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Aliados com mais repasses obtêm vitórias nas urnas
Eleição teve alto índice de reeleição e fragmentação local da coalização federal
Partidos que integram base de apoio a Lula ganharam em 28 entre as 30 grandes cidades mais beneficiadas com liberação de verbas
Marcelo Nogare - 14.jun.06/Folha Imagem
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Lindberg Farias ao lado de Lula, em evento do programa Mova Brasil, em Nova Iguaçu (RJ)
RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL
Partidos que integram nacionalmente a coalizão que dá sustentação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva saíram vitoriosos das urnas em 28 das 30
grandes cidades que, proporcionalmente à população, foram mais beneficiadas com
contratos para recebimento de
verbas federais de investimento entre 2005 e maio de 2008.
O "sucesso" eleitoral dos governistas difere do que foi observado em 2004, quando oposicionistas conseguiram crescer no grupo de cidades que
mais dinheiro federal obteve
naquele ano. Apesar dos dados,
não é possível estabelecer relação direta entre o investimento
federal nas cidades e o sucesso
de seus aliados.
Isso ocorre por diversos fatores, como especificidades das
disputas locais, o forte continuísmo observado nessas eleições (e várias das cidades já
eram comandadas por governistas), além de que, em alguns
municípios, houve derrota do
candidato mais alinhado ao Palácio do Planalto, apesar de o
vencedor também pertencer a
um partido governista.
O fato é que em 2004 o dinheiro que o governo tinha para investimentos era menos da
metade do que possui neste
ano, em valores já atualizados.
Em 2008, o orçamento autorizado para investimentos federais é de R$ 42,4 bilhões; em
2004, era de R$ 15,2 bilhões.
O levantamento da Folha
considera os contratos firmados entre o governo e as prefeituras relativos aos chamados
recursos voluntários -dinheiro direcionado para obras como construção de quadras,
praças, reformas de hospitais e
urbanização de favelas. Exclui,
portanto, a verba que o governo repassa obrigatoriamente
para os municípios, além daquele investimento federal na
cidade que é feito de forma direta (sem contrato com a prefeitura) ou por meio de convênio com o governo do Estado.
Dos 30 grandes municípios
mais beneficiados com esse tipo de contrato, apenas Blumenau (DEM) e Cuiabá (PSDB)
elegeram prefeitos de partidos
de oposição. O mais beneficiado proporcionalmente pelos
convênios, Boa Vista (RR), reelegeu Iradilson Sampaio (PSB)
no primeiro turno.
O presidente da Confederação Nacional de Municípios,
Paulo Ziulkoski, diz acreditar
que o dinheiro de Brasília tem
influência preponderante em
eleições de municípios pequenos. "Não digo que não tenha
nenhuma influência, mas é
muito menor do que nas pequenas cidades. O que influi
nas grandes cidades são outras
situações. O único prefeito [de
capital] que não se reelegeu, o
Serafim Corrêa [PSB], de Manaus, toda semana estava dentro do Palácio [do Planalto] trabalhando e levando muito dinheiro para lá [Manaus]. E não
conseguiu a reeleição", afirmou Ziulkoski.
Segundo a confederação,
67% dos prefeitos que tentaram a reeleição neste ano se
reelegeram. Em relação às capitais, 19 dos 20 que tentaram
novo mandato obtiveram sucesso, índice recorde desde
2000, ano em que a recondução ao cargo passou a vigorar
para os prefeitos.
Um exemplo de vitória governista sob a ótica da coalizão
federal que representa uma
derrota pela ótica local ocorreu
em Natal, onde Lula apoiou a
candidata do PT, Fátima Bezerra, derrotada ainda no primeiro turno por Micarla de
Souza, que é do PV, partido
aliado nacionalmente a Lula.
O cientista político Carlos
Ranulfo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais),
lembra que uma eleição envolve vários fatores, mas afirma
que vê a força do continuísmo
como muito mais determinante nessas eleições do que ligações entre o dinheiro de Brasília e o resultado das urnas.
"Acho que a tendência da
reeleição é muito mais forte.
Uma eleição é resultado de vários fatores. Se for isolar, provavelmente o fato de a pessoa
estar no cargo e ter feito um
bom mandato é muito mais
forte. Agora, é claro, o fato de
ter dinheiro liberado facilita a
reeleição", afirma ele, que também aponta a dificuldade de estabelecer coerência entre a
coalizão nacional lulista e as
realidades locais.
"Acho que a base do governo
Lula é muito ampla e se digladiou em tudo quanto é canto.
Houve vários lugares em que
ela não existia. Quando você
tem uma base composta de dez,
12 partidos, é difícil falar em "a
base do governo Lula". Para
mim, a base do governo Lula na
eleição municipal não significou nada", declarou.
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