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ANÁLISE
Derrota expõe tamanho real de Severino
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de surpreender o governo e o PT com sua vitória para
presidência da Câmara, Severino
Cavalcanti (PP-PE) deu início ao
que pode ser uma longa série de
recuos e derrotas.
Perdeu a parada pelo reajuste de
67% no salário dos deputados.
Não conseguiu impedir a votação
da Lei de Biossegurança. Está demorando a se pronunciar, mas
deve na semana que vem mandar
arquivar o pedido de abertura de
processo por crime de responsabilidade contra o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Como é possível um deputado
eleito para presidir a Câmara com
300 dos 513 votos estar em posição tão minoritária? Na avaliação
dos principais observadores da
Casa, segundo a Folha ouviu de
deputados ao longo desta semana, os 300 votos recebidos por Severino não foram para ele, mas
sim um protesto contra o Palácio
do Planalto e o PT.
"O apoio que o Severino tem
são os 124 votos dados a ele no
primeiro turno da eleição para
presidente da Câmara. Talvez até
um pouco menos, cerca de 20%
da Casa. Os 300 votos foram um
protesto. É por isso que algumas
idéias dele, como essa de aumentar o salário dos deputados, estão
longe de ter o apoio amplo na Casa", resume o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).
Além da falta de apoio, Severino
está cercado de deputados fiéis,
mas com pouca experiência nas
negociações políticas. Foi esse o
caso da desastrada negociação
com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para
aumentar os salários dos congressistas por meio de um simples ato
administrativo.
Oriundo do PC do B, mas com
passagens nos governo Collor
(1990-1991), Itamar (1991-1994) e
FHC (1995-2002), o experiente
Renan ouviu a proposta de Severino e não disse sim nem não. Negociava com os severinistas desde
segunda-feira.
Quando percebeu o melhor
momento -uma quarta-feira,
dia de Congresso lotado-, chamou a imprensa e deu uma entrevista. Não avisou aos colegas deputados que enterraria a proposta
em público. Mas certificou-se que
estariam presentes as câmeras do
"Jornal Nacional", da TV Globo.
Nesse episódio, faltou a Severino perícia em marketing político.
Também ficou frágil por confiar
demais no presidente do Senado,
que nunca havia sido seu aliado.
Sem tato, acabou pulando sozinho numa frigideira. Renan apenas apontou o dedo para a fritura,
pois o fogo já estava acesso pelo
próprio presidente da Câmara.
A forma de Severino recuperar
um pouco do seu poder é o processo contra Lula. A decisão de arquivá-lo está em suas mãos.
O enterro desse processo deve
ocorrer semana que vem. É quando o Planalto deve anunciar a entrega de um ministério para o PP,
partido de Severino, e a nomeação de algum aliado do presidente
da Câmara para a direção de uma
empresa estatal de relevância.
Em troca, Severino deve arquivar o processo contra Lula. Com
os cargos recebidos na reforma
ministerial, passará de credor a
devedor do Planalto.
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