São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Estados favorecem amigos em "embaixadas"

Representações estaduais em Brasília viram refúgio para políticos desempregados; salários podem chegar a R$ 13.600

Levantamento da Folha mostra que, em pelo menos 17 dos 25 escritórios, há exemplos de indicações pessoais e partidárias

FÁBIO ZANINI
SILVIO NAVARRO
ANDRÉA MICHAEL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Colocadas em evidências em escândalos como o caso Waldomiro e, mais recentemente, a Operação Navalha, as representações dos Estados em Brasília são um refúgio para políticos desempregados e amigos dos governadores, além de um "cabide" de emprego para indicações partidárias. Segundo levantamento da Folha, em pelo menos 17 das 25 representações (o Espírito Santo e, obviamente, o Distrito Federal não têm) há exemplos claros disso.
Normalmente obscuras, essas representações funcionam como "embaixadas" dos Estados junto ao poder central. Já abrigaram personagens que, mais tarde, estariam envolvidos em escândalos, como Waldomiro Diniz, nomeado pelo então governador Anthony Garotinho (PMDB), em 1999, para a representação do Rio.
Quatro dos representantes são ex-deputados federais; três são ex-senadores. Há ainda três ex-ministros, incluindo homens fortes de gestões passadas, como Henrique Hargreaves, titular da Casa Civil de Itamar Franco, e Eduardo Graeff, que ocupou a Secretaria Geral da Presidência de Fernando Henrique Cardoso.
Há exemplos de "embaixadores" que são quadros das máquinas partidárias, como é o caso do representante de Pernambuco, um que é irmão do governador, no Maranhão, e um que admite que ganhou a vaga por ser amigo da família Gomes, no Ceará, do governador Cid e do ex-ministro Ciro.
O posto de representante em Brasília costuma estar entre os mais cobiçados nos governos estaduais. Dá ao "embaixador" sobrevida política e visibilidade, abrindo facilmente as portas de ministérios e gabinetes de parlamentares. O cargo costuma trazer outros benefícios, como bom salário e direito a carro com motorista. Os vencimentos podem chegar a R$ 13.600, como no caso do ex-deputado Inaldo Leitão (PB), que não conseguiu se reeleger em 2006 e ganhou o posto de representante do governador Cássio Cunha Lima (PSDB).
A "embaixada" da Paraíba é uma das mais bem servidas em Brasília. Leitão tem à sua disposição 45 servidores -apenas 19 são concursados. O orçamento é de R$ 720 mil por ano.
Ainda mais rica é a representação de Santa Catarina, uma das duas que funcionam em amplas casas no Lago Sul - a outra é a de Goiás-, bairro mais sofisticado da capital federal, onde costumam funcionar as embaixadas dos países. O orçamento catarinense para o ano é de R$ 900 mil.
O titular é o ex-senador Geraldo Althoff, indicado pelos Democratas, que apóiam o governador Luiz Henrique (PMDB). "Dentro dessa aliança, o meu partido avaliou como positiva a experiência que acumulei enquanto senador da República no atendimento às demandas do Estado e me indicou ao cargo", explica Althoff.
A representação do Tocantins é a mais inchada do Brasil, com 65 funcionários, e tem o maior orçamento constatado: R$ 2,5 milhões por ano.
As tarefas de um embaixador estadual em Brasília são variadas. Incluem assessorar autoridades do Estado em visitas à capital federal, acompanhamento de matérias de interesse do governador no Legislativo e no Judiciário e representar o chefe em solenidades.
Mas muitos representantes estaduais admitem a natureza predominantemente política do cargo. Ex-suplente do governador Roberto Requião (PMDB) quando ele era senador, o representante do Estado do Paraná em Brasília, Nivaldo Krieger, irritou-se ao ser questionado se sua indicação era política. "Todo cargo é político. Quem trabalha num governo é indicação política", disse.
No caso de São Paulo, Graeff atribuiu sua indicação à "experiência anterior" no Legislativo e no Executivo. "O governador e eu nos conhecemos e trabalhamos juntos há muitos anos."
Já o representante do Ceará, Danilo Serpa, deu uma justificativa pessoal: a amizade com a família do governador Cid Gomes (PSB). "Vim para Brasília porque minha esposa passou em um concurso público para o Ministério da Previdência. Sou formado em administração de empresas com especialização em gestão empresarial, e o governador, sabendo que estava de mudança, me convidou."


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