se xingar como pugilistas que se encaram antes da luta -o debate.
Mas a coisa atingiu "nível" que já não permite vislumbrar objetivos eleitorais. E olha que, como diz Garcia:
- Ainda há um longo tempo pela frente e certamente a munição mais pesada está reservada para o fim.
Ele deve saber, já que cobre eleições presidenciais desde 89.
 
O JN registrou na sexta, mas o mesmo Alexandre Garcia foi o único a comentar o assunto que parece ser tabu para a emissora. Foi ontem. Ele disse que Ciro "digladia-se com suas próprias palavras com a frase, talvez do inconsciente, sobre o papel mais importante de Patrícia".



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