São Paulo, segunda, 4 de janeiro de 1999

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Busca ao dinheiro não evolui

da Reportagem Local

Para sustentar a acusação contra Nelson Sakagushi, os ex-controladores do Noroeste contrataram o escritório do advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, ex-secretário da Segurança no governo Orestes Quércia.
Esperavam somar a competência do advogado com o conhecimento que Mariz tem da máquina policial do Estado, pois previam que o inquérito não iria para a área federal.
Para cuidar da parte cível e levantar elementos para processar a Price, os ex-donos do Noroeste contrataram o escritório do advogado Paulo Lazzareschi, cuja eficiência já conheciam, embora no outro lado da mesa.
Lazzareschi foi um dos advogados de Naji Nahas, um acionista do Noroeste que manteve longo contencioso com o banco.
A indicação do delegado Romeu Tuma Jr. para dirigir o inquérito associava seu nome à Interpol, sugerindo formas mais rápidas de localizar o dinheiro desviado no exterior, graças ao intercâmbio com polícias de outros países. Não foi o que aconteceu até agora.
O delegado foi candidato a deputado federal, e o Noroeste foi um dos contribuintes da campanha do senador Romeu Tuma, seu pai, na eleição de 1994.
De fato, o banco dos Wallace e dos Simonsen contribuiu com R$ 40 mil (declarados oficialmente) para eleger o senador. É mais do que o Bradesco doou e menos do que foi dado pelo Itaú (os recursos da campanha de Tuma Jr. ainda não estão disponíveis no TRE).
Mas é temerário admitir que essa ajuda eleitoral seria capaz de influenciar a atuação do delegado (que não se elegeu). Em julho último, Tuma Jr. disse à Folha que a polícia investigaria a todos, "doa a quem doer".
Para demonstrar o interesse em recuperar o dinheiro desviado, estivesse onde estivesse, os ex-controladores imediatamente deixaram vazar que haviam contratado a Kroll Associates, firma privada norte-americana especializada em caçar fortunas ilegais nos quatro cantos do mundo. A Kroll não conseguiu colocar a mão na caça.
Critica-se o fato de que a Kroll chegou aonde os investigadores do banco e os auditores da Price já haviam chegado: a rota do desvio do dinheiro para os cinco países.
A Kroll teria localizado uma conta de Sakagushi, no Citibank, em Nova York, e uma firma "off-shore" em seu nome (num paraíso fiscal). Mas não teriam encontrado, da parte dos contratantes, maior receptividade para a idéia de obter uma autorização para bloquear a tal conta (o que a Kroll poderia conseguir junto a um juiz norte-americano).
O bloqueio impediria a movimentação financeira, permitiria rastrear eventuais depósitos para outras contas e, quem sabe, identificar outros eventuais beneficiários.
O delegado Múcio Alvarenga, que ficou à frente do inquérito, pediu ao chefe da Interpol, em Brasília, para levantar dados sobre as contas de uma empresa "off-shore", chamada Olbene, numa agência do Citibank em Nova York, que provavelmente pertencia ou era gerenciada por Sakagushi.
Aparentemente eficiente nos primeiros interrogatórios, a Kroll passou a disputar com os agentes do Noroeste a vigilância dos passos de Sakagushi, como num filme do inspetor Jacques Clouseau (personagem do ator Peter Sellers).
Ao deixar sua casa, na Granja Vianna, em Cotia, sem saber, Sakagushi muitas vezes foi seguido por um agente da Kroll. Que, por sua vez, era seguido por agentes do Noroeste. (FV)



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