São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997.

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RUMO A 98
A 17 meses do pleito, presidente quer definição sobre uso da máquina e construir palanque único nos Estados
FHC já planeja a campanha da reeleição

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel


A 17 meses da sucessão presidencial, Fernando Henrique Cardoso já articula soluções para dois problemas que podem atrapalhar sua reeleição: 1) quer construir um palanque único nos Estados e 2) delinear à sua maneira os limites da lei eleitoral de 98 ao uso da máquina.
Apesar de vir tratando da estratégia da reeleição reservadamente com tucanos mais próximos, a preocupação imediata de FHC com a campanha de 98 veio a público depois da reunião com nove governadores do PMDB na terça passada.
FHC falou abertamente em ``palanque único'' entre PSDB, PFL e PMDB nos Estados em que isso for possível e em estabelecer um critério de convivência onde houver mais de um candidato o apoiando.
Uma das linhas da campanha será a de tentar preservar ao máximo a imagem presidencial. FHC deverá permanecer em Brasília a maior parte do tempo, enfatizando que a campanha não o tirará dos afazeres de governo. ``Será uma campanha basicamente de mídia'', diz um dos futuros coordenadores da campanha de FHC em 98.
Como crêem que haverá poucos ou quase nenhum candidato tão forte como FHC, alguns tucanos falam que a ``imprensa será o adversário em 98''. Daí, a preocupação com o uso da máquina.
Estrategistas de comunicação do Planalto avaliam que a eleição presidencial será monótona em comparação com os pleitos estaduais, onde deverão ocorrer as campanhas mais acirradas.
Partindo desse pressuposto, esses estrategistas temem que a fiscalização ao uso da máquina se tornará a principal obsessão da mídia na sucessão presidencial.
Um situação hipotética frequentemente citada pelos estrategistas é a seguinte: O presidente vai ao Rio se reunir com Carlos Menem para falar de Mercosul. Na entrevista coletiva, um jornalista pergunta o que FHC acha de Itamar dizer que é o pai do Plano Real. FHC responde. ``E, aí, a imprensa vai querer saber quem vai pagar o querosene do Sucatão (o avião presidencial)'', afirma um auxiliar.
O primeiro semestre de 98 deve ser marcado por viagens de FHC aos Estados. ``Sempre evitando subir em palanques e realizando eventos que tenham relação com o `Brasil em Ação' (programa de obras do governo federal)'', diz um tucano.
Nos meses de agosto e setembro, quando começar a campanha de TV e rádio, o presidente deverá ficar a maior parte do tempo em Brasília. Nesse período, tentará viver uma espécie de quarentena -evitando ao máximo exposição ao lado de candidatos estaduais.
Guerras regionais
Estrategistas da reeleição listaram dez Estados nos quais recomendam o mínimo possível de presença presidencial: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Ceará, Pará, Paraná e, curiosamente, São Paulo.
No encontro com os governadores peemedebistas, o presidente citou o Rio como o exemplo mais bem acabado do problemas que pode enfrentar em 98. Terá dois candidatos fortes e que se odeiam o apoiando, Marcello Alencar (PSDB) e Cesar Maia (PFL).
No PMDB, um dos casos mais complicados é o do governador Garibaldi Alves (RN), que enfrenta oposição feroz do grupo político de José Agripino Maia (PFL).
Em São Paulo, segundo um cacique tucano, FHC terá que administrar o apoio ao governador Mário Covas (PSDB), os acenos de armistício de Paulo Maluf (PPB) e a intenção de Romeu Tuma (PFL) de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes.
O presidente cobrou ainda dos governadores uma definição mais rápida do PMDB em apoio à sua candidatura. A leitura no partido foi a de que ele quer fechar rapidamente a porta da legenda para Itamar Franco.
Anteontem, em encontro com o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), FHC falou que quer uma coalizão com o PMDB e disse que o ideal era apressar essa definição.
Pedra no caminho
A escolha de Carlos Apolinário (PMDB-SP) para relator da lei eleitoral de 98, onde serão estabelecidas as regras da campanha, não agradou ao Planalto, que o considera muito preocupado com os holofotes da mídia.
Como é a primeira vez que um presidente será candidato à própria sucessão, o Planalto gostaria de ter um relator que pudesse ser mais facilmente tutelado.
``Apolinário falará em dificuldades para os príncipes (os ministros) para vender facilidades ao rei (o presidente)'', diz um tucano.
Na reunião com os peemedebistas FHC manifestou surpresa com a escolha de Apolinário. E pediu aos governadores que também se empenhem para que a legislação eleitoral sobre o uso da máquina fique bem clara.
O time
O ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, já decidiu que não será candidato a deputado federal para coordenar novamente o programa de governo de FHC.
O ministro Sérgio Motta (Comunicações) é outro que ficará de fora do teste das urnas para ser um dos coordenadores da reeleição.
A parte de marketing e o programa de TV de FHC deverão ficar com o mesmo grupo de agências de publicidade da campanha passada, que será capitaneado pela DM-9 Institucional de Geraldo Walter e Nizan Guanaes.

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