São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Governistas defendem rigor contra grampo

Para Ciro Gomes, "tem que pegar meia dúzia de branco importante e meter na cadeia, através do devido processo legal"

José Múcio, ministro das Relações Institucionais, admite ser "desconfortável para o governo" descoberta de grampo no Supremo


CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Queixando-se de um sentimento de vulnerabilidade, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do primeiro escalão do governo defenderam ontem maior rigor, inclusive do Executivo, contra a instalação de escutas telefônicas no país.
O ex-ministro e hoje deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) chamou de grave a situação -"Se o presidente do STF é grampeado, imagine quem está protegido"- e pregou punição rigorosa de quem pratica escuta clandestina.
Segundo Ciro, diante dos avanços tecnológicos, "a única coisa que pode fazer é o efeito dissuasório da punição". "Tem que pegar meia dúzia de branco importante e meter na cadeia, através do devido processo legal", afirmou Ciro, defendendo que se leve "a exemplaridade à última conseqüência".
Presente à comemoração do 40º aniversário da revista "Veja", o vice-presidente da República, José Alencar, admitiu que, em conversas ao telefone, se flagra pensando que poderia estar grampeado.
"Hoje não há segurança de nenhum brasileiro em relação ao telefone ou mesmo internet e e-mail, ou coisa que o valha. Isso hoje é uma coisa difícil", disse Alencar, afirmando, em tom de brincadeira, que toma mais cuidado ao falar com as namoradas.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, reconheceu que a descoberta de grampo no telefone do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, é "desconfortável para o governo".
"Somos todos vítimas disso", disse o ministro.
A exemplo de Ciro, Múcio elogiou Paulo Lacerda, afastado desde segunda-feira do comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Segundo Múcio, a cúpula da Abin foi afastada "para que não houvesse intimidação da investigação". "Ele foi afastado para que as investigações fossem tocadas com maior conforto. O dr. Paulo é um homem de bem, que o Brasil inteiro admira. Mas foi melhor que houvesse afastamento", justificou.
O grampo foi objeto de conversa entre o ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, e o da advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli. Defensor de um esforço comum, incluindo imprensa e Judiciário, para o combate ao grampo, Geddel questionou Toffoli sobre o impacto da notícia.
"Quando estava dando certo, acontece isso", lamentou Toffoli, para quem essa vulnerabilidade transforma a vida pública em "sacerdócio".
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), chamou de inadmissível a instalação de escuta sem autorização judicial. "Quem já sofreu como sofri na época do governo militar sabe como isso [a inviolabilidade de lar e a privacidade] é caro para a democracia", afirmou.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu adoção de medidas mais duras por parte do governo. "É como se estivéssemos em um grande Big Brother."


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