São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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Governo tira peso da Infraero em CPI

Presidente eleito diz que contratos só serão apurados se houver ligação direta com sistema de tráfego aéreo

PMDB fica no comando de comissão e petista com a relatoria; PSDB tentará convocar Waldir Pires para depor nas primeiras sessões


FÁBIO ZANINI
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira e tumultuada sessão da CPI do Apagão Aéreo, o governo deixou claro que terá controle absoluto sobre a investigação, ao eleger o presidente e o relator da comissão, e que o tema preferido da oposição, a Infraero, só será tratado de forma lateral.
O governo conseguiu eleger com facilidade o presidente, Marcelo Castro (PMDB-PI), e assegurou o posto de relator a Marco Maia (PT-RS). A Folha apurou que houve acordo entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB para definir os nomes de integrantes da CPI.
O Palácio do Planalto reagiu positivamente à indicação de Castro. Nome da confiança do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ele deverá atuar em sintonia com o governo. Em contrapartida, Lula prometeu examinar com simpatia os pleitos do PMDB para os cargos de segundo escalão.

Infraero X tráfego aéreo
Até o ano passado, a Infraero (estatal que administra os aeroportos), investigada pela Justiça, Ministério Público e Tribunal de Contas da União, era presidida pelo agora deputado federal Carlos Wilson (PT-PE), amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Castro disse que contratos da Infraero só serão apurados se houver relação direta com o sistema de controle de tráfego aéreo.
"Se o contrato superfaturado tiver relação com o sistema de controle de vôo, isso [a investigação] vai surgir naturalmente. Se for um banheiro que foi superfaturado, não tem relação com o controle de vôo. Não sei se deveria ser investigado por uma CPI que tem a finalidade de examinar o tráfego aéreo brasileiro", disse Castro.
A idéia da base é começar a CPI em marcha lenta, usando as primeiras sessões para que os deputados "entendam" como funciona o espaço aéreo.
Uma das iniciativas anunciadas pelo relator foi convocar todos os ex-presidentes da Infraero -inclusive os do governo FHC - para que eles expliquem, em linhas gerais, como funciona a empresa e quais são suas atribuições.
O governo sabe que não poderá simplesmente fechar os olhos para as denúncias sobre a Infraero, mas quer manter o tema sob seu estrito controle.
Maia repetiu na sessão três vezes que não haverá tema proibido. "É óbvio que vamos tratar de todos os temas. Não nos furtaremos a discutir nenhum". Porém, depois relativizou essa promessa, dizendo que não deixará a comissão se tornar uma nova "CPI do Fim do Mundo", como ficou conhecida a CPI dos Bingos. "Aqui não é casa de torturas", disse, prometendo o fim dos depoimentos longos e tumultuados.
A próxima sessão será na terça-feira. A investigação deverá começar pelo acidente com o avião da Gol, que deixou 154 mortos, no ano passado.
A oposição promete transformar a próxima sessão numa batalha. Ontem, Gustavo Fruet (PSDB-PR), principal nome da oposição, já apresentou um roteiro de trabalho que prevê, logo no início, a convocação do ministro da Defesa, Waldir Pires, e dos chefes da Infraero, Anac e Aeronáutica.
O clima foi quente durante toda a sessão. A oposição lançou um candidato de protesto a presidente, Vanderlei Macris (PSDB-SP). Ele teve 8 votos, contra 16 para Castro. Houve bate-boca generalizado.
Enquanto a CPI era instalada, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) estava no gabinete do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ele negou que tenha falado da CPI.


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