São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Líder do PL, autor de pedido de investigação, quer rever veto à fusão Nestlé-Garoto

Aliados fazem exigências para abafar CPI do caso Waldomiro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na semana que julga decisiva para abafar o caso Waldomiro Diniz, o governo sofre cobranças fisiológicas de aliados que vão desde anular o veto da fusão Nestlé-Garoto a complicadas negociações com grupos do PMDB -partido cada vez mais fundamental à governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Após adiar por mais um dia a decisão de apresentar ou não o requerimento da instalação da CPI dos bingos, o líder do PL no Senado, Magno Malta (ES), afirma que vai protocolar hoje o seu pedido, por volta das 10h. Mesmo com as baixas em razão da pressão do governo, a oposição calcula que vai ter pelo menos 29 assinaturas, duas a mais que o necessário.
Ao mesmo tempo em que ameaça, Malta insiste em incluir na pauta do Senado um interesse direto de seu Estado: decreto para anular o veto do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) à fusão entre Nestlé e Garoto. No final da manhã de ontem Malta foi até o gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). "Conversei com ele sobre o Cade. Pedi apoio para sustar a decisão [veto à compra da Garoto pela Nestlé]", disse.
Governo avalia a conveniência de pagar tal preço, preocupado com uma maior dependência de aliados para evitar CPIs e segurar José Dirceu (Casa Civil) no cargo.
A negociação com o PMDB ganhou força após reunião até tarde da noite na última segunda entre Dirceu, Aldo Rebelo (Coordenação Política) e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).
Nesse encontro, ficou decidido que Dirceu operaria um novo enquadramento da bancada de senadores petistas para que sete deles retirassem a assinatura da CPI.

Vídeo
O governo teme que a CPI dos bingos, se criada, concentre-se nas ações do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz, que, em vídeo de 2002, cobra propina e contribuição de campanha de um empresário de jogos. À época, ele presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). O Ministério Público e a Polícia Federal investigam se ele agiu a favor dos interesses do jogo enquanto trabalhou no Palácio do Planalto.
Os senadores Tião Viana (PT-AC), Sibá Machado (PT-AC), Ana Júlia Carepa (PT-PA) e Hélio Costa (PMDB-MG) teriam retirado o apoio à CPI, mas Malta só confirma a de Viana. Com o enquadramento do PT, Calheiros terá argumento para tentar retirar algumas das cinco assinaturas de peemedebistas, inviabilizando a CPI.
Malta negou que estivesse negociando cargos, mas afirmou que pode perder um posto se apresentar o pedido de CPI. "Meu partido indicou um diretor da Codesa [Companhia Docas do Espírito Santo]. Se eu insistir na CPI, ele cai", disse ele. Questionado sobre novas indicações, afirmou que é "especulação".

Garotinho e Roriz
Em troca da ajuda ao governo, Calheiros obteve uma promessa de trégua entre o PT do Distrito Federal e o governador Joaquim Roriz (PMDB). Resultado: anteontem Roriz suspendeu a criação de uma CPI no Distrito Federal para investigar Geraldo Magela, petista que, de acordo com Waldomiro Diniz, teria recebido dinheiro de caixa dois para sua campanha em 2002. Magela foi adversário de Roriz.
Outra dura missão para Calheiros é tentar um entendimento com o grupo do ex-governador do Rio e atual secretário da Segurança Pública do Estado, Anthony Garotinho.
Em reunião na noite de anteontem com Garotinho, a bancada fluminense no Congresso decidiu apoiar a criação de CPIs do caso Waldomiro e dos bingos. São 13 deputados e um senador, Sergio Cabral Filho, que ontem assinou o pedido de CPI do Waldomiro.
Embora oficialmente digam querer que o caso seja investigado, os peemedebistas agem para conseguir vantagens para a governadora Rosinha Matheus (PMDB-RJ). Entre os pleitos da governadora, estão a construção de uma refinaria da Petrobras no norte do Estado -base eleitoral de sua família. Há pelo menos outros nove Estados na disputa. Rosinha também quer que o governo federal libere verbas para obras no Rio, principalmente em estradas e infra-estrutura.
Para evitar dividir um partido que já é fragmentado e que sempre obriga o governo a negociar com grupos, Calheiros se reuniu ontem com o presidente do PMDB, Michel Temer, e deixou claro que a reeleição dele está bem encaminhada. Temer é a ponte com a ala peemedebista que liderou o apoio do partido ao governo Fernando Henrique Cardoso.
(FERNANDA KRAKOVICS, KENNEDY ALENCAR E OTÁVIO CABRAL)


Colaborou a Reportagem Local

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