São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Parlamentares defendem que Silvio Pereira seja novamente ouvido, após ele afirmar que cúpula do partido sabia do caixa dois

CPI quer reconvocar ex-secretário do PT

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Integrantes da CPI dos Correios e líderes dos partidos de oposição na Câmara defenderam ontem que o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira seja reconvocado para prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito após ter afirmado que todos os 21 membros da Executiva Nacional do PT sabiam da existência do esquema de caixa dois.
Para os oposicionistas, a declaração feita por Silvio, em entrevista gravada e publicada pela Folha ontem, prova que ele mentiu em seu depoimento à CPI, no dia 19 de julho, quando negou ter conhecimento do caixa dois, e sinaliza que poderia fazer novas revelações. Três dias depois de ser ouvido pela CPI dos Correios, Silvio se desfiliou do PT.
"Ninguém é hipócrita de achar que não sabia que existia caixa dois. Qual membro da direção do PT não sabia disso?", disse Silvio em entrevista.
Na entrevista, o ex-secretário-geral do partido defendeu Delúbio Soares (ex-tesoureiro e que não agiria sozinho), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (que não era dirigente do partido) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (que não se envolveria com o partido, segundo Silvio Pereira).
Em depoimento à CPI, entretanto, ele havia negado três vezes ter conhecimento do esquema, conforme consta das notas taquigráficas da sessão, em diferentes questionamentos feitos pelos deputados Pompeo de Mattos (PDT-RS), Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) e pelo senador Efraim de Moraes (PFL-PB).
"Ou ele tem de ser ouvido de novo ou temos de solicitar à Polícia Federal que o ouça para que esclareça o alcance desse caixa dois", afirmou o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
"Ele vai ser reconvocado para nominar a canalha, nominar quem sabia", disse a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que integra a CPI e chegou a participar da Executiva Nacional do PT antes de ser expulsa do partido, em 2003.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) disse que não havia lido as declarações e que foi informada por terceiros. Apesar de afirmar que "é algo que deve ser levado em conta" pela CPI, ela argumentou que uma reconvocação de Sílvio Pereira vai depender da repercussão das declarações na CPI e do espaço na agenda da comissão.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), um dos subrelatores da comissão, disse que a entrevista ratifica a tese de que alguns depoimentos foram "montados". "Foi uma decisão política do PT de achar que todo mundo é bobo. [A entrevista] Foi a confirmação do óbvio. Uma das marcas mais fortes que ficará quando acabar a CPI será o cinismo", afirmou.
"Tudo bem que ele estava com habeas corpus, mas mentiu e tem que ser reconvocado. Acho que deve muitas explicações", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que compõe a CPI dos Correios.
Para o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), o ex-secretário "só cometeu uma falha ao tentar salvar o presidente Lula". "Ele [Silvio] pode ser chamado de novo pela CPI, e o tribunal eleitoral [TSE] deve tomar uma atitude. A sociedade está cobrando o Congresso, mas agora deve cobrar também o tribunal", disse o parlamentar.
O líder do PSDB na Casa, Alberto Goldman (SP), seguiu a mesma linha. "À exceção do militante, todo mundo sabia, até o presidente", afirmou.
O estopim para a queda de Silvio e sua saída do PT foi a descoberta de que ele recebeu um carro no valor de R$ 73,5 mil de um empresário beneficiado com contratos públicos. À CPI, ele também havia negado ter amizade com o empresário, mas recuou após o próprio empresário admitir tê-lo presenteado com uma Land Rover.


Colaborou Sheila D'Amorim, da Sucursal de Brasília

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