São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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Variada, noite de Brasília contraria frase polêmica disparada por Gabeira

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Fernando Gabeira tocou na ferida, o povo de Brasília chiou. Em uma semana tensa no Congresso, a cidade ainda está digerindo a frase do deputado. "Em Brasília, se você sair à noite, terá de ir a lugares onde só tem lobista, puta e deputado", disse o deputado do PV-RJ em entrevista à revista "Playboy", ainda inédita. A frase foi citada pela "Veja". Gabeira já pediu desculpas.
A Folha saiu à noite para repercutir a assertiva nos bares e restaurantes da cidade. Encontrou os três tipos citados pelo deputado e muito mais.
No Café do Brasil, a reportagem falou com um grupo de universitários, para quem a palavra lobista tem um significado vago. Para Camille Nicola, 24, existem duas Brasílias. "O Congresso Nacional é como a indústria da cidade. Muita gente vive daquilo, mas não todo mundo. Os bares deles [políticos] são outros, a gente não tem contato", afirma.
Carolina Caribé, 24, compara: "Para quem não mora no Rio, ali só tem artista da Globo. Acham que você esbarra o tempo todo com a Malu Mader, do mesmo jeito que a gente aqui com o Lula".
"Eles podem não ter pai deputado, mas com certeza um que esteja pendurado num DAS [cargo não concursado, de melhores salários, no serviço público]. Não tem jeito: em Brasília, 100% das atividades estão ligadas ao Estado", afirma o presidente da Associação Nacional dos Procuradores de Estado, Ronald Bicca, 36. Ele diz que não ficou "nada indignado" com a frase de Gabeira.
No Bar Brasília, o vereador baiano Leonardo Vasconcellos, 32, diz: "Em Brasília vem político de todo lugar, e sem a mulher. Garota de programa é como empresário: tem de ir atrás do poder, do dinheiro".
Vasconcellos está de olho em um par de garotas de programa sentadas a poucas mesas dali. "Ele passa por aqui toda hora, tá de olho na gente", afirma Nicole, 24. Ela está com Tatiana, 25.
"O mercado de Brasília está melhor do que os do Rio, de São Paulo e até da Suíça", afirma Tatiana, que diz cobrar US$ 400 por programa.
No Armazém do Ferreira, três feministas estão indignadas. "Tem muitas mulheres como a gente trabalhando em Brasília. Mas ninguém se interessa em saber quanto ganhamos como gestoras públicas", afirma Carmem Oliveira, 53. Telma de Oliveira, 51, resume: "O que é isso, companheiro?".


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