|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA EXTERNA
Com mudanças, secretário-geral pretende incentivar cargo de diplomata onde há dificuldade de preenchimento de vaga
Itamaraty quer estimular carreira na África
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, decidiu
criar mais uma subsecretaria-geral no Itamaraty, a de Assistência
a Comunidades de Brasileiros no
Exterior. O chefe do novo posto
será o ex-embaixador na Venezuela Rui Nogueira, que voltou ao
Brasil no final do ano passado.
A nova subsecretaria faz parte
de um pacote de profundas mudanças que o secretário-geral do
Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, pretende levar adiante na
estrutura do ministério e na carreira de diplomata.
Guimarães, que se tornou conhecido ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) por suas posições contrárias à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), quer criar novas regras para o sistema de promoção de diplomatas.
A justificativa de Guimarães para a mudança na carreira é agilizar
a promoção dos funcionários
mais competentes e estimular os
diplomatas a servirem em postos
na África, no Oriente e na própria
América do Sul, que são considerados "prioridades" pelo atual governo, mas para os quais quase
ninguém quer ser indicado.
As alterações na carreira de diplomata precisarão ser aprovadas
pelo Congresso. O primeiro desejo de Guimarães é ampliar o número de diplomatas dos atuais
997 para 1.400. O Itamaraty pretende aumentar o número de admitidos para carreira dos atuais
40 por ano para 100.
A criação da nova subsecretaria,
a segunda criada no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva, só precisa ser aprovada pelo Ministério
do Planejamento. No primeiro semestre do ano passado, Amorim
criou a subsecretaria-geral de Assuntos da América do Sul. Atualmente existem quatro subsecretarias subordinadas a Guimarães.
Com o crescente número de
brasileiros vivendo no exterior,
Amorim avalia que é preciso aumentar o status da área responsável pelo tema no seu ministério.
Atualmente, as questões consulares são assuntos de uma divisão,
que é hierarquicamente inferior a
uma subsecretaria.
As idéias de Guimarães sobre o
novo desenho da carreira não
agradam a todos. Alguns funcionários mais velhos temem que os
mais jovens acabem "dando rasteira" em outros mais experientes
da carreira. Há até diplomatas
que desconfiam que as alterações,
que precisaram ser aprovadas no
Congresso, sejam uma manobra
do secretário-geral para favorecer
funcionários afinados ideologicamente com suas posições.
Os mais jovens, no entanto, estão animados. Uma das principais reclamações dos diplomatas
é a morosidade da ascensão na
carreira. Segundo um diplomata
entrevistado pela Folha, com as
regras atuais, uma pessoa que entre com 30 anos de idade na carreira dificilmente chegará a embaixador. Com as mudanças, a
probabilidade cresce. O tempo
para chegar ao topo cairia de 30
anos para cerca de 20.
Serão também criadas duas novas classificações para postos no
exterior: o "E" e o "D". Atualmente existem as categorias "A" (os
melhores lugares), "B" (os países
considerados bons ou razoáveis)
e "C" (posições para os quais poucos querem ir).
Quem aceitar ir para um posto
"D", que deverá ser nos lugares
considerados piores, contará em
dobro o tempo de serviço para
promoção. A classificação "E" será reservada para os lugares mais
cobiçados. Para ir para um posto
"E", no entanto, o diplomata será
obrigado a passar por um posto
"C" ou "D".
(ANDRÉ SOLIANI)
Texto Anterior: Trabalho: Entidade relata irregularidades à OIT Próximo Texto: Ministério Público: Maioria rejeita mordaça, diz pesquisa Índice
|