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ELIO GASPARI
É melhor errar com FFHH do que acertar com George 2º Por conta da Alca, vem aí
uma grossa encrenca nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Este artigo destina-se a confundir a cabeça do leitor. Não pelo propósito de estabelecer a confusão, mas pelo
objetivo de tornar mais interessante a discussão. Começando
pelo começo:
Interessa ao Brasil o estabelecimento de uma zona de livre
comércio com os Estados Unidos? Pode ser que sim, pode ser
que não. Na terça-feira da semana passada, FFHH fez um
jantarzinho para meia dúzia
de empresários no Alvorada.
Apresentou-se como um defensor da Alca e teve o mau gosto
de se referir (de novo) à mania
do povo de agarrar os candidatos que vão aos bairros populares para pedir os votos da choldra. Teve o desprazer de ouvir
um dos maiores despautérios já
ditos naquela sala chinfrim.
Teve também a oportunidade
de saber que a Alca pode ser
um mau negócio para os prestadores de serviços de telefonia,
ainda que possa ser atraente
para os produtores de aço.
FFHH teria feito melhor se tivesse comido, sozinho, xepas de
geladeira.
Uma zona de livre comércio
entre o Brasil e os Estados Unidos pode tornar a indústria
brasileira mais competitiva.
Pode também aniquilá-la. Se
amanhã a Fiesp amanhecer
transformada num gigantesco
McDonald's, será mais fácil comer um Big Mac. Vai daí, danem-se os industriais que vivem do protecionismo. Seria
ótimo se fosse assim, mas essa
turma não se dana. Ela vende a
empresa para um americano,
põe o dinheiro em Nova York e
vai viver dos juros do dr. Alan
Greenspan, que podem ser pouco mas são seguros. Danam-se
os desempregados.
O encontro do FFHH com
George 2º, dito W. Bush, foi um
desastre. O charme francófilo
(ou de Princeton) de Cardoso é
idiossincrático para o outro, assim como a disposição texana
de Bush é marca de fundamentalismo para FFHH. (Em tempo: George 2º namorou a enteada do personagem que gerou
fantástico Jett Rink de James
Dean no filme "Assim Caminha a Humanidade".) Bush
quer a Alca para já, FFHH quer
calma. Bush, como os imperadores romanos, tem ao seu lado
uma poderosa economia. Tem
também uma equipe de negociadores capazes de triturar
seus equivalentes brasileiros
por competência, método e responsabilidade. Só nos Estados
Unidos dois negros como Colin
Powell e Condoleeza Rice chegam a secretário de Estado e assessora para segurança nacional da Casa Branca. No Brasil,
Powell talvez fosse um geólogo
medíocre da Petrobrax. Rice jamais teria entrado na Universidade de Stanford.
FFHH e a patuléia estão a pé.
Têm consigo o Hino Nacional,
o auriverde pendão da esperança e o chanceler Celso Lafer,
saindo da Casa Branca com a
capa de chuva jogada sobre os
ombros, como se estivesse entrando no cenário de Casablanca.
Bush quer atropelar FFHH e
o Brasil. Ele pode estar certo ou
pode estar errado. Um de seus
antecessores, Richard Nixon,
ensaboou a ditadura militar
dizendo ao general Médici que
"para onde for o Brasil irá o
resto da América Latina". Os
generais acreditaram nisso.
Pois veio o presidente Jimmy
Carter e armou incrível encrenca com as violações de direitos
humanos praticados pela mesma ditadura que Nixon besuntara. O andar de cima adorou a
frase de Nixon e perdeu a bússola com o atrevimento de Carter. Perderam o seu tempo.
Tanto Nixon quanto Carter defendiam o interesse nacional
americano. O engano esteve
nos brasileiros que acharam
possível o presidente dos Estados Unidos perder uma migalha do seu tempo defender o interesse nacional brasileiro.
Poucos presidentes descuraram do interesse de Pindorama
como FFHH. Orgulhou-se de
importar mais que China. Mesmo assim, ele é o presidente do
Brasil e George 2º é presidente
do Estados Unidos. Não se trata de nacionalismo, xenofobia
ou coisa de índio. É ele quem
deve defender os interesses nacionais e é em torno dele que se
devem unir todas as facções políticas brasileiras. Num regime
democrático, é melhor estar errado com o presidente do Brasil
do que certo com o presidente
dos Estados Unidos.
FFHH achou que podia seduzir Bush. Deu-se mal. Bush
achou que podia dar uma
prensa em FFHH. Deu-se mal.
Pode-se achar que a Alca é boa.
Pode-se também achar que é
um desastre. Em qualquer das
duas hipóteses, uma coisa é certa: não será o governo dos Estados Unidos quem dirá o que é
melhor para o Brasil, até porque se a ekipekonômica quiser
oferecer a Bush a anexação de
Pindorama, ele não a aceitará.
Os americanos levaram quase
cem anos para atender aos apelos da plutocracia havaiana
para que anexassem um arquipélago que, em última análise,
tinha alguma serventia militar
para os Estados Unidos.
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