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JANIO DE FREITAS
Paiol aberto
Antes de mais nada, foi
uma grossa falta de educação. Não esperaram nem a passagem de um dia para o outro.
Foi só o general-comandante do
Exército dar a tranqüilizadora
informação de que as Forças Armadas adotam "sempre os critérios mais rígidos possíveis" na
guarda de suas armas, e em horas uns marginais desrespeitosos entraram no Depósito de Armas da Aeronáutica no Rio, fizeram uma limpa e ainda foram embora em transporte da
casa. Como diria Paulo Maluf,
rouba mas não tripudia.
Apenas horas depois, vai a polícia à caça de um bandido em
favela suburbana, não o encontra mas, para não não perder a
viagem, encontra um depósito
de armas. Depósito paisano, armas e munições militares. Até
bazucas.
Logo na primeira apreensão
de arma no episódio da Rocinha, lá veio um fuzil com o emblema da FAB. As minas descobertas (além de granadas e vasta munição) em um depósito
bandido foram identificadas pelo fabricante como de um lote
vendido à Aeronáutica.
Mesmo que não houvesse
muitos outros precedentes, só esses casos atuais já negariam que
"a quantidade de armas desviadas das Forças Armadas é muito menor do que se imagina",
como disse o general Francisco
Albuquerque, horas antes do
roubo no depósito da Aeronáutica. Não sei quanto o comandante do Exército imagina que
nós imaginamos, mas não são
necessárias novas demonstrações para saber-se que o desvio
de armas e munições das Forças
Armadas para a criminalidade
é um problema gravíssimo no
sentido e na dimensão.
O simples fato de que ocorra
algum desvio já é uma aberração. Nada pode explicar que o
controle dos depósitos, paióis e
demais setores com armas militares não ofereça segurança e
controle absolutos. Não há dificuldade alguma para isso. Há
pessoal em quantidade, muito
tempo disponível e meios materiais. O que falta, portanto, não
deixa bem as Forças Armadas.
Os bandidos não esperam pelo
noticiário para saber, como
acontece conosco, que entre eles
e as armas do Depósito da Aeronáutica haveria apenas cinco
pessoas. E que, uma vez no Depósito, armas e munições seriam facilmente acessíveis. Em
outros roubos, a operação pode
ser diferente, mas a facilidade,
por certo, é a mesma: fuzis AK e
bazucas, para não falar armas
maiores, não cabem em bolsas
nem sob a roupa. Desviá-las depende de controle e guarda precários. E, no entanto, são armas
que a polícia apreende freqüentemente, com sinais que não
deixam dúvida sobre sua procedência.
Já é tempo de que o corporativismo militar deixe de reagir
mal e escamotear suas falhas,
quando evidenciadas. O direito
de indignar-se, no caso, é da população, que se torna vítima das
armas que saem dos quartéis
para os bandidos. São muitas. E
já fizeram muitas vítimas. Vá lá
que as Forças Armadas comprem porta-aviões e esquadrilhas, mas desde que comprem
também alguns cadeados. E os
usem.
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