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Comércio diz que papa tem menos apelo que antecessor
Para vendedor, único artigo que tem saída são quadros
DO ENVIADO A APARECIDA
A visita do papa Bento 16 movimenta a Igreja Católica, mas
não empolga os comerciantes
de Aparecida (SP). Durante visita à cidade, a reportagem da
Folha procurou chaveiros ou
qualquer outro material que remetesse ao papa. Só encontrou
quadros.
A explicação, segundo os comerciantes, é que o pontífice
não é tão carismático como era
seu antecessor, João Paulo 2º.
"A única coisa que vale a pena
fazer são os quadros, já que todas as congregações religiosas e
paróquias precisam ter um retrato do papa na parede", explica José Carlos Monteiro, 65.
"Tentei fazer chaveiros do papa. Encalhou tudo e tive de
transformar em chaveiro de
Santo Antônio e Nossa Senhora
Aparecida. Encomendamos
pesquisas de mercado e percebemos que o povo não acha esse
papa tão carismático como
João Paulo 2º", conclui ele.
Monteiro diz ainda que não
fará nenhum material especial
para a visita de Bento 16, em
maio. "O povo virá ver o papa,
mas levará imagens de Nossa
Senhora Aparecida, de Santo
Antônio. Vou continuar fazendo o que sempre fiz", diz.
Zé Louquinho
Conhecido como Zé Louquinho, o prefeito José Luiz Rodrigues (PFL) diz que não prepara
nenhuma medida inusitada para a visita de Bento 16. "O papa
é uma pessoa séria, o momento
será de oração", afirma.
O histórico de projetos do
prefeito inclui acabar com as
enchentes por decreto, proibir
a minissaia na cidade e obrigar
os padres a usar roupas que os
identifiquem como tais em
qualquer momento do dia.
Seus adversários vêem nas
propostas do prefeito apenas
uma maneira de esconder os
problemas da cidade. "Para
Aparecida melhorar, o único
jeito era fechar a Câmara dos
Vereadores e a prefeitura e deixar os padres administrando
tudo. Eles são as únicas pessoas
competentes por aqui", diz o
presidente da Câmara, João
Luiz Mota (PSDB). "A cidade
pode entrar em colapso de água
e esgoto com a visita do papa.
Nossa estrutura mal suporta os
150 mil romeiros que recebemos por final de semana."
No setor de bares e restaurantes, a avaliação não é melhor. "O prefeito se preocupa
com calçadão e portal e esquece
que Aparecida não tem banheiro público de qualidade. A Santa Casa está em situação precária. O que vamos fazer se um
bispo passar mal por aqui?",
pergunta Ernesto Elache, presidente do sindicato dos hotéis
e restaurantes.
Em sua defesa, o prefeito diz
que tem se esforçado. "Eu não
respondo com palavras, mas
com trabalho. Eles falam, eu faço. Nunca Aparecida teve tanta
obra. Prefeito que não faz nada
não é reeleito, e eu fui."
(LB)
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