São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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Após fracasso, governo quer estender buscas no Araguaia

Prazo acaba no dia 31; nova fase deve começar em abril

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARABÁ

Depois de três meses de busca de ossadas de guerrilheiros do Araguaia sem conseguir achar nada, o governo já diz que é necessário prorrogar as operações até 2010. Até agora, o gasto foi de R$ 2,4 milhões.
A intenção foi anunciada ontem durante a visita dos ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) ao grupo de geólogos, legistas e antropólogos responsáveis pelos escavações, na região de Marabá (PA).
A visita à área ocorreu na reta final das buscas, que têm, segundo decisão judicial, até o dia 31 deste mês para localizar os restos mortais daqueles que participaram do foco comunista criado há 37 anos para combater a ditadura militar.
Ao final do prazo, a Justiça poderá ordenar a prorrogação. O Ministério Público Federal já disse que pedirá a extensão. A ação só deve recomeçar quando acabar o período de chuvas na região, em abril de 2010.
Até agora, os mais de 60 homens que participam das buscas visitaram 13 áreas, onde cavaram 36 buracos -indicados por mateiros, moradores locais e militares que participaram da repressão à guerrilha. No total, foram rastreados aproximadamente 28 mil m2.
O maior problema enfrentado, além da incerteza sobre os locais dos enterros, é a ação do tempo sobre os corpos, que podem ter se deteriorado completamente debaixo da terra.
Segundo Jobim e Vannuchi, que integram um comitê que acompanha o grupo e ontem estiveram pela primeira vez no local, o fracasso não deve inibir a continuidade dos trabalhos.
"Os atos [que serão] desenvolvidos não podem ser influenciados pelos atos anteriores", disse Jobim na fazenda Bacaba, antiga base do Exército onde supostamente diversas pessoas foram enterradas.
Apesar de terem ganhado mais confiança da população local -o que tem melhorado a qualidade das dicas dadas- alguns membros do comitê acreditam que resultados melhores só virão com o depoimento maciço de militares envolvidos na última fase do conflito.
Vannuchi concorda, mas por meio do diálogo, e não de medidas judiciais. "Como você obriga alguém a falar? No pau-de-arara, com choque elétrico, com afogamento? Na democracia, nós temos que fazer o convencimento", afirmou.
Hoje, quatro militares estão intimados a depor, entre eles, Sebastião Curió, que participou da repressão. Ele deve contar o que sabe ainda neste mês.
Ontem, duas buscas fracassaram. Numa delas, em São Geraldo do Araguaia (PA), o plano era achar a ossada de Rosalindo de Sousa, o "Mundico". Na segunda, na fazenda Bacaba, descobriu-se apenas uma raiz.


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