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Submarino nuclear pode custar ao país R$ 2,74 bi até 2020
Valor é o que teria de ser investido para conclusão de programa nuclear; após visita a estaleiro russo, Jobim se diz impressionado
O almirante Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha, prevê custo de R$ 1,74 bi para a planta e fabricação do submarino
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO
O ministro Nelson Jobim
(Defesa) se disse impressionado com os submarinos com
propulsão nuclear que visitou
anteontem num estaleiro em
São Petersburgo, a 634 km de
Moscou. São colossos de até
190 metros de extensão, alguns
com dois reatores nucleares,
com capacidade para mais de
cem tripulantes. Não fosse o estresse da tripulação, poderia
passar meses a fio embaixo d'água. "É um monstro, astronômico, maior que aquele francês
que vimos", disse Jobim.
Há quase 30 anos, a Marinha
brasileira, que possui cinco
submarinos convencionais movidos a diesel, dois dos quais em
manutenção, acalenta o sonho
de ter uma máquina que lembre alguma coisa assim. Um sonho custoso. Num espaço de 12
anos, o Brasil precisaria gastar
cerca de R$ 2,74 bilhões para
completar o PNM (Programa
Nuclear da Marinha), codinome Projeto Chalana, iniciado
em 1979, e ao mesmo tempo
construir o primeiro submarino nuclear brasileiro até 2020,
que é o cronograma com o qual
a Marinha hoje trabalha.
O valor foi informado à Folha por especialistas e confirmado, ontem, pelo comandante da Marinha, o almirante Julio Soares de Moura Neto, em
entrevista em São Petersburgo.
Ele prevê R$ 1 bilhão para encerrar o ciclo de enriquecimento do combustível e mais US$
1,2 bilhão (R$ 1,74 bilhão, ao
câmbio de ontem) para a planta
e a fabricação do nuclear.
Na viagem que faz à França e
à Rússia, na qual o submarino
nuclear é o tema principal, o
ministro Jobim tem evitado falar em valores. Diz que o cálculo deveria levar em conta a criação de uma empresa binacional
que poderia receber recursos
públicos e privados.
Programa nuclear
Nascido sob a ditadura militar, o PNM sofreu vários cortes
orçamentários, mas nunca parou. Na prática, é o principal
programa de pesquisa nuclear
brasileiro, que tem como objetivo o domínio das técnicas
mais avançadas de enriquecimento de urânio, o que poderia
livrar o Brasil da dependência
externa -hoje o combustível
usado nas usinas de Angra dos
Reis (RJ) é comprado de um
consórcio internacional.
O Projeto Chalana é subdivido em filhotes: o Zarcão, destinado ao estudo e planejamento
do projeto, o Ciclone, voltado
para o enriquecimento do urânio, e o Remo, que levou à construção de um reator nuclear para um submarino. Os três gastaram juntos até agora, segundo estimativa da Marinha, US$
1,1 bilhão. O plano está hoje na
quarta fase. O que norteia a visita dos brasileiros à Europa é o
Projeto Costado, que prevê a
construção propriamente dita
do submarino nuclear.
A idéia do governo brasileiro
é adquirir um submarino convencional de última geração,
movido a diesel, para obter,
com a aquisição, a tecnologia e
a especialidade estrangeiras
para a fabricação do protótipo
nuclear pelos brasileiros.
A França, segundo Jobim, teria aceitado a transferência de
tecnologia -os termos ainda
não foram oficializados. Com
os russos, a conversa é embrionária e as primeiras reações foram, de um modo geral, negativas, de acordo com o ministro.
"Eles ainda não têm uma decisão política sobre transferência de tecnologia", disse Jobim.
"Eles ficaram um pouco assustados com esse tipo de coisa
[transferência]. Não fizeram
negativa porque não têm poder
para isso, mas não estavam na
mesma posição dos franceses."
Alemanha
O engenheiro Salvador Raza,
diretor do grupo de consultoria
Cetris (Centro de Tecnologia,
Relações Internacionais e Segurança) afirmou que o Brasil
já deveria ter obtido seu submarino nuclear, mas os cortes
orçamentários abortaram a última tentativa. Ele seria feito a
partir da compra de um convencional da Alemanha, da
classe IKL. O submarino foi adquirido, mas não houve o salto
para a fabricação do casco e do
sistema informático.
Segundo Raza, a Alemanha é
um terceiro país a aparecer na
disputa pela venda ao Brasil
-porém, está praticamente
descartada do Projeto Costado
porque não possuiria a tecnologia de um submarino nuclear.
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