São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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CASO CC5

Recursos de conta do ex-prefeito na Suíça foram para Liechtenstein

Papéis revelam trajetória do dinheiro de Pitta na Europa

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A CPI do Banestado no Congresso Nacional recebeu na semana passada novos documentos que demonstram que recursos de uma conta aberta pelo ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) na Suíça, e que haviam sido transferidos para Guernsey, paraíso fiscal do canal da Mancha, foram repassados para um banco em Vaduz, capital do Principado de Liechtenstein, país de 160 quilômetros quadrados situado entre a Áustria e a Suíça.
Os novos documentos foram obtidos pelo procurador da República Pedro Barbosa e pelos promotores Sérgio Turra Sobrane e Sílvio Marques depois de um pedido feito às autoridades de Guernsey, em fevereiro deste ano, para que informassem se os recursos depositados na ilha, cujo beneficiário seria Celso Pitta, ainda estavam disponíveis.
No final de março, as autoridades de Guernsey encaminharam papéis ao trio que, na semana passada, enviou-os aos membros da CPI. Os documentos foram entregues no mesmo dia em que o ex-prefeito paulistano compareceu à CPI para depor, mas não o fez.
Os parlamentares que integram a comissão resolveram dispensá-lo porque Pitta apresentou duas liminares -uma lhe dava o direito de não assinar nenhum documento no qual se comprometesse a falar a verdade e a outra determinava que as declarações do ex-prefeito deveriam ser feitas em uma sessão reservada, o que foi entendido pelos membros da CPI como uma afronta ao Legislativo.
Pitta volta hoje ao Congresso para depor à CPI. A Justiça manteve as liminares. O advogado dele, Celso Vilardi, não quis dizer se permanecerá em silêncio.

Itinerário
Os documentos, aos quais a Folha teve acesso, demonstram que em março de 1999 foram transferidos US$ 930 mil da conta Cutty International Limited, no Multi Commercial Bank de Zurique, na Suíça, para o Bank of Butterfield, em Guernsey. A Cutty tem como responsáveis Celso Pitta e Nicéa Camargo, como atesta o procedimento de abertura nš 40.248. A Suíça não é um paraíso fiscal desde o fim da década de 90, quando o país tornou mais rígidas as regras para a abertura de contas.
Os recursos permaneceram até 23 de junho de 1999 no Bank of Butterfield, cuja conta tinha o nome de N. V. Trustmaatschappij Interamericana. Nessa data, houve outra transferência, dessa vez para o Neuebank, em Vaduz, no Principado de Liechtenstein.
De acordo com extratos da conta nš 40.248, a Cutty fez quatro transferências importantes entre dezembro de 1998 e março de 1999, que alcançam US$ 1 milhão.
A primeira movimentação, de dezembro de 1998, aconteceu cerca de 20 dias depois de estourar em São Paulo o escândalo da "máfia dos fiscais" (esquema de cobrança de propina envolvendo secretários municipais, vereadores e agentes públicos).
O Ministério Público acusa Pitta de manter as contas no exterior à custa de dinheiro de superfaturamento de obras públicas. Não há, até o momento, nenhuma condenação no Brasil contra o ex-prefeito por causa de desvio de recursos de obras. Pitta sempre negou qualquer irregularidade.


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