São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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Aliados com mais repasses obtêm vitórias nas urnas

Eleição teve alto índice de reeleição e fragmentação local da coalização federal

Partidos que integram base de apoio a Lula ganharam em 28 entre as 30 grandes cidades mais beneficiadas com liberação de verbas

Marcelo Nogare - 14.jun.06/Folha Imagem
Lindberg Farias ao lado de Lula, em evento do programa Mova Brasil, em Nova Iguaçu (RJ)

RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL

Partidos que integram nacionalmente a coalizão que dá sustentação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva saíram vitoriosos das urnas em 28 das 30 grandes cidades que, proporcionalmente à população, foram mais beneficiadas com contratos para recebimento de verbas federais de investimento entre 2005 e maio de 2008.
O "sucesso" eleitoral dos governistas difere do que foi observado em 2004, quando oposicionistas conseguiram crescer no grupo de cidades que mais dinheiro federal obteve naquele ano. Apesar dos dados, não é possível estabelecer relação direta entre o investimento federal nas cidades e o sucesso de seus aliados.
Isso ocorre por diversos fatores, como especificidades das disputas locais, o forte continuísmo observado nessas eleições (e várias das cidades já eram comandadas por governistas), além de que, em alguns municípios, houve derrota do candidato mais alinhado ao Palácio do Planalto, apesar de o vencedor também pertencer a um partido governista.
O fato é que em 2004 o dinheiro que o governo tinha para investimentos era menos da metade do que possui neste ano, em valores já atualizados.
Em 2008, o orçamento autorizado para investimentos federais é de R$ 42,4 bilhões; em 2004, era de R$ 15,2 bilhões.
O levantamento da Folha considera os contratos firmados entre o governo e as prefeituras relativos aos chamados recursos voluntários -dinheiro direcionado para obras como construção de quadras, praças, reformas de hospitais e urbanização de favelas. Exclui, portanto, a verba que o governo repassa obrigatoriamente para os municípios, além daquele investimento federal na cidade que é feito de forma direta (sem contrato com a prefeitura) ou por meio de convênio com o governo do Estado.
Dos 30 grandes municípios mais beneficiados com esse tipo de contrato, apenas Blumenau (DEM) e Cuiabá (PSDB) elegeram prefeitos de partidos de oposição. O mais beneficiado proporcionalmente pelos convênios, Boa Vista (RR), reelegeu Iradilson Sampaio (PSB) no primeiro turno.
O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, diz acreditar que o dinheiro de Brasília tem influência preponderante em eleições de municípios pequenos. "Não digo que não tenha nenhuma influência, mas é muito menor do que nas pequenas cidades. O que influi nas grandes cidades são outras situações. O único prefeito [de capital] que não se reelegeu, o Serafim Corrêa [PSB], de Manaus, toda semana estava dentro do Palácio [do Planalto] trabalhando e levando muito dinheiro para lá [Manaus]. E não conseguiu a reeleição", afirmou Ziulkoski.
Segundo a confederação, 67% dos prefeitos que tentaram a reeleição neste ano se reelegeram. Em relação às capitais, 19 dos 20 que tentaram novo mandato obtiveram sucesso, índice recorde desde 2000, ano em que a recondução ao cargo passou a vigorar para os prefeitos.
Um exemplo de vitória governista sob a ótica da coalizão federal que representa uma derrota pela ótica local ocorreu em Natal, onde Lula apoiou a candidata do PT, Fátima Bezerra, derrotada ainda no primeiro turno por Micarla de Souza, que é do PV, partido aliado nacionalmente a Lula.
O cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), lembra que uma eleição envolve vários fatores, mas afirma que vê a força do continuísmo como muito mais determinante nessas eleições do que ligações entre o dinheiro de Brasília e o resultado das urnas.
"Acho que a tendência da reeleição é muito mais forte. Uma eleição é resultado de vários fatores. Se for isolar, provavelmente o fato de a pessoa estar no cargo e ter feito um bom mandato é muito mais forte. Agora, é claro, o fato de ter dinheiro liberado facilita a reeleição", afirma ele, que também aponta a dificuldade de estabelecer coerência entre a coalizão nacional lulista e as realidades locais.
"Acho que a base do governo Lula é muito ampla e se digladiou em tudo quanto é canto. Houve vários lugares em que ela não existia. Quando você tem uma base composta de dez, 12 partidos, é difícil falar em "a base do governo Lula". Para mim, a base do governo Lula na eleição municipal não significou nada", declarou.


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