São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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ELIO GASPARI

O BNDES caiu na banda podre do noticiário


A vassoura da Telemar levou para baixo da saia da Viúva a contabilidade da Brasil Telecom

O PROFESSOR Luciano Coutinho precisa tomar cuidado. As artes de Asmodeu fizeram com que, durante sua presidência, o BNDES passasse a freqüentar a banda podre do noticiário econômico com uma regularidade inédita nos últimos 30 anos.
A Polícia Federal deteve um conselheiro do banco e associou três empréstimos aos interesses de um afilhado da Força Sindical. Coisa de R$ 520 milhões e comissões de R$ 10 milhões. Noutro nível, o banco cacifou com R$ 2,6 bilhões a fusão da Oi com a Brasil Telecom. Fez isso sem que o contubérnio esteja amparado pelas normas reguladoras da República. Noutro negócio, criou uma nova modalidade de crédito e deu à Vale um cheque especial de até R$ 7,3 bilhões. Até aí tudo bem, mas logo depois da liberação do ervanário, o secretário-executivo do BNDES foi trabalhar na Vale.
Salvo o episódio policial, todos os outros fatos ocorreram com o conhecimento e o beneplácito do professor Coutinho. Pode-se argumentar que nos financiamentos da Vale e dos marqueses da Oi/Telemar houve um interesse estratégico do governo em fortalecer as empresas. Seria a tal "política industrial".
O presidente do BNDES haverá de reconhecer que sua maior colaboração para a história da indústria nacional está associada a um dos maiores desastres impostos à patuléia por burocratas megalomaníacos: a criação da reserva de mercado para produção e comercialização de computadores. Tem gente que já esqueceu, mas houve época em que era mais fácil entrar no Brasil com um pacote de maconha do que com um PC. Quem quisesse trazer um disco de 40 MB precisava recorrer a poderosos amigos.
Todos os governos dizem que usam o velho e bom BNDES da melhor forma possível. O tucanato achou razoável lotear o Conselho de Administração do banco com guildas de patrões e empregados. Deu no que deu e dará em muito mais. No episódio do apadrinhamento da fusão das teles, a vassoura de conexões da Oi/Telemar levou para baixo da saia da Viúva a contabilidade presente e pregressa da Brasil Telecom. A manobra pretende criar uma empresa de telecomunicações poderosa, nacional e companheira. Por enquanto, deu alegria aos interessados.
O professor Coutinho faria bem se baixasse a bola da cobiça do Planalto sobre as arcas do BNDES e fizesse valer a regra de ouro do corpo técnico da casa. Ela funciona assim:
Quem seleciona não analisa.
Quem analisa não aprova.
Quem aprova não contrata.
Quem contrata não libera.

GUIMARÃES ROSA CRIARIA O RAPAGUAY

Se o Paraguai reabrir a discussão em torno da linha de seus limites com o Brasil, é possível que reapareçam alguns documentos escritos por Guimarães Rosa como chefe de Divisão de Fronteiras do Itamaraty. Ele ocupou esse cargo de 1962 até sua morte, em 1967, e sobre a mesa do embaixador caíram dois litígios de fronteiras. Um com a Venezuela, em torno do Pico da Neblina. Outro no rio Paraná, na área dos saltos de Sete Quedas. Rosa reclamava da quantidade de serviço, pois aceitara o lugar supondo não ter muito para fazer, pois o Barão do Rio Branco já teria resolvido todas as encrencas territoriais do Brasil.
Guimarães Rosa era capaz de explicar pacientemente a pretensão paraguaia, desenhando com lápis de cor o mapa da região. Concluía sua aula mostrando a causa do litígio e rabiscava a provável localização de uma hidrelétrica no ponto exato em que, quase dez anos depois, começou a obra de Itaipu.
Quando um curioso perguntou como acabaria a controvérsia, ele explicou que não sabia, mas tinha uma proposta literária de partilha do Paraguai: "A Argentina fica com o sul, a Bolívia com o norte e o Brasil com o leste. No miolo, proclama-se La Republica Soberana y Independiente de Rapaguay".

LULA 3º
Em janeiro do ano passado, o professor Leôncio Martins Rodrigues introduziu a expressão "terceiro mandato" no vocabulário político nacional. Por mais que se quisesse, o assunto não saiu da pauta. Leôncio continua acreditando que um conjunto de fatores poderá levar Nosso Guia a aceitar uma nova candidatura. Tudo dependerá da popularidade do governo, da situação da economia e da capacidade de mobilização dos interessados e dos adversários da idéia.
Olhando o cenário de hoje, Leôncio Martins Rodrigues tem a impressão de que aumentaram as chances de se chegar a um Lula 3º. Numa escala de um a dez, elas estariam em sete. É impressão, não é previsão.

MADAME NATASHA
Madame Natasha é uma combatente na defesa do idioma e decidiu conceder uma de suas bolsas de estudo ao doutor Salvador Raza, diretor do Centro de Tecnologia, Relações Industriais e Segurança. Ele fez uma palestra com o seguinte tema: "Contextualização de trajetórias de eventos internacionais sob diversas vertentes que condicionam as possibilidades do presente e instruem expectativas futuras de segurança e de estratégias de ações públicas e privadas para sua consecução". Natasha acredita que ele quis dizer o seguinte: "O que vai pelo mundo".

RISCO MEIRELLES
Na quarta-feira, a nação petista comemorou a elevação do crédito do Brasil ao grau de investimento seguro pela agência Standard & Poor's. Na manhã seguinte veio a vertigem: se tivessem conseguido derrubar Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, a progressão teria ido para a geladeira, ou para o vinagre.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota. Quando não tem o que fazer, passa os dias no Congresso, pois é um dos poucos lugares que oferece ar refrigerado grátis, sem que o cidadão seja obrigado a se identificar ou consumir alguma coisa.
O que o idiota não entende é porque o doutor Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara, aborreceu-se quando soube que a Polícia Federal acompanhou pelos corredores da Casa os passos de um cidadão metido em traficâncias. Viu na iniciativa "um acinte, uma afronta". Eremildo acha que, se ele, um cretino, não precisa se identificar, a polícia também não. Do jeito que o doutor Chinaglia quer, a Câmara dos Deputados será o único espaço do território nacional que, formalmente, impõe condições ao trabalho da polícia.
Não custa lembrar que em 1993 uma funcionária da liderança do PTB agenciava tramitações noturnas e horizontais por US$ 100. Quando o caso foi denunciado, houve deputados que reclamaram da acintosa divulgação dada ao serviço.

A HORA DA VIÚVA
Diante do aperto dos americanos orçamentariamente irresponsáveis, tramita com sucesso em Washington um refresco de US$ 300 bilhões para aliviar quem não tem como pagar os imóveis que comprou. Estima-se que haja 1,5 milhão de famílias nessa fila.
Para que se tenha uma idéia do tamanho do ervanário colocado à disposição dos caloteiros americanos, o Plano Marshal, com o qual os Estados Unidos estimularam a recuperação da Europa depois da Segunda Guerra Mundial, custou 210 bilhões em dinheiro de hoje.


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