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ANÁLISE
Bloco comercial enfrenta a sua maior crise
CLÁUDIA TREVISAN
EDITORA-ADJUNTA DE BRASIL
O Mercosul "relançado"
ontem pela enésima vez na
visita de Luiz Inácio Lula da Silva
à Argentina enfrenta a crise mais
grave desde sua implementação,
em 91. O fluxo de comércio entre
os quatro sócios despencou nos
últimos 12 meses e está hoje no
mesmo nível de uma década
atrás, antes da redução de tarifas
dentro do bloco.
Não por acaso, Lula adotou ontem em Buenos Aires um discurso político, que privilegia a integração institucional em detrimento da comercial: defendeu o
parlamento do Mercosul e a adoção de uma moeda comum.
Mas é inegável o estrago que a
crise argentina e a instabilidade
econômica no Brasil provocaram
no principal objetivo do Mercosul, que é o aumento do comércio
regional. Todos os sócios reduziram a importância econômica
que tinham para seus parceiros, a
ponto de pulverizar os avanços
obtidos na última década com a
integração e o corte de tarifas.
As vendas do Brasil para a Argentina sofreram o maior golpe.
Entre janeiro e outubro, as exportações caíram 60%, para US$ 1,87
bilhão, o que derrubou o país vizinho da segunda para a quinta colocação no ranking dos principais
destinos de produtos brasileiros,
atrás dos Estados Unidos, União
Européia, Holanda e México.
A Argentina fica com 3,7% das
exportações brasileiras, um terço
do que era registrado no ano passado. O vácuo deixado pelo país
vizinho foi ocupado pelos EUA,
que passaram a ser o principal
mercado para o Brasil, superando
a União Européia. Entre janeiro e
outubro, os norte-americanos garantiram 25% das vendas externas brasileiras, com a aquisição de
bens de alto valor agregado, como
aviões e celulares.
É nesse cenário que entra a discussão sobre a conveniência de o
Mercosul negociar um acordo de
livre comércio com os Estados
Unidos, que seria implementado
antes da criação da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas),
prevista para 2005. A idéia foi defendida pelo senador eleito Aloizio Mercadante, um dos principais líderes do PT, e conta com a
simpatia da Argentina.
Os Estados Unidos começaram
a negociar uma série de tratados
bilaterais de livre comércio a partir de agosto, quando o Congresso
norte-americano aprovou a TPA
(Autoridade de Promoção Comercial), que dá ao presidente
George W. Bush poder para negociar acordos sem o risco de eles serem alterados pelos parlamentares. A estratégia norte-americana
significa que a Alca poderá ser implementada aos poucos, com a liberação do comércio entre os
EUA e determinados países.
Apesar do discurso que privilegia o Mercosul, Lula poderá ser
obrigado a adotar uma postura
mais pragmática e entrar na onda
de negociações diretas com os
norte-americanos. Ainda não está
clara a posição do novo governo,
mas alguma pista deverá ser dada
no encontro que Lula e Bush terão
na próxima semana.
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