São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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ANÁLISE

Derrota expõe tamanho real de Severino

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de surpreender o governo e o PT com sua vitória para presidência da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) deu início ao que pode ser uma longa série de recuos e derrotas.
Perdeu a parada pelo reajuste de 67% no salário dos deputados. Não conseguiu impedir a votação da Lei de Biossegurança. Está demorando a se pronunciar, mas deve na semana que vem mandar arquivar o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como é possível um deputado eleito para presidir a Câmara com 300 dos 513 votos estar em posição tão minoritária? Na avaliação dos principais observadores da Casa, segundo a Folha ouviu de deputados ao longo desta semana, os 300 votos recebidos por Severino não foram para ele, mas sim um protesto contra o Palácio do Planalto e o PT.
"O apoio que o Severino tem são os 124 votos dados a ele no primeiro turno da eleição para presidente da Câmara. Talvez até um pouco menos, cerca de 20% da Casa. Os 300 votos foram um protesto. É por isso que algumas idéias dele, como essa de aumentar o salário dos deputados, estão longe de ter o apoio amplo na Casa", resume o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).
Além da falta de apoio, Severino está cercado de deputados fiéis, mas com pouca experiência nas negociações políticas. Foi esse o caso da desastrada negociação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para aumentar os salários dos congressistas por meio de um simples ato administrativo.
Oriundo do PC do B, mas com passagens nos governo Collor (1990-1991), Itamar (1991-1994) e FHC (1995-2002), o experiente Renan ouviu a proposta de Severino e não disse sim nem não. Negociava com os severinistas desde segunda-feira.
Quando percebeu o melhor momento -uma quarta-feira, dia de Congresso lotado-, chamou a imprensa e deu uma entrevista. Não avisou aos colegas deputados que enterraria a proposta em público. Mas certificou-se que estariam presentes as câmeras do "Jornal Nacional", da TV Globo.
Nesse episódio, faltou a Severino perícia em marketing político. Também ficou frágil por confiar demais no presidente do Senado, que nunca havia sido seu aliado. Sem tato, acabou pulando sozinho numa frigideira. Renan apenas apontou o dedo para a fritura, pois o fogo já estava acesso pelo próprio presidente da Câmara.
A forma de Severino recuperar um pouco do seu poder é o processo contra Lula. A decisão de arquivá-lo está em suas mãos.
O enterro desse processo deve ocorrer semana que vem. É quando o Planalto deve anunciar a entrega de um ministério para o PP, partido de Severino, e a nomeação de algum aliado do presidente da Câmara para a direção de uma empresa estatal de relevância.
Em troca, Severino deve arquivar o processo contra Lula. Com os cargos recebidos na reforma ministerial, passará de credor a devedor do Planalto.


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