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QUESTÃO AGRÁRIA
Fracasso das negociações entre sem-terra e o governo mineiro faz polícia bloquear entradas da fazenda
PM aperta o cerco contra invasão em MG
MALU GASPAR
ENVIADA ESPECIAL A URUANA DE MINAS
A Polícia Militar apertou o cerco
à área invadida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) na fazenda Renascença, do embaixador brasileiro na
Itália, Paulo Tarso Flecha de Lima, depois que fracassaram as
tentativas de negociação dos enviados do governador de Minas
Gerais, Itamar Franco, à região.
Apesar das reivindicações dos
sem-terra, o dia terminou sem
que nenhum emissário do governo federal fosse ao local em que
está o acampamento.
No início da noite, a PM mineira
isolou o acesso à fazenda, 2 km
antes da entrada. Quem saía do
acampamento não podia voltar
depois. Até os jornalistas foram
impedidos de voltar para o local
onde estavam os sem-terra.
Mesmo com o cerco, os acampados garantem ter provisões para mais de uma semana.
Uma outra providência da PM
aumentou a tensão na área do
acampamento e acirrou os ânimos dos sem-terra: policiais militares, que até então vigiavam de
longe a área de cerca de um hectare em que os sem-terra estão alojados, foram distribuídos em posições estratégicas bem próximas
das entradas do acampamento.
Os sem-terra, que mantêm observadores empoleirados nas árvores em volta do acampamento,
calculam que os policiais estejam
a uma distância de 30 metros. Os
sem-terra cercaram o acampamento com lanças de bambu e se
armaram para enfrentar um
eventual conflito com a PM (leia
texto nesta página).
A área invadida pelos sem-terra
fica a pelo menos 150 m da cerca
que limita a fazenda Renascença e
a 22 km da sede principal da fazenda. A área total da fazenda do
embaixador brasileiro na Itália é
de 9.600 metros quadrados.
As negociações entre os enviados de Itamar, uma comissão de
sem-terra, comandantes da PM e
o diretor do Instituto de Terras do
Estado, Marcelo Resende, fracassaram depois de três reuniões tensas, com gritos e acusações.
Os sem-terra impõem três condições para deixar a fazenda: a
ampliação do crédito agrícola, o
loteamento das terras já doadas
pelo Incra e a implantação de assistência técnica aos assentados.
Falando em nome do governo
de Minas e dizendo falar também
em nome do Incra, Resende disse
que Itamar se dispõe a defender
os interesses dos sem-terra junto
ao Incra, desde que os acampados
saiam da fazenda.
O MST rejeitou a proposta depois de uma assembléia no acampamento. Os sem-terra disseram
que Itamar estaria acreditando
demais da disposição do Incra em
negociar, que Resende não poderia falar pelo Incra e que estariam
dispostos a sair da fazenda caso o
instituto enviasse representante
para negociar com os acampados.
"Mas só saímos daqui com providências práticas tomadas. Não
aguentamos mais promessas de
datas", disse Gilmar de Oliveira,
coordenador regional do MST .
Com o final malsucedido da última reunião, a PM reagiu e apertou o cerco. Por volta das 15h, um
helicóptero da PM sobrevoava o
acampamento a uma altura de, no
máximo, 20 metros do chão.
Os policiais buscavam calcular a
população do acampamento e verificar a posição das barracas. No
cálculo dos sem-terra, são cerca
de 600 acampados. O cálculo da
polícia é de que estejam na fazenda renascença de 200 a 250 pessoas. Reservadamente, a PM garante ter condição de retirar os
sem-terra dali, mas diz que não o
faz por determinação de Itamar.
O comando da PM informou
que esperava um desfecho para a
invasão ainda ontem.
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