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Operação da PF já teria localizado US$ 6,2 milhões em paraíso fiscal
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Operação Anaconda, da Polícia Federal, que investiga um grupo especializado na venda de sentenças judiciais em alguns Estados, já teria identificado depósitos
de até US$ 6,2 milhões em bancos
da Suíça e das Ilhas Cayman.
A empresa titular das contas teria vínculos com um dos juízes
denunciados pelo Ministério Público Federal. O valor foi confirmado pelo vice-presidente da CPI
da Pirataria, deputado Julio Lopes
(PP-RJ), que está acompanhando
as investigações.
Na tentativa de obter provas
contra os juízes federais Ali Mazloum e Casem Mazloum, a CPI
vai tomar hoje o depoimento do
ex-delegado da Polícia Federal
Gilberto Américo. Os dois magistrados foram denunciados pelo
Ministério Público Federal por
formação de quadrilha.
Quando era delegado de investigações especiais da PF paulista,
Américo protagonizou alguns
embates com os dois juízes, que
são irmãos e atuam em varas criminais. O principal deles diz respeito à ordem de prisão assinada
por Ali contra o ex-policial.
Durante investigação de uma
fraude milionária -um captador
de investimentos sumiu com US$
70 milhões de diversos clientes-,
Américo apreendeu um computador com diversos nomes, entres
os quais os dos dois magistrados.
Ali Mazloum atribui o caso à manipulação de provas.
O juiz determinou a prisão do
ex-delegado, cujo advogado era o
hoje ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. Os computadores foram enviados para a perícia,
que constatou normalidade. Libertado, o então policial pediu
exoneração.
No cargo, Américo chocou-se
com o Judiciário paulista em outras duas ocasiões. Pediu a prisão
dos ex-prefeitos Paulo Maluf e
Celso Pitta, por irregularidades
no uso de precatórios (emissão de
títulos públicos para pagar supostas dívidas judiciais).
Em 1997, apreendeu 80 contêineres com carga supostamente
contrabandeada por Law Kin
Chong, chinês considerado o rei
da pirataria pela Polícia Federal
de São Paulo. O material foi devolvido ao dono por ordem do ex-desembargador Paulo Theotonio
da Costa, afastado do Tribunal
Regional Federal.
O depoimento de Américo à
CPI ganhou importância a partir
da Operação Anaconda, deflagrada pela PF na semana passada.
Foram presas oito pessoas, entre
elas dois delegados da própria PF,
um da ativa e outro aposentado, e
um agente federal. Além dos irmãos Mazloum, também foi denunciado como parte integrante
do grupo o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos.
Uma das linhas de investigação
tenta comprovar o relacionamento entre Mattos e Law Kin Chong.
O chinês teria presenteado o magistrado com um aparelho de TV,
apreendido na casa da ex-mulher
do juiz, Norma Regina Emílio Cunha, também presa na operação.
"Recebemos a denúncia de que
o Rocha Mattos mudou o plantão
para libertar o Lobão às 18h. Havia um avião esperando por ele no
Campo de Marte, com rota para o
Paraguai", disse o deputado. Lobão é a alcunha de Roberto Eleutério da Silva, um dos maiores
contrabandistas de cigarros do
país, preso em setembro pela Polícia Federal.
Segundo o vice-presidente da
CPI, Américo deve apresentar o
nome de outros dois magistrados
envolvidos no esquema. Ontem, a
Folha antecipou que a PF ainda
reúne evidências contra uma juíza federal de São Paulo.
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