São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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MENSALÃO/ HORA DA IMPUNIDADE

Faltaram 29 votos para cassar Josias Gomes (PT); Conselho de Ética recomenda, por 8 votos a 5, que Vadão Gomes (PP) seja inocentado

Câmara livra o 10º acusado de vínculo com o mensalão

RANIER BRAGON
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em duas decisões praticamente simultâneas, o plenário da Câmara dos Deputados e o Conselho de Ética da Casa inocentaram ontem mais dois parlamentares acusados de envolvimento no escândalo do mensalão: Josias Gomes (PT-BA) e Vadão Gomes (PP-SP). Com isso, já são dez os absolvidos entre os 19 deputados suspeitos de envolvimento no esquema.
Josias Gomes (PT-BA), o último dos sete petistas a enfrentar um processo de cassação, conseguiu salvar seu mandato no plenário, revertendo decisão do Conselho de Ética. Foram 228 votos pela cassação, 29 a menos que o mínimo necessário, que era 257. Outros 190 deputados optaram pela absolvição. Houve ainda 19 abstenções, 5 cédulas em branco e 1 voto nulo no escrutínio, que foi secreto -total de 443.
As CPIs dos Correios e do Mensalão acusaram 19 deputados, sendo sete petistas, de participação no esquema -ele consistiria no desvio de verbas públicas para que empresas do empresário Marcos Valério as distribuísse a partidos e aliados ao governo.
Apenas três dos listados foram cassados: Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE). Outros quatro renunciaram ao mandato para não enfrentar processos.
Vadão Gomes (PP-SP) foi absolvido no Conselho de Ética, que derrubou por 8 votos a 5 o relatório de cassação elaborado por Moroni Torgan (PFL-CE). Essa decisão ainda tem que ser referendada pelo plenário da Câmara.
Além de Vadão, resta pendente apenas o julgamento de José Janene (PP-PR), que recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão da Câmara de negar-lhe aposentadoria por invalidez.

Josias Gomes
Josias é acusado de ser beneficiário de R$ 100 mil das empresas de Valério. Em um primeiro momento, ele negou ter recebido o dinheiro (afirmou que foi ao banco onde fez parte do saque para se informar sobre condições de um empréstimo), mas depois confirmou ter recebido o montante.
Em sua defesa, disse que não sabia que o dinheiro se originava do suposto esquema. Segundo o deputado, obteve o recurso -que teria sido usado para quitar dívidas de campanha de petistas na Bahia- por intermédio do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
"Refuto as acusações que me são impostas; não sou corrupto, jamais o serei. Sei que não há provas para que haja a cassação do meu mandato", disse Josias no discurso antes da votação. Afirmando viver um "calvário", o deputado foi aplaudido apenas por poucos colegas do PT, entre eles os quatro também acusados de envolvimento com o mensalão que foram absolvidos pelo plenário -João Magno (MG), José Mentor (SP), João Paulo Cunha (SP) e Professor Luizinho (SP).
"Foi feita justiça. Há uma idéia de que a opinião da imprensa é a mesma da população. Só digo isso: opinião da imprensa é uma, da sociedade é outra", disse Josias após o resultado.
O relator do caso, Mendes Thame (PSDB-SP), defendeu a cassação reafirmando ter convicção de que o petista "recebeu importância de maneira irregular e sem procedência legítima" "É fato. Recebeu valores provenientes do "valerioduto.'"

Vadão Gomes
Na primeira votação referente ao escândalo do mensalão após a reformulação do conselho, Vadão foi absolvido baseado na avaliação de que faltaram provas de que ele foi o destinatário de R$ 3,7 milhões do "valerioduto" em 2004.
"A batalha está apenas começando, mas se comprovou aqui que não há provas", disse Vadão, que reclamou de ameaças de seqüestro após o relator escrever que suas empresas lucram R$ 75 milhões por mês. O valor refere-se ao faturamento.
A nova formação do Conselho de Ética foi decisiva no resultado. O órgão trocou cinco dos seus integrantes titulares, que renunciaram em protesto às absolvições em plenário. Com isso, o PT, que antes tinha apenas um voto, passou a ter três.
Ontem, votou em peso a favor de Vadão. O PFL também contribuiu dando dois dos três votos que possui a favor do pepista -o terceiro era o relator.

Anões do Orçamento
A tendência da Câmara de Deputados de livrar de punição seus integrantes acusados de corrupção cresceu com o escândalo do mensalão em relação a crise semelhante ocorrida doze anos atrás: a desmontagem da quadrilha acusada de desviar verbas do Orçamento da União.
Em 1994, a CPI do Orçamento sugeriu a cassação de 18 parlamentares. Desses, oito foram absolvidos (contra dez no atual escândalo, com tendência de chegar a pelo menos 11), seis tiveram mandato cassado (contra três hoje, com possibilidade de chegar a quatro ou, pouco provável, a cinco) e quatro renunciaram para escapar do processo (mesmo número da crise atual).


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