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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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Operação da PF já teria localizado US$ 6,2 milhões em paraíso fiscal

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Operação Anaconda, da Polícia Federal, que investiga um grupo especializado na venda de sentenças judiciais em alguns Estados, já teria identificado depósitos de até US$ 6,2 milhões em bancos da Suíça e das Ilhas Cayman.
A empresa titular das contas teria vínculos com um dos juízes denunciados pelo Ministério Público Federal. O valor foi confirmado pelo vice-presidente da CPI da Pirataria, deputado Julio Lopes (PP-RJ), que está acompanhando as investigações.
Na tentativa de obter provas contra os juízes federais Ali Mazloum e Casem Mazloum, a CPI vai tomar hoje o depoimento do ex-delegado da Polícia Federal Gilberto Américo. Os dois magistrados foram denunciados pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha.
Quando era delegado de investigações especiais da PF paulista, Américo protagonizou alguns embates com os dois juízes, que são irmãos e atuam em varas criminais. O principal deles diz respeito à ordem de prisão assinada por Ali contra o ex-policial.
Durante investigação de uma fraude milionária -um captador de investimentos sumiu com US$ 70 milhões de diversos clientes-, Américo apreendeu um computador com diversos nomes, entres os quais os dos dois magistrados. Ali Mazloum atribui o caso à manipulação de provas.
O juiz determinou a prisão do ex-delegado, cujo advogado era o hoje ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os computadores foram enviados para a perícia, que constatou normalidade. Libertado, o então policial pediu exoneração.
No cargo, Américo chocou-se com o Judiciário paulista em outras duas ocasiões. Pediu a prisão dos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta, por irregularidades no uso de precatórios (emissão de títulos públicos para pagar supostas dívidas judiciais).
Em 1997, apreendeu 80 contêineres com carga supostamente contrabandeada por Law Kin Chong, chinês considerado o rei da pirataria pela Polícia Federal de São Paulo. O material foi devolvido ao dono por ordem do ex-desembargador Paulo Theotonio da Costa, afastado do Tribunal Regional Federal.
O depoimento de Américo à CPI ganhou importância a partir da Operação Anaconda, deflagrada pela PF na semana passada. Foram presas oito pessoas, entre elas dois delegados da própria PF, um da ativa e outro aposentado, e um agente federal. Além dos irmãos Mazloum, também foi denunciado como parte integrante do grupo o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos.
Uma das linhas de investigação tenta comprovar o relacionamento entre Mattos e Law Kin Chong. O chinês teria presenteado o magistrado com um aparelho de TV, apreendido na casa da ex-mulher do juiz, Norma Regina Emílio Cunha, também presa na operação.
"Recebemos a denúncia de que o Rocha Mattos mudou o plantão para libertar o Lobão às 18h. Havia um avião esperando por ele no Campo de Marte, com rota para o Paraguai", disse o deputado. Lobão é a alcunha de Roberto Eleutério da Silva, um dos maiores contrabandistas de cigarros do país, preso em setembro pela Polícia Federal.
Segundo o vice-presidente da CPI, Américo deve apresentar o nome de outros dois magistrados envolvidos no esquema. Ontem, a Folha antecipou que a PF ainda reúne evidências contra uma juíza federal de São Paulo.



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