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MENSALÃO/ HORA DA IMPUNIDADE
Faltaram 29 votos para cassar Josias Gomes (PT); Conselho de Ética recomenda, por 8 votos a 5, que Vadão Gomes (PP) seja inocentado
Câmara livra o 10º acusado de vínculo com o mensalão
RANIER BRAGON
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em duas decisões praticamente
simultâneas, o plenário da Câmara dos Deputados e o Conselho de
Ética da Casa inocentaram ontem
mais dois parlamentares acusados de envolvimento no escândalo do mensalão: Josias Gomes
(PT-BA) e Vadão Gomes (PP-SP).
Com isso, já são dez os absolvidos
entre os 19 deputados suspeitos
de envolvimento no esquema.
Josias Gomes (PT-BA), o último
dos sete petistas a enfrentar um
processo de cassação, conseguiu
salvar seu mandato no plenário,
revertendo decisão do Conselho
de Ética. Foram 228 votos pela
cassação, 29 a menos que o mínimo necessário, que era 257. Outros 190 deputados optaram pela
absolvição. Houve ainda 19 abstenções, 5 cédulas em branco e 1
voto nulo no escrutínio, que foi
secreto -total de 443.
As CPIs dos Correios e do Mensalão acusaram 19 deputados,
sendo sete petistas, de participação no esquema -ele consistiria
no desvio de verbas públicas para
que empresas do empresário
Marcos Valério as distribuísse a
partidos e aliados ao governo.
Apenas três dos listados foram
cassados: Roberto Jefferson
(PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e
Pedro Corrêa (PP-PE). Outros
quatro renunciaram ao mandato
para não enfrentar processos.
Vadão Gomes (PP-SP) foi absolvido no Conselho de Ética, que
derrubou por 8 votos a 5 o relatório de cassação elaborado por
Moroni Torgan (PFL-CE). Essa
decisão ainda tem que ser referendada pelo plenário da Câmara.
Além de Vadão, resta pendente
apenas o julgamento de José Janene (PP-PR), que recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a
decisão da Câmara de negar-lhe
aposentadoria por invalidez.
Josias Gomes
Josias é acusado de ser beneficiário de R$ 100 mil das empresas
de Valério. Em um primeiro momento, ele negou ter recebido o
dinheiro (afirmou que foi ao banco onde fez parte do saque para se
informar sobre condições de um
empréstimo), mas depois confirmou ter recebido o montante.
Em sua defesa, disse que não sabia que o dinheiro se originava do
suposto esquema. Segundo o deputado, obteve o recurso -que
teria sido usado para quitar dívidas de campanha de petistas na
Bahia- por intermédio do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
"Refuto as acusações que me
são impostas; não sou corrupto,
jamais o serei. Sei que não há provas para que haja a cassação do
meu mandato", disse Josias no
discurso antes da votação. Afirmando viver um "calvário", o deputado foi aplaudido apenas por
poucos colegas do PT, entre eles
os quatro também acusados de
envolvimento com o mensalão
que foram absolvidos pelo plenário -João Magno (MG), José
Mentor (SP), João Paulo Cunha
(SP) e Professor Luizinho (SP).
"Foi feita justiça. Há uma idéia
de que a opinião da imprensa é a
mesma da população. Só digo isso: opinião da imprensa é uma, da
sociedade é outra", disse Josias
após o resultado.
O relator do caso, Mendes Thame (PSDB-SP), defendeu a cassação reafirmando ter convicção de
que o petista "recebeu importância de maneira irregular e sem
procedência legítima" "É fato. Recebeu valores provenientes do
"valerioduto.'"
Vadão Gomes
Na primeira votação referente
ao escândalo do mensalão após a
reformulação do conselho, Vadão
foi absolvido baseado na avaliação de que faltaram provas de que
ele foi o destinatário de R$ 3,7 milhões do "valerioduto" em 2004.
"A batalha está apenas começando, mas se comprovou aqui
que não há provas", disse Vadão,
que reclamou de ameaças de seqüestro após o relator escrever
que suas empresas lucram R$ 75
milhões por mês. O valor refere-se ao faturamento.
A nova formação do Conselho
de Ética foi decisiva no resultado.
O órgão trocou cinco dos seus integrantes titulares, que renunciaram em protesto às absolvições
em plenário. Com isso, o PT, que
antes tinha apenas um voto, passou a ter três.
Ontem, votou em peso a favor
de Vadão. O PFL também contribuiu dando dois dos três votos
que possui a favor do pepista -o
terceiro era o relator.
Anões do Orçamento
A tendência da Câmara de Deputados de livrar de punição seus
integrantes acusados de corrupção cresceu com o escândalo do
mensalão em relação a crise semelhante ocorrida doze anos
atrás: a desmontagem da quadrilha acusada de desviar verbas do
Orçamento da União.
Em 1994, a CPI do Orçamento
sugeriu a cassação de 18 parlamentares. Desses, oito foram absolvidos (contra dez no atual escândalo, com tendência de chegar
a pelo menos 11), seis tiveram
mandato cassado (contra três hoje, com possibilidade de chegar a
quatro ou, pouco provável, a cinco) e quatro renunciaram para escapar do processo (mesmo número da crise atual).
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