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SOMBRA NO PLANALTO
Líder do PL, autor de pedido de investigação, quer rever veto à fusão Nestlé-Garoto
Aliados fazem exigências para abafar CPI do caso Waldomiro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na semana que julga decisiva
para abafar o caso Waldomiro Diniz, o governo sofre cobranças fisiológicas de aliados que vão desde anular o veto da fusão Nestlé-Garoto a complicadas negociações com grupos do PMDB
-partido cada vez mais fundamental à governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Após adiar por mais um dia a
decisão de apresentar ou não o requerimento da instalação da CPI
dos bingos, o líder do PL no Senado, Magno Malta (ES), afirma que
vai protocolar hoje o seu pedido,
por volta das 10h. Mesmo com as
baixas em razão da pressão do governo, a oposição calcula que vai
ter pelo menos 29 assinaturas,
duas a mais que o necessário.
Ao mesmo tempo em que
ameaça, Malta insiste em incluir
na pauta do Senado um interesse
direto de seu Estado: decreto para
anular o veto do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) à fusão entre Nestlé e Garoto. No final da manhã de ontem
Malta foi até o gabinete do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP). "Conversei com ele
sobre o Cade. Pedi apoio para sustar a decisão [veto à compra da
Garoto pela Nestlé]", disse.
Governo avalia a conveniência
de pagar tal preço, preocupado
com uma maior dependência de
aliados para evitar CPIs e segurar
José Dirceu (Casa Civil) no cargo.
A negociação com o PMDB ganhou força após reunião até tarde
da noite na última segunda entre
Dirceu, Aldo Rebelo (Coordenação Política) e o líder do PMDB no
Senado, Renan Calheiros (AL).
Nesse encontro, ficou decidido
que Dirceu operaria um novo enquadramento da bancada de senadores petistas para que sete deles retirassem a assinatura da CPI.
Vídeo
O governo teme que a CPI dos
bingos, se criada, concentre-se
nas ações do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz, que, em
vídeo de 2002, cobra propina e
contribuição de campanha de um
empresário de jogos. À época, ele
presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). O Ministério Público e a Polícia Federal investigam se ele agiu a favor dos interesses do jogo enquanto trabalhou no Palácio do Planalto.
Os senadores Tião Viana (PT-AC), Sibá Machado (PT-AC), Ana
Júlia Carepa (PT-PA) e Hélio Costa (PMDB-MG) teriam retirado o
apoio à CPI, mas Malta só confirma a de Viana. Com o enquadramento do PT, Calheiros terá argumento para tentar retirar algumas
das cinco assinaturas de peemedebistas, inviabilizando a CPI.
Malta negou que estivesse negociando cargos, mas afirmou que
pode perder um posto se apresentar o pedido de CPI. "Meu partido
indicou um diretor da Codesa
[Companhia Docas do Espírito
Santo]. Se eu insistir na CPI, ele
cai", disse ele. Questionado sobre
novas indicações, afirmou que é
"especulação".
Garotinho e Roriz
Em troca da ajuda ao governo,
Calheiros obteve uma promessa
de trégua entre o PT do Distrito
Federal e o governador Joaquim
Roriz (PMDB). Resultado: anteontem Roriz suspendeu a criação de uma CPI no Distrito Federal para investigar Geraldo Magela, petista que, de acordo com
Waldomiro Diniz, teria recebido
dinheiro de caixa dois para sua
campanha em 2002. Magela foi
adversário de Roriz.
Outra dura missão para Calheiros é tentar um entendimento
com o grupo do ex-governador
do Rio e atual secretário da Segurança Pública do Estado, Anthony
Garotinho.
Em reunião na noite de anteontem com Garotinho, a bancada
fluminense no Congresso decidiu
apoiar a criação de CPIs do caso
Waldomiro e dos bingos. São 13
deputados e um senador, Sergio
Cabral Filho, que ontem assinou o
pedido de CPI do Waldomiro.
Embora oficialmente digam
querer que o caso seja investigado, os peemedebistas agem para
conseguir vantagens para a governadora Rosinha Matheus
(PMDB-RJ). Entre os pleitos da
governadora, estão a construção
de uma refinaria da Petrobras no
norte do Estado -base eleitoral
de sua família. Há pelo menos outros nove Estados na disputa. Rosinha também quer que o governo federal libere verbas para
obras no Rio, principalmente em
estradas e infra-estrutura.
Para evitar dividir um partido
que já é fragmentado e que sempre obriga o governo a negociar
com grupos, Calheiros se reuniu
ontem com o presidente do
PMDB, Michel Temer, e deixou
claro que a reeleição dele está bem
encaminhada. Temer é a ponte
com a ala peemedebista que liderou o apoio do partido ao governo
Fernando Henrique Cardoso.
(FERNANDA KRAKOVICS, KENNEDY ALENCAR E OTÁVIO CABRAL)
Colaborou a Reportagem Local
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