São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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PT NO DIVÃ

Para o secretário-geral do partido, deputado violou artigos disciplinares, como desrespeito à orientação da bancada

PT pretende suspender Virgílio até 2006

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O secretário-geral do PT, Silvio Pereira, disse à Folha que irá propor a suspensão de um ano e meio a dois anos ao deputado federal Virgílio Guimarães (MG). O estatuto do partido prevê nove tipos de castigo, que vão da advertência reservada ou pública (a mais leve) à perda de mandato, passando pela suspensão e expulsão.
A sugestão de Pereira, que é o relator para o caso, será apresentada hoje durante reunião da Executiva Nacional do PT, que discute, também, a fracassada eleição para a Mesa Diretora da Câmara.
Ontem, comissão formada por quatro petistas de Minas, entre eles a presidente estadual do partido, a deputada federal Maria do Carmo Lara, reuniu-se em São Paulo com o presidente nacional da sigla, José Genoino (SP), para tentar negociar o abrandamento.
Se a Executiva não abrir mão do direito de julgar o deputado, o grupo majoritário no PT de Minas vai tentar abrandar a punição. A Folha apurou que a direção mineira considera uma punição de até seis meses menos traumática, o que acabaria sendo assimilado por Virgílio e por seu grupo.
O deputado é apontado por setores do PT como um dos principais responsáveis pela derrota do candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que perdeu a eleição para Severino Cavalcanti (PP-PE). Virgílio contrariou decisão da bancada do PT e lançou-se candidato independente.
Se a suspensão proposta por Pereira for aprovada, o parlamentar não poderá participar de reuniões do partido nem representá-lo em comissões, por exemplo. Na prática, será como se Virgílio não fizesse parte do partido até o fim de seu mandato, que termina no final do próximo ano.
Ele também poderá ficar impedido de concorrer às eleições de 2006, uma vez que a Lei Eleitoral exige que os candidatos estejam filiados a uma legenda política um ano antes do pleito.
Para o secretário-geral do PT, Virgílio violou "uns sete artigos disciplinares do partido". Ele citou, por exemplo, o desrespeito à orientação da bancada, que havia escolhido Greenhalgh como candidato, e a violação às diretrizes programáticas do PT.
O secretário-geral disse que é contrário à formação de uma comissão de ética para apreciar o caso, "porque não há o que investigar". A Executiva Nacional do PT é integrada por 21 membros.
Qualquer um dos integrantes pode apresentar uma resolução em separado, com outras propostas de punição, ou até sugerir que nenhum castigo seja adotado.
A Executiva vota as resoluções e, se alguma forma de castigo for aprovada, remete o processo ao Diretório Nacional, que terá a palavra final sobre o assunto, depois de ouvir a defesa do acusado.
Virgílio foi convidado a participar da reunião de hoje da Executiva Nacional, mas, até as 18h de ontem, disse que ainda não decidira se iria ou não.

Expulsos
Em dezembro de 2003, a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados federais Babá (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE) foram expulsos pelo Diretório Nacional do PT, acusados de desobedecer a orientações partidárias e de criticar ostensivamente o governo Lula.
Fontes foi expulso por ter, diz o PT, rompido a ética partidária ao divulgar fita de 1987 em que Lula discursa defendendo posições contrárias às de sua gestão. A senadora e os outros dois deputados saíram, entre outras acusações, pois não cumpriram deliberações da bancada e encabeçaram atos públicos contra a política do governo. Após a expulsão, os parlamentares fundaram o PSOL.


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