São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

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Acusado move ação trabalhista

da Reportagem Local

O ex-diretor do Noroeste Nelson Sakagushi prestou depoimento durante 12 horas à polícia no último dia 9 de novembro.
Inicialmente, disse que daria procuração para abrir suas contas no país e no exterior e pediu que fossem juntadas ao inquérito cópias de documentos do processo trabalhista que move contra o Noroeste, a título de obter indenização por danos morais.
Advogados experientes sabem que a abertura de processos trabalhistas, paralelamente a um inquérito policial, pode ter objetivos como confundir a investigação principal ou abrir a possibilidade de acordos e disfarçar recompensas.
Aparentemente, Sakagushi tenta provar que as operações denunciadas eram "corriqueiras" no banco.
No processo trabalhista, seus advogados argumentam que nenhuma instituição financeira realiza operações de alto vulto sem aprovação do escalão mais alto ou de um comitê de acionistas. Alegam ainda que se pretende atribuir a Sakagushi poderes e autonomia que ele não teria.
Eis alguns exemplos citados:
1) os advogados afirmam que a operação financeira que originou as acusações consistiu numa sequência de 30 remessas mensais, a partir de 1995, de valores depositados na agência das Ilhas Cayman, algumas delas para futuro investimento na Nigéria;
2) esse negócio foi um dentre dezenas de outros, determinados pelos controladores da empresa e devidamente escriturados na contabilidade do Noroeste e nos bancos internacionais pelos quais os valores transitaram;
3) entre maio de 95 e janeiro de 98, foram transferidos cerca de US$ 190 milhões de agências do Noroeste para o Lloyd"s Bank e Citibank, da Suíça, e outras instituições em Londres e em Hong Kong (cerca de 90 remessas de numerário, todas escrituradas e reportadas aos superiores);
4) entre 94 e 96, foram realizadas operações de naturezas fiscais (20 operações da ordem de US$ 60 milhões), citadas como clones da "Operação Uruguai" realizada no final do governo Collor;
5) entre 93 e 94, o saldo de comissões a pagar à Chrysler, dos EUA, de exportações de diversas empresas foi transferido à conta de controladores do banco, no valor aproximado de US$ 900 mil;
6) entre 95 e 97, foi determinado a Sakagushi que provisionasse, semestralmente, na agência de Cayman, US$ 900 mil para saque em espécie e distribuição a diretores.
Ao contestar a ação de Sakagushi, os advogados dos ex-controladores do Noroeste afirmam que as alegações são "evasivas, com acusações criminosas". E que o ex-diretor acusado "em momento algum preocupa-se em prová-las, mesmo porque sabe da inveracidade de suas sustentações".
Dizem ainda que as operações narradas no processo trabalhista são "diversas" das narradas na petição inicial, o que revela "expediente protelatório e ilegal" para "conturbar a apuração" do processo principal.
Em seu depoimento, Sakagushi também tenta atribuir a um de seus subordinados, Otávio Valero, a responsabilidade maior pela operação que é investigada.
Sakagushi disse que, dias antes de depor, recebera telefonema de Valero para conversar sobre o depoimento que iria prestar.
Ele diz que Valero costumava ter acesso direto à vice-presidência. Valero depôs em julho, bem antes de Sakagushi. Disse à polícia que, para Sakagushi, era fácil executar qualquer tipo de remessa e que tinha poderes para tanto, pois era diretor da área internacional. (FV)



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