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DOMINGUEIRA
A luz do cinema e a luz do Aterro
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
``O que é isso, companheiro?!''
-foi o que pensei quando Luis
Fernando Guimarães, no filme
de Bruno Barreto, explica aos
clientes de um banco, do alto
de um balcão, que o assalto em
curso é uma ``expropriação''.
Resignei-me à espera do pior,
sem saber direito se era para
rir ou levar a sério.
Mas, surpreendentemente, as
coisas foram melhorando e o
filme terminou inteiro, de pé.
Se Barreto e Leopoldo Serran,
autor do roteiro, não foram
fiéis aos detalhes factuais da
história, fizeram, certamente,
um filme com qualidades -e é
disso, principalmente, que se
trata.
Evidentemente, os militantes
da época gostariam de maior
precisão histórica e de um ponto vista mais empenhado.
A esquerda gosta da redundância, da missa para convertido, da reverberação especular
de sua identidade.
Dizer, porém, que o filme é
simpático com a ditadura e os
torturadores é um exagero.
Alguém poderia, perfeitamente, nessa linha de cobrança, desejar que Barreto fosse
mais crítico em relação à guerrilha. Foi uma estratégia acertada? O que fariam os companheiros se chegassem ao poder?
Quem seria sumariamente fuzilado? Barreto poderia fazer
esse filme ou seria vetado pela
Censura revolucionária?
Bem, hoje, o espólio do MR-8
apóia Quércia -um final que
nem a mais sórdida ficção seria
capaz de engendrar.
O filme peca, evidentemente,
na apresentação superficial do
grupo que articula o sequestro
e na contextualização do aparecimento das organizações armadas. Isso contribui para a
aparência caricata, de ``brincadeira'', que tudo tem no início
-reforçada por um ``casting''
marcado pela comédia.
Barreto foi asséptico na tortura e procurou, no geral, ser
mais ``politicamente correto''
do que precisava. Mas isso não
lhe retira o mérito: fez um filme que prende o espectador na
poltrona, que emociona e que
promete levar público aos cinemas para visitar, com serenidade, um período da história
cuja dimensão humana é frequentemente velada pelo sectarismo dos envolvidos.
O Rio está belíssimo no filme
de Barreto. Foi nos anos 60 que
a cidade viu nascer o Parque
do Flamengo, o conhecido
Aterro, uma das áreas urbanas
mais bonitas do mundo.
Digo isso para reforçar a insatisfação que já se manifestou
na cidade em relação a um
projeto inútil e suspeito: mudar
o sistema de iluminação do
parque -por sinal, tombado.
A idéia é defendida pelo arquiteto Paulo Casé, o mesmo
que concebeu aquela coisa na
divisa de Ipanema e Leblon.
Casé diz que os postes alteram a ``antiga escala'' da paisagem. Uma pessoa que fez o
que ele fez não deveria falar
em escala.
Dona Lota de Macedo Soares,
a grande entusiasta do parque,
deve estar furiosa no céu. O
projeto, idealizado para mimetizar a luz do luar, foi realizado pelo norte-americano Richard Kelly, o maior luminotécnico da época.
Por que a Prefeitura do Rio
gosta tanto de trocar postes?
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