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Fala de FHC incluiu meias verdades
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há meias verdades e imprecisões na argumentação apresentada pelo governo para desqualificar o requerimento que propõe a
instalação da CPI da corrupção.
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o ex-secretário-geral da Presidência
Eduardo Jorge Caldas Pereira enviou ao Congresso "diversos documentos pessoais cobertos por
sigilo". De fato, EJ enviou dados
aos senadores, mas não há garantias oficiais de que os dados telefônicos e bancários apresentados
são completos.
A oposição quer a quebra do sigilo de EJ e de pessoas próximas a
ele para analisar o universo dessa
movimentação, o que poderia ser
obtido no âmbito de uma CPI.
Ao enviar documentos ao Ministério Público, EJ foi seletivo. Os
números telefônicos relacionados
nos extratos bancários da companhia telefônica dizem respeito a
quatro linhas fixas e outras cinco
celulares, no período de 95 a 98.
No primeiro caso, os números
estão estabelecidos em um imóvel, localizado na superquadra 115
da Asa Sul, em Brasília, no qual EJ
não residia. Na época, ele ocupava
um imóvel funcional da Presidência, na superquadra 312. Quanto
aos dados bancários, há contas do
ex-secretário cujos dados não foram enviados aos procuradores.
Ficou de fora, por exemplo, uma
conta no Citibank, nos EUA.
Em outro ponto, ao descartar a
veracidade -mesmo que parcial- da documentação arrolada
no dossiê Caribe, o arrazoado do
governo mostra como providências, além de um inquérito policial sobre o caso, uma denúncia
do Ministério Público contra personagens que seriam os supostos
responsáveis pelo que o governo
considera uma fraude.
Desconsidera, no entanto, que
há pelo menos um documento
verdadeiro no dossiê: a empresa
CH, J & T -cuja propriedade é
atribuída a FHC, ao governador
Mário Covas, morto este ano, ao
ministro da Saúde, José Serra, e ao
ministro Sérgio Motta, morto em
1998- realmente foi aberta.
Ao listar providências tomadas,
o governo cita, em vários casos,
investigações conduzidas no âmbito do Ministério Público e
apoiadas em auditorias e fiscalizações do Tribunal de Contas da
União (TCU), insistindo na suficiência desses órgãos, bem como
da Polícia Federal e da Justiça.
Há exemplos históricos que
mostram que, muitas vezes, constatações de irregularidades pelo
corpo técnico TCU não sustam
obras e ações do governo.
Técnicos do TCU apontaram as
primeiras irregularidades na licitação para a construção do prédio
superfaturado do TRT de São
Paulo, mas a determinação do órgão foi dar continuidade à obra.
Também foi dito pelo governo
que uma ação judicial já investiga
envolvimento do empresário Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco
do Brasil, com irregularidades no
leilão da Telebrás. Mas a oposição
pretende investigar se, como disse
ACM, Ricardo Sérgio recebeu ou
não propina para beneficiar o
consórcio Telemar no negócio. A
ação judicial é anterior à declaração de ACM.
Quanto ao caráter genérico da
CPI, texto mais amplo do que esse, para investigar corrupção no
âmbito do governo, foi defendido
pelo próprio presidente, em janeiro de 1988: "Como líder da bancada do PMDB, manifesto meu
apoio a essa iniciativa. Parece-nos
indispensável que, em matéria de
tal relevância, tudo se esclareça".
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