São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA

Fracasso das negociações entre sem-terra e o governo mineiro faz polícia bloquear entradas da fazenda

PM aperta o cerco contra invasão em MG

MALU GASPAR
ENVIADA ESPECIAL A URUANA DE MINAS

A Polícia Militar apertou o cerco à área invadida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na fazenda Renascença, do embaixador brasileiro na Itália, Paulo Tarso Flecha de Lima, depois que fracassaram as tentativas de negociação dos enviados do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, à região.
Apesar das reivindicações dos sem-terra, o dia terminou sem que nenhum emissário do governo federal fosse ao local em que está o acampamento.
No início da noite, a PM mineira isolou o acesso à fazenda, 2 km antes da entrada. Quem saía do acampamento não podia voltar depois. Até os jornalistas foram impedidos de voltar para o local onde estavam os sem-terra.
Mesmo com o cerco, os acampados garantem ter provisões para mais de uma semana.
Uma outra providência da PM aumentou a tensão na área do acampamento e acirrou os ânimos dos sem-terra: policiais militares, que até então vigiavam de longe a área de cerca de um hectare em que os sem-terra estão alojados, foram distribuídos em posições estratégicas bem próximas das entradas do acampamento.
Os sem-terra, que mantêm observadores empoleirados nas árvores em volta do acampamento, calculam que os policiais estejam a uma distância de 30 metros. Os sem-terra cercaram o acampamento com lanças de bambu e se armaram para enfrentar um eventual conflito com a PM (leia texto nesta página).
A área invadida pelos sem-terra fica a pelo menos 150 m da cerca que limita a fazenda Renascença e a 22 km da sede principal da fazenda. A área total da fazenda do embaixador brasileiro na Itália é de 9.600 metros quadrados.
As negociações entre os enviados de Itamar, uma comissão de sem-terra, comandantes da PM e o diretor do Instituto de Terras do Estado, Marcelo Resende, fracassaram depois de três reuniões tensas, com gritos e acusações.
Os sem-terra impõem três condições para deixar a fazenda: a ampliação do crédito agrícola, o loteamento das terras já doadas pelo Incra e a implantação de assistência técnica aos assentados.
Falando em nome do governo de Minas e dizendo falar também em nome do Incra, Resende disse que Itamar se dispõe a defender os interesses dos sem-terra junto ao Incra, desde que os acampados saiam da fazenda.
O MST rejeitou a proposta depois de uma assembléia no acampamento. Os sem-terra disseram que Itamar estaria acreditando demais da disposição do Incra em negociar, que Resende não poderia falar pelo Incra e que estariam dispostos a sair da fazenda caso o instituto enviasse representante para negociar com os acampados. "Mas só saímos daqui com providências práticas tomadas. Não aguentamos mais promessas de datas", disse Gilmar de Oliveira, coordenador regional do MST .
Com o final malsucedido da última reunião, a PM reagiu e apertou o cerco. Por volta das 15h, um helicóptero da PM sobrevoava o acampamento a uma altura de, no máximo, 20 metros do chão.
Os policiais buscavam calcular a população do acampamento e verificar a posição das barracas. No cálculo dos sem-terra, são cerca de 600 acampados. O cálculo da polícia é de que estejam na fazenda renascença de 200 a 250 pessoas. Reservadamente, a PM garante ter condição de retirar os sem-terra dali, mas diz que não o faz por determinação de Itamar.
O comando da PM informou que esperava um desfecho para a invasão ainda ontem.



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