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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Ação foi deflagrada após gravação telefônica captar instruções para acusados destruírem documentos

Denúncias podem atingir mais policiais

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Federal poderá oferecer denúncia contra mais policiais federais de São Paulo e de outros Estados que estariam também envolvidos no esquema que negociava a venda de sentenças judiciais, a liberação de mercadorias contrabandeadas e as maneiras para dificultar a incriminação de suspeitos ainda na fase de inquérito.
Os procuradores da República que estão à frente da Operação Anaconda deverão se reunir hoje para decidir se pedem a prorrogação da prisão preventiva dos envolvidos. Prevê-se ainda uma reunião extraordinária do Órgão Especial do TRF para decidir sobre o eventual afastamento dos juízes federais João Carlos da Rocha Mattos, Casem Mazloum e Ali Mazloum -que foram denunciados por formação de quadrilha, entre outros crimes.
Somente hoje os denunciados deverão receber a intimação, com cópia das denúncias. Terão 15 dias para oferecer defesa. Pelo teor das entrevistas concedidas pelo juiz Rocha Mattos e pelos irmãos Mazloum, os procuradores avaliam que esses magistrados ainda não têm um quadro completo da amplitude das denúncias e dos crimes de que são acusados.
A Operação Anaconda prendeu oito pessoas na última quinta-feira -dois delegados, um da ativa e outro aposentado, um agente da Polícia Federal, dois advogados, dois empresários e a ex-mulher do juiz Rocha Mattos. Agora, as medidas deverão se estender a outros Estados e poderão envolver novas prisões.
Ela foi deflagrada na última semana porque houve um monitoramento das conversas telefônicas que identificou instruções transmitidas entre advogados.
A Polícia Federal percebeu que os envolvidos suspeitavam que, nos próximos dias, seria deflagrada alguma blitz. Foram captadas instruções, às vésperas da operação, para que fossem destruídos documentos e para que fossem retirados computadores dos escritórios. Havia um risco real de que sumissem documentos e comprovantes das ligações entre policiais, advogados e juízes.

Judiciário
Os procuradores que atuam no caso rebatem a alegação do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos de que o Tribunal Regional Federal só teria distribuído os procedimentos nos dias 20 e 21 de outubro. Ou seja, segundo a alegação do magistrado, as investigações da Polícia Federal teriam sido ilegais, porque feitas sem autorização do Judiciário.
A distribuição, porém, foi feita na primeira quinzena de agosto. Ou seja, o TRF sabia, desde então, que a Polícia Federal e o MPF estavam investigando os juízes federais. O decreto de busca e apreensão foi firmado na véspera. A operação foi cercada de grandes cuidados para evitar vazamentos.
Trabalharam na operação de busca e apreensão 14 procuradores da República, ao lado da equipe de 140 policiais federais. Todos os cuidados foram tomados para evitar a comunicação entre os próprios policiais durante a apreensão.
Os agentes chegaram a São Paulo na quarta-feira da semana passada, véspera da ação. Foram recolhidos todos os telefones celulares dos agentes. Eles não tinham idéia de quem seriam as pessoas que teriam suas casas e os escritórios revistados no dia seguinte.
Os procuradores da República rebatem a queixa do juiz Rocha Mattos de que teria havido excesso no aparato policial, ao terem invadido o apartamento de sua ex-mulher, Norma Regina Emílio Cunha, com submetralhadoras.
Como reforço desse argumento, citam que na residência do agente da Polícia Federal César Herman Rodriguez -um dos oito presos na quinta-feira e que seria um dos mentores da organização- foram apreendidas muitas armas.
A Operação Anaconda também chegou a apreender US$ 550.549 e dois quilos de ouro em barra na casa da ex-mulher de Rocha Mattos. Há indicação da existência de depósitos na Suíça.



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