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JANIO DE FREITAS
A história outra vez
Temos a oportunidade de testemunhar outro embate de um confronto insolúvel entre religião e ciência
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NESTE PAÍS considerado
o mais católico do
mundo, o apoio absoluto de 75% e parcial de mais
20% da população às pesquisas com células-tronco embrionárias deveria, em tese,
significar a opção nacional
nesta divergência: de uma
parte, a hierarquia da Igreja
Católica, que rejeita as pesquisas; de outra, a ciência em
busca de uma revolução na
medicina que pode proporcionar a cura de males insanáveis de coração, pulmão, fígado, pâncreas, músculos,
numerosos tipos de câncer.
Mas o julgamento estará restrito à responsabilidade, e talvez à grandeza, de apenas 11
pessoas. É improvável que alguma delas haja um dia se
imaginado em situação, a um
só tempo, humanamente tão
honrosa e moralmente tão
perigosa: o julgamento
-quem sabe, irreparável-
também de cada um deles.
A nós outros, o que está oferecido, na questão das células-tronco embrionárias e seu
exame em tribunal, é a oportunidade de testemunhar
mais um embate de um confronto histórico e insolúvel
entre religião e ciência. A história não registra para a religião nenhuma vitória verdadeira, ou não mais que o retardamento, às vezes por séculos, de avanços merecidos
pela humanidade em muitos
sentidos -sociais, científicos,
políticos, existenciais e até
mesmo religiosos.
O confronto atravessa sem
solução os séculos e já milênios, como tende a atravessar
o futuro imaginável, em razão
de sua própria natureza. A fé é
a certeza que se sobrepõe à
dúvida e a repele, o seu reino é
o da verdade acabada e do absoluto definitivo; a ciência é,
por definição, o questionamento permanente, a consciência da incompletude, o
território da dúvida em busca
de novas respostas que vão ao
encontro de mais dúvidas.
Muitos dos que estamos
por aí fomos contemporâneos da fase final de um esforço comovente para o encontro de religião e ciência. Paleontólogo importante, morto em 1955, o jesuíta Teilhard
de Chardin dedicou-se a formular uma teoria de unidade
do conhecimento científico e
da concepção religiosa, a respeito do universo e seus fenômenos. A paleontologia lhe
agradece o achado e identificação do sinantropo, um elo a
mais em nosso passado. O Vaticano repeliu seu "cientificismo" e aplicou-lhe a censura, a reprovação e o esquecimento.
Na pesquisa do Ibope, ainda mais significativo do que
os dados expostos acima é este: entre os brasileiros que
consideram ser "uma atitude
em defesa da vida" o uso de
células-tronco embrionárias,
na pesquisa científica e na
medicina, estão 94% dos católicos.
A origem
Ao lamentar a morte de
Raúl Reyes, o segundo das
Farc, vítima de bombardeio
colombiano em território do
Equador, o governo francês
informou ser ele o seu contato para a libertação da seqüestrada franco-colombiana Ingrid Betancourt. Com
isso, proporcionou a provável explicação para a invasão
de território e bombardeio,
determinados pelo presidente colombiano Álvaro
Uribe.
Toda guerrilha precisa de
uma área segura para contatos indispensáveis com o
mundo fora da selva. A falta
desse contato, para dar um
exemplo, é apresentada no
diário boliviano de Guevara
como fator da situação desesperadora que antecedeu
sua morte. Uma fronteira
próxima está entre as melhores hipóteses para uma
área de encontros seguros e
de partida e chegada para
guerrilheiros em trânsito.
Governo e militares colombianos sabiam do acampamento das Farc no Equador, citado mais de uma vez
por Uribe e por muitos outros, inclusive como acusação ao governo equatoriano.
A decisão repentina de acabar com o acampamento por
bombardeio só pode ser atribuída à informação de que lá
estava o guerrilheiro negociador. Uribe, agora desejoso
do terceiro mandato, prometeu que acabaria com as
Farc. Não por negociações.
O bombardeio matou Raúl
Reyes e outros, mas não é
menor seu efeito correlato:
as bombas caíram sobre o
processo de liberação de seqüestrados.
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