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Coalizão só sai se Lula domar o PT, dizem especialistas
"Presidente não pode lavar
as mãos", diz Fabiano Santos
DA REPORTAGEM LOCAL
Para analistas ouvidos pela
Folha, mais do que do bom
comportamento do PMDB, o
sucesso da coalizão que o Palácio do Planalto quer montar dependerá da cooperação do PT.
Para que o PT colabore e abra
espaço para os aliados sem grita, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de intervir, diz o
professor do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro) Fabiano Santos. "O presidente Lula não pode lavar as mãos", afirma.
Para ele, a atuação "surpreendentemente amadorística" do partido, de longa vida no
Congresso, foi responsável pelo
bolo legislativo desandar no
primeiro mandato. "O PT ficou
patinando. Se agora afinar o
discurso com o governo, já é
50% do trabalho."
Mas, para o cientista político
Octavio Amorim Neto, o enquadramento do PT é difícil,
mesmo que o presidente participe, por conta da "vocação hegemonista" do partido e por
causa da luta pela sobrevivência pós-era Lula.
"O partido vai querer espaço
porque quer sobreviver terminado o segundo mandato. O PT
está olhando num horizonte
mais amplo do que o de Lula e
isso impõe limites à influência
interna do partido", diz Amorim, que é autor de "Presidencialismo e Governabilidade nas
Américas" (FGV, 2006).
Embora o PT tenha aprovado
o governo de coalização, as declarações do secretário-geral,
Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, dão idéia de
que ainda há discussão pela
frente sobre a adesão peemedebista. Isso sem contar as vozes
contra a alianças vindas de fora
do PT, como a do ex-ministro
Ciro Gomes (PSB-CE).
"Nós aprovamos a coalizão,
mas eu tenho minhas opiniões.
Temos de manter a campanha
para que os partidos tenham
atuação nacional. Como é possível o PMDB estar coligado
com o governo federal e apoiar
o governo do PSDB, o principal
adversário, no Rio Grande do
Sul?", diz ele, para quem é preciso ter "paciência" e "ironia"
para tratar do tema.
Mapa
Celso Roma, pesquisador do
Grupo de Estudos Legislativos
do Cebrap (Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento), explica que o PT, no governo,
rompeu com pelo menos dez
anos de modelo de coalizões
contínuas, do ponto de vista
ideológico -sob Itamar Franco
e na era FHC, havia uma aliança de centro-direita.
O resultado das mudanças
com a chegada do PT ao poder,
como a cooptação de partidos à
direita para o primeiro governo
Lula, diz ele, pode ser visto nas
mudanças de comportamento
de alguns partidos na Câmara.
Com base em um programa
criado para medir a distância
de posicionamento entre os votos de democratas e republicanos nos EUA, Roma gerou um
gráfico sobre os partidos brasileiros, alimentado pelas votações nominais na Câmara (leia
no alto desta página).
O pesquisador sustenta que,
mais do que opor oposição e situação ao longo do tempo, o
mapa mostra as distâncias e a
distribuição dos partidos entre
esquerda, direita e centro.
Além de flagrar uma aproximação entre as posições de PT
e PSDB ao longo do tempo -ou
seja, a guinada dos petistas ao
centro-, o gráfico, diz Roma,
também mostra o deslocamento de partidos sem afinidade
ideológica atraídos para a base
do governo petista.
"O PP, como mostra o gráfico, sempre esteve alinhado na
centro-direita e, com a chegada
do PT ao poder, rabisca o mapa
e passa para o outro lado do espectro", afirma. O gráfico é parte da tese de doutorado de Roma, apresentada na USP em
2005.
(FM)
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