São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2008

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Presidente reclama de vaias a tucana em evento do PAC

Lula defende governadora Yeda Crusius e diz que obras não podem ser transformar em uma "manifestação político-partidária"

CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve que repreender a platéia ontem, em Porto Alegre, durante cerimônia marcada por longas e constrangedoras vaias à governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) e ao prefeito da capital gaúcha, José Fogaça (PMDB). Yeda foi vaiada cinco vezes e ao longo de todo o seu discurso. Fogaça, três.
Os dois foram vaiados mesmo quando citados em discursos, como o da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Recrutada para falar antes de Lula, Yeda evocou a educação do povo de Porto Alegre e o respeito à diferença. Foi pior. "Não vou transformar esse ato em campanha eleitoral", disse, emocionada, tendo a voz encoberta pelas vaias.
Ao assumir o microfone, Lula acabou por reconhecer um tom eleitoral e reclamou. "Se a gente transformar o PAC numa manifestação político-partidária, quando é um ato institucional, terei muita dificuldade de completar as viagens", disse.
Segundo a estimativa da polícia, cerca de 5.000 pessoas -muitas delas com bandeiras do PT- assistiram à cerimônia. Após distribuir autógrafos em camisas, o presidente discursou por 32 minutos.
Deslizando sobre o palanque, arrancou um coro de "um, dois, três, Lula outra vez", ao negar que esteja em campanha.
"De vez em quando, alguém fala que estou em campanha. Não estou. Porque a campanha para presidente só é em 2010. E eu não posso ser candidato porque a Constituição determina apenas dois mandatos."

Críticos
À vontade para um público de petistas em Porto Alegre, Lula repetiu que os críticos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) são aqueles que usam a miséria para garantir poder. Segundo o presidente, "o país tinha se desacostumado a cuidar dos pobres", só levados em conta em dia da eleição. Ele reagiu ainda aos que chamam os programas de transferência de renda de esmola. "É esmola para quem pode dar R$ 75 em gorjetas para encher o caco de uísque", afirmou.
"Sou o único [dos presidentes] que não tem diploma universitário e vou fazer mais universidades e escolas técnicas do que todos os doutores que governaram este país. Sei que isso incomoda", repetiu.
Lula não deu nome aos críticos. Pouco antes, o ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmara em discurso que os "partidos adversários" tinham entrado com ações não só contra o PAC mas contra o Pronasci e o Bolsa Família. Segundo ele, esses programas desenvolvem "regiões sucateadas por políticas econômicas e por ausência de projetos em épocas passadas".

"Volta!"
Além das vaias a Yeda e Fogaça, a solenidade foi palco de aplausos para as deputadas Maria do Rosário (PT), Manuela D'Ávila (PC do B) e políticos do PT. Tarso Genro, por exemplo, foi saudado com um "volta!, volta!". Ele já foi prefeito de Porto Alegre.
Num recado aos aliados, Lula disse que estava "pisando em ovos" num palanque com três potenciais candidatos da base à prefeitura. Sugeriu que isso fosse levado em conta porque ele só poderá fazer campanha onde tiver apenas um aliado na disputa municipal.
"Minha relação com os partidos não é nas cidades. É lá em Brasília. Tenho que ter juízo", afirmou o presidente.
Não foi só Yeda que, ao discursar sob forte vaia, e com a voz embargada, fez menção ao calendário eleitoral. Fogaça também: "Estamos num ano eleitoral e as manifestações democráticas afloram", discursou. Mais vaias.


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