São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Coalizão só sai se Lula domar o PT, dizem especialistas

"Presidente não pode lavar as mãos", diz Fabiano Santos

DA REPORTAGEM LOCAL

Para analistas ouvidos pela Folha, mais do que do bom comportamento do PMDB, o sucesso da coalizão que o Palácio do Planalto quer montar dependerá da cooperação do PT.
Para que o PT colabore e abra espaço para os aliados sem grita, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de intervir, diz o professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) Fabiano Santos. "O presidente Lula não pode lavar as mãos", afirma.
Para ele, a atuação "surpreendentemente amadorística" do partido, de longa vida no Congresso, foi responsável pelo bolo legislativo desandar no primeiro mandato. "O PT ficou patinando. Se agora afinar o discurso com o governo, já é 50% do trabalho."
Mas, para o cientista político Octavio Amorim Neto, o enquadramento do PT é difícil, mesmo que o presidente participe, por conta da "vocação hegemonista" do partido e por causa da luta pela sobrevivência pós-era Lula.
"O partido vai querer espaço porque quer sobreviver terminado o segundo mandato. O PT está olhando num horizonte mais amplo do que o de Lula e isso impõe limites à influência interna do partido", diz Amorim, que é autor de "Presidencialismo e Governabilidade nas Américas" (FGV, 2006).
Embora o PT tenha aprovado o governo de coalização, as declarações do secretário-geral, Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, dão idéia de que ainda há discussão pela frente sobre a adesão peemedebista. Isso sem contar as vozes contra a alianças vindas de fora do PT, como a do ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE).
"Nós aprovamos a coalizão, mas eu tenho minhas opiniões. Temos de manter a campanha para que os partidos tenham atuação nacional. Como é possível o PMDB estar coligado com o governo federal e apoiar o governo do PSDB, o principal adversário, no Rio Grande do Sul?", diz ele, para quem é preciso ter "paciência" e "ironia" para tratar do tema.

Mapa
Celso Roma, pesquisador do Grupo de Estudos Legislativos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), explica que o PT, no governo, rompeu com pelo menos dez anos de modelo de coalizões contínuas, do ponto de vista ideológico -sob Itamar Franco e na era FHC, havia uma aliança de centro-direita.
O resultado das mudanças com a chegada do PT ao poder, como a cooptação de partidos à direita para o primeiro governo Lula, diz ele, pode ser visto nas mudanças de comportamento de alguns partidos na Câmara.
Com base em um programa criado para medir a distância de posicionamento entre os votos de democratas e republicanos nos EUA, Roma gerou um gráfico sobre os partidos brasileiros, alimentado pelas votações nominais na Câmara (leia no alto desta página).
O pesquisador sustenta que, mais do que opor oposição e situação ao longo do tempo, o mapa mostra as distâncias e a distribuição dos partidos entre esquerda, direita e centro.
Além de flagrar uma aproximação entre as posições de PT e PSDB ao longo do tempo -ou seja, a guinada dos petistas ao centro-, o gráfico, diz Roma, também mostra o deslocamento de partidos sem afinidade ideológica atraídos para a base do governo petista.
"O PP, como mostra o gráfico, sempre esteve alinhado na centro-direita e, com a chegada do PT ao poder, rabisca o mapa e passa para o outro lado do espectro", afirma. O gráfico é parte da tese de doutorado de Roma, apresentada na USP em 2005. (FM)


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