São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Para o governador Geraldo Alckmin (SP), o depoimento de Waldomiro Diniz à PF foi um "deboche, um escárnio à sociedade"

Serra vê ação abafa CPI e cobra coerência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do PSDB, José Serra, defendeu, após a reunião da Executiva Nacional do partido, uma CPI para o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor do Palácio do Planalto flagrado em vídeo cobrando propina de um empresário do jogo e pedindo para verba para campanhas em 2002.
"As investigações da CPI vão ser benéficas para todo mundo, inclusive para o governo, que poderá se livrar da sombra desse processo desagradável em relação ao jogo de influências e loterias", declarou Serra, para quem "a CPI interessa ao país, não à oposição".
Questionado se o PT está patrocinando uma "operação abafa" para evitar a CPI, Serra disse: "É óbvio". Candidato derrotado à Presidência em 2002, o tucano também comentou a pregação histórica do PT em favor da ética: "Agora é a hora da coerência. É óbvio [que o governo está abafando o caso]. Até a CPI dos bingos, que nem estava programada para isso, está sendo agora presa. Há uma operação para que as questões não sejam investigadas, fingindo que não aconteceu nada. Na verdade, aconteceram coisas importantes. A investigação é que poderá mostrar ou não a gravidade delas, é um desejo do país, aliás mostrado pelas pesquisas".

"Deboche"
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem que o depoimento de Waldomiro Diniz à Polícia Federal foi um "deboche, um escárnio à sociedade". O tucano também fez críticas à condução da economia pelo governo federal, dizendo que o Brasil perde a oportunidade de crescer "num céu de brigadeiro".
As declarações do governador foram feitas na capital paulista durante evento na Amcham (Câmara Americana de Comércio).
"O que vimos foi o não-depoimento do Waldomiro Diniz na Polícia Federal. O que é muito ruim, porque vida pública impõe transparência, impõe prestação de contas à sociedade. Homem público e mulher pública têm a obrigação de prestar contas à sociedade, de esclarecer, de estar a serviço da sociedade. O que nós vimos ontem [anteontem] foi um deboche, foi um escárnio à sociedade", afirmou o governador.
Waldomiro Diniz, ex-assessor e amigo do ministro José Dirceu (Casa Civil), foi à Polícia Federal anteontem, mas, orientado pela defesa, não respondeu às perguntas dizendo que falaria apenas em juízo. Fita gravada em 2002 mostra Waldomiro -na época presidente da Loterj- pedindo propina a um empresário de loterias.
Alckmin classificou como "sensacionalismo" o discurso do senador Almeida Lima (PDT), que anteontem subiu ao plenário do Senado dizendo que apresentaria provas de que Dirceu sabia do caso Waldomiro, mas acabou não mostrando nada contundente.
"Essas questões de investigação precisam ser feitas com serenidade. Nada pode ser feito na base do sensacionalismo. Acaba provocando efeitos na economia, e os aproveitadores saem ganhando."
Sobre a economia, Alckmin criticou o excesso de cautela e disse que o país está perdendo a oportunidade de crescer em um "céu de brigadeiro". "China crescendo muito, Índia crescendo muito, Estados Unidos tiveram uma recuperação econômica, Japão, depois de anos de estagnação, começando a se recuperar. [...] E nós ficamos segurando a economia com essa coisa de "não pode, porque pode ter problema inflacionário'", afirmou Alckmin.


Colaborou VIRGILIO ABRANCHES, da Reportagem Local


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