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ELIO GASPARI
A conta equatoriana da prepotência de Bush
O presidente Rafael Correa quer que os EUA saiam
da base de Manta em
2009. Faz muito bem
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COMEÇOU UMA boa encrenca para
a diplomacia imperial do governo de George Bush. A eleição de
Rafael Correa para a Presidência do
Equador confrontou a política de canhoneiras que os Estados Unidos tentam impor à América do Sul. Ele anunciou que mandará para casa os 400 militares americanos da base aeronaval
de Manta, onde os Estados Unidos
construíram uma das melhores pistas
de pouso do continente.
A base de Manta foi cedida em 1999,
por dez anos, para permitir a vigilância
do cultivo de coca na Colômbia e do
narcotráfico internacional naquele
pedaço da costa do Pacífico. Até aí,
tudo bem.
A prepotência revelou-se nos lances
seguintes. Os americanos transformaram o que seria uma colaboração contra o narcotráfico numa operação policial doméstica. Navios da guarda-costeira e da Marinha dos Estados Unidos
passaram a patrulhar águas equatorianas. Capturaram dezenas de barcos e
detiveram milhares de cidadãos. Puseram a pique pelo menos oito embarcações (vazias).
Em 2001, uma fragata apresou o
pesqueiro Daiki Maru. Prenderam a
tripulação por cinco dias e esburacaram o casco do barco. Não acharam nada e deixaram um prejuízo de US$ 2
milhões. O dono do pesqueiro processou a governo americano numa Corte
de Miami.
No ano passado, um ex-funcionário
da empreiteira de segurança DynCorp
foi ao ar oferecendo empregos de até
US$ 5 mil no Iraque. Recrutava nativos
para trabalhar num país ocupado militarmente pelos Estados Unidos. Um
grupo de trabalho da ONU que investiga o mercado de mercenários foi a
Manta e divulgou um relatório em setembro.
O presidente Rafael Correa quer que
os americanos façam as malas em
2009. O contrato inicial podia ter justificativa. Sua degradação recomenda o
fim da experiência.
Briga boa, pois, se a América do Sul
não acordar, a próxima base de Guantánamo ficará aqui por perto.
FLORIANO SOUBE OUVIR AS CANHONEIRAS
A base americana de Manta
parece uma coisa longínqua,
assim como o projeto de outra, a de Marechal Estigarribia, no Paraguai, parece coisa
arquivada. Para quem dorme
em berço esplêndido, a soberania nacional brasileira soa
como um atributo concedido
por Deus. Engano.
Em 1964, os americanos armaram uma frota para apoiar
a rebelião que depôs o presidente João Goulart. Não foi
necessária. Em 1941, planejaram o bombardeio das praias
de Natal, para ocupar o aeroporto da cidade, essencial para o esforço de guerra dos
Aliados. Também não houve
necessidade.
Outra intervenção, mais remota, é menos conhecida. Em
1893, quando o almirante
Custódio de Mello rebelou a
Marinha contra o governo do
marechal Floriano Peixoto, os
Estados Unidos puseram na
baía de Guanabara cinco navios de guerra, o equivalente a
80% de sua esquadra no
Atlântico Sul. Foi a maior mobilização naval americana em
águas estrangeiras. Seis representantes de potências européias recomendavam o reconhecimento do governo rebelde. Quando Custódio anunciou que bloquearia a baía, o
almirante Andrew Benham
avisou que furaria a couraça a
bala. Numa rápida sucessão
de acontecimentos, Benham
entrevistou-se com Floriano
num dia e o marechal convocou eleições presidenciais no
outro. Acabou assim a fase crítica da Revolta da Armada (e
da banca).
O que o almirante falou com
Floriano não se sabe, pois seus
telegramas estão indecifrados. Ocorrida cinco anos antes
da intervenção na guerra pela
independência de Cuba, a
ação de Benham é considerada o primeiro episódio da diplomacia das canhoneiras
americanas. (Essa história,
com suas conexões comerciais e financeiras, está no excepcional livro "Trade and
Gunboats" -Comércio e Canhoneiras-, do historiador
americano Steven Topik, infelizmente inédito em português.)
BRASIL GRANDE
David Rockefeller passou uns
dias em SP. Impressionou-se
com o tráfego de helicópteros e
ficou com a suspeita de que o de
Nova York é menor. A classe média americana não está preparada para a pujança de Pindorama.
O dr. vai a pé do escritório, no
Rockefeller Center, a seu restaurante predileto, o Four Seasons.
LULA KETI
Durante o tucanato, a ekipekonômica só anunciava a doutrina
Zé Keti de desenvolvimento no
fim de dezembro. Diante dos números ruinosos de cada ano que
terminava, sacava contra o futuro: "Este ano não vai ser igual
àquele que passou". Em maio de
2003, Nosso Guia informou: "Como diria meu lado musical, estamos afinando a orquestra. Logo o
espetáculo do crescimento vai
começar". Diante da ruína de
2006, após três anos de desafino,
seu lado teatral invocou Zé Keti
ainda em novembro: "Não estou
mais pensando em 2006".
QUARUP
Não é justo reclamar da Vale do
Rio Doce por não repassar os R$
9 milhões que prometera aos xicrins. Ela trocou de tribo. Em vez
de ajudar os xicrins, socorre o cacique Lula. Deu R$ 4 milhões a
Nosso Guia e R$ 36 milhões a outros candidatos. O Bolsa-Vale
ajudou a eleger 46 deputados.
MAU CAMINHO
Celso Amorim não tem caneta
nem tinta para segurar o surto
napoleônico de que está atacado.
Demitiu o embaixador em Washington com telegrama de motorista. Dispensou o cacique Paes
de Andrade da Embaixada em
Lisboa por telefone. Pela narrativa da vítima, de forma pouco elegante. Há chanceleres que passam pelo poder como se ele fosse
só um trecho do percurso. (Vasco
Leitão da Cunha e Mário Gibson
Barboza, por exemplo). Outros
supõem que o Diário Oficial traz
glória eterna. A vida lhes reserva
tristeza e ressentimento.
MINISTRO 7X3
O ministro Joaquim Barbosa, do STF (Supremo Tribunal
Federal), corre o risco de se
transformar num minoritário
crônico.
Homem de etiqueta própria,
convive com dez colegas e já se
desentendeu com três deles.
Marco Aurélio de Mello chegou a negar-lhe a mão.
Eros Grau deixou de cumprimentá-lo por bom tempo.
Voltaram à cordialidade há
pouco, graças aos bons ofícios
do ministro Carlos Brito.
Um terceiro, Gilmar Mendes, mantém com Barbosa relações monossilábicas.
EREMILDO VAI À CNI
Eremildo é um idiota e quer
entrar numa reforma proposta
por empresários. Qualquer
uma.
Entusiasmou-se ao ouvir o
doutor Armando Monteiro
Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria,
afirmar o seguinte:
"Ligar a ignição do crescimento exige atacar frontalmente a questão fiscal. Esse
não é um problema que admite soluções simplistas. Reconhecer sua complexidade é o
primeiro passo para acertar".
Como o idiota acha que toda
platitude tem um fundo de
verdade, foi buscar luzes na
CNI.
Achou uma reivindicação:
os doutores querem ampliar
o tempo de recolhimento
dos impostos que devem à
Viúva. Atualmente ele é de 30
dias, na média. Parece que
querem 45.
Eremildo vai procurar o
doutor Armando para pedir
que batalhe pela extensão
desse benefício aos impostos
que paga. São todos retidos na
boca do caixa, tanto do salário
que recebe como da cachaça
que bebe.
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