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Operação Vampiro vê prova de mensalão
Escuta mostra ex-líder do PP buscando ajuda de lobistas para cooptar deputados à base aliada do governo Lula em 2004
Relatórios da PF apontam que, de forma cifrada, José Janene ofereceu R$ 150 mil e "prestações mensais" para deputado mudar de legenda
ANDRÉA MICHAEL
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao investigar o esquema
montado por lobistas e servidores para fraudar licitações de
aquisição de medicamentos no
Ministério da Saúde -a chamada Operação Vampiro-, a Polícia Federal descobriu mais evidências da existência de um esquema de cooptação de deputados federais para a base aliada
do governo Lula em 2004.
Relatórios da PF mostram
que, em fevereiro de 2004, conforme conversas gravadas com
autorização judicial, o deputado federal José Janene (PP-PR), ex-líder do partido, teria
buscado a ajuda dos lobistas
Laerte Correa Jr., Eduardo Pedrosa e Frederico Coelho Neto,
conhecido como Lilico e irmão
do deputado Luiz Antônio
Fleury (PTB-SP), para supostamente atrair ao menos dois deputados à bancada do PP em
um prazo de três dias.
Segundo os relatórios da PF,
eles falam de forma cifrada. Pelas investigações, o termo partido vira "condomínio", e deputado é tratado por "inquilino"
ou "carro" para encobrir negociações, que chegariam a R$
150 mil, além de "prestações
mensais", oferta supostamente
patrocinada por Janene.
Em 12 fevereiro, o lobista
Correa Jr. aborda o assunto
com Lilico. Durante o diálogo,
após Correa introduzir o tema,
Janene entra na conversa e
pergunta a Lilico: "Não tem nenhum de estoque, brimo?".
Pelo diálogo, o deputado nem
precisava ficar definitivamente
no partido: "Mesmo que o cara
[deputado] não queira ficar em
definitivo, mas na semana que
vem o cara pode sair, não tem
problema [...]. Dá um acerto
bom". Naquela data, o PP estava a três dias de um prazo importante. Em 15 de fevereiro, a
Câmara fecharia a contabilidade relativa às bancadas partidárias, número decisivo para a legenda garantir maior participação e comando em 12 comissões temáticas da Casa.
Segundo banco de dados da
Câmara, entre os dias 10 e 15
daquele mês, o PP passou de 50
para 53 deputados. Mas em nenhum momento a investigação
da PF aponta o nome dos deputados que trocaram de partido.
Em 2002, o PP (à época
PPB), elegeu 49 deputados. Na
posse, em fevereiro de 2003,
estava com 43 integrantes na
Câmara. Iniciou 2004 com dez
deputados a mais.
Ainda em 12 de fevereiro, Janene retoma o assunto com Pedrosa. O retorno da ligação
ocorre durante o almoço. Pedrosa tenta cifrar a conversa,
segundo a PF, mudando o termo deputado por carro.
"...Seu carro. Quanto você
quer no seu carro?", pergunta o
lobista. O deputado diz que
"precisa dar uma olhada" e
questiona se Pedrosa tem uma
avaliação. Em seguida, o lobista
responde: "Eu não... deixei de
mexer com carro há um tempinho, né? Que estou aqui com
um comprador (deputado federal) e ele tá querendo saber...
quanto você quer que ele... vê se
ele anima comprar". Janene
responde: "É... um cinco zero
(R$ 150.000). [...] Depois as
prestações mensais, né?".
Processos
Janene é o único deputado
acusado no escândalo do mensalão que até agora não foi julgado pela Câmara. Seu processo de cassação só deve ser analisado no plenário depois das
eleições. Ele é acusado de receber cerca de R$ 4 milhões do
publicitário Marcos Valério de
Souza, apontado como operador do mensalão.
De 19 deputados acusados no
caso e que tiveram os processos
encaminhados ao Conselho de
Ética, quatro renunciaram, três
foram cassados e 11 absolvidos
no plenário da Casa.
As denúncias envolvendo o
escândalo do mensalão estão
sendo apuradas pela PF em cinco inquéritos. Um trata da compra de votos, o segundo investiga um suposto caixa dois em
campanha de tucanos em Minas em 1998 e outros três apuram irregularidades nos Correios, no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e em Furnas.
A equipe da PF que cuida dos
casos vai pedir o compartilhamento das provas obtidas na
Operação Vampiro. O Ministério Público Federal também dividiu a investigação do mensalão, ainda em andamento, para
cada uma das estatais.
Na sexta, o ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal)
Joaquim Barbosa informou
que no próximo mês o tribunal
deve decidir se manda para a
primeira instância judicial a
maior parte do inquérito criminal do mensalão, que tem 40
denunciados. Devem permanecer no STF de 10 a 12 réus, entre
os quais obrigatoriamente os
deputados acusados, porque
têm foro privilegiado.
Operação Vampiro
Os lobistas Correa Júnior,
Pedrosa e Lilico, que aparecem
nas conversas, além de acusados por ligação com esquema
de fraude em licitações do Ministério da Saúde, também são
apontados pela PF como articuladores de tráfico de influência e venda de facilidades.
Eles teriam tentado promover negócios ilegais em pelo
menos mais oito órgãos públicos. Para a PF, as irregularidades teriam sido cometidas na
recomposição de poder durante a troca de governo em 2003 e
a conseqüente redistribuição
de cargos.
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