São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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POLÍTICA EXTERNA

Com mudanças, secretário-geral pretende incentivar cargo de diplomata onde há dificuldade de preenchimento de vaga

Itamaraty quer estimular carreira na África

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, decidiu criar mais uma subsecretaria-geral no Itamaraty, a de Assistência a Comunidades de Brasileiros no Exterior. O chefe do novo posto será o ex-embaixador na Venezuela Rui Nogueira, que voltou ao Brasil no final do ano passado.
A nova subsecretaria faz parte de um pacote de profundas mudanças que o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, pretende levar adiante na estrutura do ministério e na carreira de diplomata.
Guimarães, que se tornou conhecido ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) por suas posições contrárias à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), quer criar novas regras para o sistema de promoção de diplomatas.
A justificativa de Guimarães para a mudança na carreira é agilizar a promoção dos funcionários mais competentes e estimular os diplomatas a servirem em postos na África, no Oriente e na própria América do Sul, que são considerados "prioridades" pelo atual governo, mas para os quais quase ninguém quer ser indicado.
As alterações na carreira de diplomata precisarão ser aprovadas pelo Congresso. O primeiro desejo de Guimarães é ampliar o número de diplomatas dos atuais 997 para 1.400. O Itamaraty pretende aumentar o número de admitidos para carreira dos atuais 40 por ano para 100.
A criação da nova subsecretaria, a segunda criada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, só precisa ser aprovada pelo Ministério do Planejamento. No primeiro semestre do ano passado, Amorim criou a subsecretaria-geral de Assuntos da América do Sul. Atualmente existem quatro subsecretarias subordinadas a Guimarães.
Com o crescente número de brasileiros vivendo no exterior, Amorim avalia que é preciso aumentar o status da área responsável pelo tema no seu ministério. Atualmente, as questões consulares são assuntos de uma divisão, que é hierarquicamente inferior a uma subsecretaria.
As idéias de Guimarães sobre o novo desenho da carreira não agradam a todos. Alguns funcionários mais velhos temem que os mais jovens acabem "dando rasteira" em outros mais experientes da carreira. Há até diplomatas que desconfiam que as alterações, que precisaram ser aprovadas no Congresso, sejam uma manobra do secretário-geral para favorecer funcionários afinados ideologicamente com suas posições.
Os mais jovens, no entanto, estão animados. Uma das principais reclamações dos diplomatas é a morosidade da ascensão na carreira. Segundo um diplomata entrevistado pela Folha, com as regras atuais, uma pessoa que entre com 30 anos de idade na carreira dificilmente chegará a embaixador. Com as mudanças, a probabilidade cresce. O tempo para chegar ao topo cairia de 30 anos para cerca de 20.
Serão também criadas duas novas classificações para postos no exterior: o "E" e o "D". Atualmente existem as categorias "A" (os melhores lugares), "B" (os países considerados bons ou razoáveis) e "C" (posições para os quais poucos querem ir).
Quem aceitar ir para um posto "D", que deverá ser nos lugares considerados piores, contará em dobro o tempo de serviço para promoção. A classificação "E" será reservada para os lugares mais cobiçados. Para ir para um posto "E", no entanto, o diplomata será obrigado a passar por um posto "C" ou "D". (ANDRÉ SOLIANI)


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