São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Submarino nuclear pode custar ao país R$ 2,74 bi até 2020

Valor é o que teria de ser investido para conclusão de programa nuclear; após visita a estaleiro russo, Jobim se diz impressionado

O almirante Julio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha, prevê custo de R$ 1,74 bi para a planta e fabricação do submarino

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO

O ministro Nelson Jobim (Defesa) se disse impressionado com os submarinos com propulsão nuclear que visitou anteontem num estaleiro em São Petersburgo, a 634 km de Moscou. São colossos de até 190 metros de extensão, alguns com dois reatores nucleares, com capacidade para mais de cem tripulantes. Não fosse o estresse da tripulação, poderia passar meses a fio embaixo d'água. "É um monstro, astronômico, maior que aquele francês que vimos", disse Jobim.
Há quase 30 anos, a Marinha brasileira, que possui cinco submarinos convencionais movidos a diesel, dois dos quais em manutenção, acalenta o sonho de ter uma máquina que lembre alguma coisa assim. Um sonho custoso. Num espaço de 12 anos, o Brasil precisaria gastar cerca de R$ 2,74 bilhões para completar o PNM (Programa Nuclear da Marinha), codinome Projeto Chalana, iniciado em 1979, e ao mesmo tempo construir o primeiro submarino nuclear brasileiro até 2020, que é o cronograma com o qual a Marinha hoje trabalha.
O valor foi informado à Folha por especialistas e confirmado, ontem, pelo comandante da Marinha, o almirante Julio Soares de Moura Neto, em entrevista em São Petersburgo. Ele prevê R$ 1 bilhão para encerrar o ciclo de enriquecimento do combustível e mais US$ 1,2 bilhão (R$ 1,74 bilhão, ao câmbio de ontem) para a planta e a fabricação do nuclear.
Na viagem que faz à França e à Rússia, na qual o submarino nuclear é o tema principal, o ministro Jobim tem evitado falar em valores. Diz que o cálculo deveria levar em conta a criação de uma empresa binacional que poderia receber recursos públicos e privados.

Programa nuclear
Nascido sob a ditadura militar, o PNM sofreu vários cortes orçamentários, mas nunca parou. Na prática, é o principal programa de pesquisa nuclear brasileiro, que tem como objetivo o domínio das técnicas mais avançadas de enriquecimento de urânio, o que poderia livrar o Brasil da dependência externa -hoje o combustível usado nas usinas de Angra dos Reis (RJ) é comprado de um consórcio internacional.
O Projeto Chalana é subdivido em filhotes: o Zarcão, destinado ao estudo e planejamento do projeto, o Ciclone, voltado para o enriquecimento do urânio, e o Remo, que levou à construção de um reator nuclear para um submarino. Os três gastaram juntos até agora, segundo estimativa da Marinha, US$ 1,1 bilhão. O plano está hoje na quarta fase. O que norteia a visita dos brasileiros à Europa é o Projeto Costado, que prevê a construção propriamente dita do submarino nuclear.
A idéia do governo brasileiro é adquirir um submarino convencional de última geração, movido a diesel, para obter, com a aquisição, a tecnologia e a especialidade estrangeiras para a fabricação do protótipo nuclear pelos brasileiros.
A França, segundo Jobim, teria aceitado a transferência de tecnologia -os termos ainda não foram oficializados. Com os russos, a conversa é embrionária e as primeiras reações foram, de um modo geral, negativas, de acordo com o ministro.
"Eles ainda não têm uma decisão política sobre transferência de tecnologia", disse Jobim. "Eles ficaram um pouco assustados com esse tipo de coisa [transferência]. Não fizeram negativa porque não têm poder para isso, mas não estavam na mesma posição dos franceses."

Alemanha
O engenheiro Salvador Raza, diretor do grupo de consultoria Cetris (Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança) afirmou que o Brasil já deveria ter obtido seu submarino nuclear, mas os cortes orçamentários abortaram a última tentativa. Ele seria feito a partir da compra de um convencional da Alemanha, da classe IKL. O submarino foi adquirido, mas não houve o salto para a fabricação do casco e do sistema informático.
Segundo Raza, a Alemanha é um terceiro país a aparecer na disputa pela venda ao Brasil -porém, está praticamente descartada do Projeto Costado porque não possuiria a tecnologia de um submarino nuclear.


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