São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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PERFIL

Grampos marcaram gestão de Lacerda na PF

ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Realizados com autorização judicial, os grampos telefônicos foram a marca, por quase cinco anos, da gestão do delegado Paulo Lacerda na direção-geral da Polícia Federal. À margem da legalidade, grampos atribuídos à Abin provocaram seu afastamento do cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência.
No comando da PF desde o início do governo Lula, em 2003, até setembro de 2007, Lacerda, 62, tinha como lastro político o total apoio de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça entre 2003 e 2007.
Com a saída de Bastos do governo, a PF deixou de ser uma bandeira política, usada inclusive na reeleição do presidente Lula, como chancela de que sua gestão era implacável na caça aos corruptos. Foi substituída pelo Pronasci, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania, a menina dos olhos do sucessor de Bastos na Justiça, Tarso Genro.
A troca de cadeiras na PF e na Abin ocorreu em setembro de 2007, mas a escolha de Luiz Fernando Corrêa para suceder Lacerda havia sido feita por Tarso Genro desde março, quando o atual diretor-geral da polícia era secretário nacional de Segurança Pública.
No Planalto, havia queixas de que a PF corria sem controle. Um irmão do presidente, Genival da Silva, o Vavá, foi grampeado pedindo dinheiro a um lobista. Até o presidente chegou a ser gravado indiretamente, conversando com Vavá, que estava grampeado, durante a Operação Xeque-Mate -investigação, em 2007, sobre o comércio ilegal de máquina de jogos. O nome Xeque-Mate levou Lula a avaliar que a operação tinha o objetivo de miná-lo, o que, na época, fez Lacerda perder pontos com o presidente.
Nascido em Anápolis (GO), Lacerda foi bancário antes de entrar na PF. Formou-se em direito pela faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Delegado desde 1977, comandou várias superintendências da PF, mas ganhou notoriedade ao investigar irregularidades durante o governo Collor e a prática de crimes financeiros que levaram à quebra do Banco Nacional, em 1995.
Aposentou-se em 1997, quando se tornou assessor do senador Romeu Tuma (DEM-SP), ex-diretor-geral da PF.
O ápice de sua carreira veio com o comando da PF, em 2003. Ele reestruturou o órgão e centralizou na sede, em Brasília, o comando de operações de repercussão nacional.
Com Lacerda, a área de inteligência foi priorizada e ganhou um braço operacional. Desse setor saíram megaoperações que deram visibilidade pública, mas renderam críticas à PF, devido à exposição de pessoas que poderiam ser inocentes. Foi o caso da Operação Hurricane, em que a PF algemou e prendeu três desembargadores.
As críticas ecoaram no Ministério da Justiça, que reprovou o que Tarso Genro chamou de "protagonização excessiva da PF", o que poderia violar o princípio constitucional da presunção da inocência.
Anteontem, dia de seu afastamento da Abin, Lacerda colocou o cargo à disposição, mas o presidente não aceitou. Lula, porém, cedeu às pressões do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, do presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), e do ministro da Defesa, Nelson Jobim.


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