São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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RAZÃO DE VOTO

A campanha está nas casas

MAURO FRANCISCO PAULINO

Os números das pesquisas de intenção de voto mostram uma eleição presidencial cada vez mais empolgante e disputada. Contrastando com a liderança estável de Lula, a disputa pela outra vaga no segundo turno tem apresentado alternâncias que, de tão velozes, fariam prever discussões acaloradas em bares, no metrô e nas esquinas. Mas não é o que se observa. A campanha não ganhou as ruas na mesma intensidade com que invadiu as redações, os comitês e, em especial, bancos e corretoras de valores.
Não ocorreram ainda os comícios reunindo milhares de simpatizantes. Aparições públicas dos candidatos têm sido organizadas mais para cinegrafistas do que para eleitores. O que importa é gerar cenas interessantes para serem trabalhadas em ilhas de edição e utilizadas na TV.
Nas ruas, a eleição está silenciosa opondo-se à poluição visual provocada por banners, faixas e outdoors espalhados pelos grandes centros. São raros os transeuntes que expõem suas opções através de bottons, camisetas ou bonés de candidatos.
Mas isso não significa que o eleitor esteja indiferente ou perdendo o interesse político. Ao contrário, mostra-se mais reflexivo e menos explícito em suas dúvidas. Habituado à passividade diante da TV, o brasileiro vê-se quase que obrigado a refletir sobre a conjuntura, ainda que, muitas vezes, de forma deturpada.
O volume de mensagens relativas à eleição aumentou muito após o início do horário eleitoral. Apenas para exemplificar, em um dos intervalos do "Fantástico" no último domingo, de dez inserções comerciais sete foram de candidatos. A sobreposição de informação jornalística e de campanhas políticas faz com que, desde então, o eleitor reflita sobre as candidaturas e as variáveis que pautam as campanhas.
O Datafolha tem apurado mudanças nas opiniões dos entrevistados, não só em relação às intenções de voto mas também quanto às perspectivas para o país.
Apontado como principal problema do país, em respostas espontâneas, o combate ao desemprego é tema obrigatório e constante em todas campanhas. Após o início do horário eleitoral a taxa dos que acreditam que o desemprego vai aumentar nos próximos meses caiu de 63% para 48%. O mesmo ocorre em relação à inflação: o percentual dos que acreditam que vai aumentar caiu de 65% para 54%.
Percebe-se, portanto, que mudanças de opinião de parcelas significativas do eleitorado ocorre não só nas intenções de voto mas também em questões que permeiam o processo eleitoral.
Faltam 33 dias para o eleitor, obrigatoriamente, sair às ruas e traduzir em votos os frutos de sua exposição a tanta informação. Até lá algumas campanhas mudarão de rumo, as pesquisas de intenção de voto serão mais constantes, os noticiários sobre a eleição mais extensos e os candidatos expostos a novas entrevistas.
Mas haverá especial atenção à repercussão de três debates programados para o horário nobre. O primeiro, realizado ontem, mediado por Boris Casoy, jornalista com muita credibilidade e com imagem associada a debates eleitorais. O último, na TV Globo, a apenas dois dias da eleição, será a oportunidade para candidatos jogarem suas últimas cartadas. Entre eles, no dia 15, Silvio Santos, com seu indiscutível poder para atrair atenção, deverá protagonizar o evento que marcará a reta final, desde que haja flexibilidade nas regras. Era o personagem que faltava a uma eleição decidida na frente da TV.


MAURO FRANCISCO PAULINO, diretor-geral do Datafolha, escreve às terças-feiras nesta coluna



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