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Senador do PSDB negociou emenda para ambulância
Antero Paes de Barros tratou liberação com a pasta da Saúde na gestão de Serra
Duas cidades beneficiadas
por emendas do senador
foram contempladas com
ambulâncias vendidas por
empresas do grupo Planam
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador Antero Paes de
Barros (PSDB-MT) tratou diretamente com o Ministério da
Saúde, na gestão do também
tucano José Serra, a liberação
de emenda para a compra de
ambulância em licitação depois
vencida pelo grupo Planam, da
quadrilha dos sanguessugas.
Pelo menos dois municípios
indicados por Antero em
emendas da bancada de Mato
Grosso no Congresso foram
contemplados com ambulâncias vendidas por empresas do
grupo Planam. Os documentos
complicam a defesa do senador
na CPI dos Sanguessugas, incluído na lista dos investigados
após o empresário Luiz Antonio Vedoin, da Planam, acusá-lo de participar do esquema.
Em 2000, a bancada de Mato
Grosso incluiu no Orçamento
da União emenda coletiva dos
parlamentares do Estado, no
valor de R$ 3 milhões, para a
compra de ambulâncias. Na
ocasião, o coordenador da bancada do Estado era o deputado
Pedro Henry (PP), apontado
por Vedoin como um dos colaboradores da quadrilha.
Naquele ano, Henry enviou
para o então secretário-executivo do Ministério da Saúde,
Barjas Negri, braço direito de
Serra, ofício com a indicação
feita por cada um dos parlamentares da bancada sobre os
municípios que deveriam ser
atendidos pela emenda. Antero
escolheu três municípios, com
R$ 80 mil para cada um. A cidade de Dom Aquino foi uma das
agraciadas. A licitação foi vencida pela Santa Maria (empresa
de fachada da quadrilha), com a
venda do veículo tendo sido fechada em 19 de abril de 2001, ao
preço de R$ 79.950.
Um mês antes, Antero e outros dez parlamentares de Mato Grosso haviam escolhido Lino Rossi (PP) como novo encarregado de indicar os municípios a serem contemplados por
uma segunda emenda da bancada, inicialmente de R$ 5,6
milhões (o valor sofreu cortes
depois). A decisão foi comunicada ao então ministro José
Serra em ofício enviado em 9
daquele mês. Além de Antero,
cinco signatários da carta foram denunciados ou investigados pela CPI: Celcita Pinheiro
(PFL), Pedro Henry, Ricarte
Freitas (PTB), Wellington Fagundes (PL) e Teté Bezerra
(PMDB), além de Lino Rossi.
Em entrevista à "Veja" no
mês passado, Vedoin disse: "O
acordo era para a totalidade das
emendas da bancada, que somavam R$ 3,8 milhões. Antero
apresentou R$ 400 mil, e tínhamos de dar R$ 40 mil de comissão. Ele pediu para passarmos o
dinheiro diretamente para o
[deputado] Lino Rossi [PP-MT], que, naquele tempo, era
do mesmo partido que ele
[PSDB]. Todos ali tinham consciência do que estava fazendo".
No dia 25 de maio, Rossi encaminhou para Barjas Negri
um ofício com as indicações
dos municípios escolhidos pelos parlamentares, também
com a destinação de R$ 80 mil
para cada cidade. Antero selecionou quatro. Entre as quais,
Nossa Senhora do Livramento.
Dois meses depois, em 25 de
julho, Antero enviou ofício ao
secretário-executivo da Saúde
reforçando o pedido de liberação do dinheiro a Nossa Senhora do Livramento: "Esclareço,
ainda, que o município faz parte da minha relação de beneficiários dessa emenda, sendo R$
80.000,00 a quantia indicada".
Assim como no caso de Dom
Aquino, a Santa Maria venceu a
concorrência em Nossa Senhora do Livramento, com a venda
concretizada em 15/8/2002.
À CPI, Antero negou envolvimento com a quadrilha. Afirmou que, em novembro de
2001, mandou suspender todas
as indicações para a compra de
ambulâncias, apesar de não ter
documento oficial que prove
sua versão. Disse que o dinheiro liberado para Nossa Senhora
do Livramento não seria de sua
responsabilidade. A justificativa não cabe, no entanto, para o
caso de Dom Aquino, pois a
venda da ambulância para o
município, em abril de 2001,
ocorreu antes da alegada decisão de suspender as verbas.
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